CAPÍTULO 23
“COMEI DE TUDO QUANTO SE VENDE NO AÇOUGUE”
Há pessoas tão endurecidas que não têm
sequer consciência dos seus erros; outras são tão
sensíveis que a cada momento estão se policiando
e choram com o pensamento de que podem ou tenham cometido algum
pecado.
Textos acessórios: I Cor. 8:9; 10:28 e 29; 8:7, 10-13.
“Os princípios dietéticos de Levítico 11,
juntamente com outros regulamentos sanitários e de saúde,
foram planejados por um sábio Criador, a fim de promover
saúde e longevidade. Baseados como são na natureza
e nas necessidades do corpo humano, tais princípios de
modo algum poderiam ser afetados pela cruz ou pelo desaparecimento
de Israel como nação. Princípios que contribuíram
para a saúde 3.500 anos atrás, produzirão
os mesmos resultados hoje.” – The Sevent-Day Bible Commentary,
Vol. 1, pág. 757.
Antes do dilúvio, a média de vida foi de 900 anos,
e após o dilúvio não superou os 200. Terá
sido influência do regime alimentar?
• Comida dos homens antes do dilúvio:
Cereais, legumes, frutas e nozes (Gên. 1:29).
• Comida dos animais antes do dilúvio:
Ervas verdes (Gên. 1:30).
ANIMAIS QUE ENTRARAM NA ARCA DE NOÉ:
Limpos = 7 casais (Gên. 7:2)
Para se oferecer sacrifícios (Gên. 8:19 e 20).
Para alimento do homem (Lev. 11; Deut. 14).
Imundos = 1 casal (Gên. 7:2)
Apenas para preservação da espécie, que é
o suficiente no desempenho da função para que foi
criado.
Antes do dilúvio, Noé já conhecia a distinção
entre animais limpos e imundos (Gên. 7:2, 3 e 8; 8:20).
Daí o pressuposto que tal conhecimento provém de
tempos bastantes remotos, bem como nos dá a certeza absoluta
de que só os animais limpos eram oferecidos em sacrifício.
Agora, estudaremos um verso que, isolado do contexto, tem trazido
uma mensagem equivocada e muitos dissabores. É da lavra
paulina e diz:
I Coríntios 10: 25 – “Comei de tudo quanto se vende no
açougue...”
Assim, aqueles que não comparam os textos a fim de descobrir
a verdade que o apóstolo queria ensinar retiram de lá
este verso, fecham a Bíblia, e pronto. Estão, segundo
pensam, livres para comer tudo que exista no açougue: Batráquio,
molusco gastrópode, ofídios, répteis, etc.
E nessa disposição intolerável, pensam ficar
com a consciência tranquila, pois quem autorizou foi Paulo.
Alto lá! Paulo jamais poderia ensinar tal aberração,
pois se assim agisse, lançaria por terra a própria
Palavra de Deus, e ele mesmo estaria cometendo tremenda contradição,
haja vista ter advertido aos coríntios também:
I Coríntios 10: 20
“Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam
aos demônios, e não quero que sejais participantes
com os demônios.”
Então, deve-se escrupular a compra do açougue? Certamente
que sim!
A discrepância no aparente sincretismo paulino não
está na letra, mas no apetite desregrado de muitos cristãos
que estão se preparando para o Céu.
Sim, porque em realidade, só a primeira parte de I Cor.
10:25 é focada no sentido da pseudo-autorização
para se consumir animais imundos, proibidos por Deus; porém,
ater-se apenas a esta parte do verso, sem concluí-lo, desfigura-se
a mensagem do apóstolo. O verso 25 de I Cor. 10 diz na
sua segunda parte:
“...Sem perguntar nada, por causa da consciência.”
Observe a enfática paulina: “Por causa da consciência”.
A partir daí, as coisas mudam de figura e o soar da buzina
já tem mais notas. O problema, portanto, não é
o da comida em si, mas da consciência de alguém.
Antes de prosseguirmos, convidemos o apóstolo Paulo a se
apresentar para nós:
Atos 22:3; Fil.3:5 e 6; Atos 26:4 e 5
“Quanto a mim, sou varão judeu, nascido em Tarso da Cilícia,
e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído
conforme a verdade da lei de nossos pais, zelador de Deus, como
todos vós hoje sois... circuncidado ao oitavo dia, da linhagem
de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus, segundo a
lei fui fariseu, segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo
a justiça que há na lei, irrepreensível...
A minha vida pois, desde a mocidade, qual haja sido, desde o princípio,
em Jerusalém, entre os da minha nação, todos
os judeus o sabem, sabendo de mim desde o princípio (se
o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita de nossa
religião, vivi fariseu.”
Seria portanto inacreditável achar que Paulo, zeloso como
se diz, hebreu de hebreus, fariseu de fariseus, consumisse ou
autorizasse a alguém comer carnes imundas. Jamais! Isso
nunca passou em sua cabeça. Então, como entender
tal verso? Simples. A própria Bíblia, pelo Espírito
Santo, traz a solução para o problema, quando comparados
os textos no sentido de ver-se aflorar a verdade ensinada.
Uma coisa que não é mistério para nenhum
cristão é que, ao ser criado o homem, sua comida
era puramente vegetal. Antes do dilúvio, dentro do plano
original do Criador, nenhum animal destruiria o outro para sua
manutenção. E pelo menos durante 1650 anos aproximadamente,
o homem não teve autorização para comer carne.
Em vindo porém o dilúvio, as águas, que levaram
um ano e dez dias para baixarem (Gên. 7:11 e 24; 8:3-14),
exterminaram toda a vegetação; conse-quentemente
o homem ficou sem alimento, e até que novamente plantasse
para colher, o que comeria? Portanto, dadas as condições
prevalecentes na Terra, Deus, como Lhe aprouve, decidiu permitir
o homem alimentar-se de carne, porém, em Sua onisciência
especificou quais deveria ou não comer.
Em Levítico 11, o Senhor ensinou que os animais que não
tivessem unhas fendidas e não remoessem deveriam ser evitados.
Por outro lado, Deus mencionou os nomes de alguns que jamais deveriam
ser comidos pelo homem, entre eles, o porco (verso 7). Se houve
a preocupação divina com este animal, é porque,
sem contestação, ele é nocivo e tem que ser
evitado.
A verdade é que Paulo, ao afirmar – “comei de tudo quanto
se vende no açougue” – tinha absoluta certeza que a carne
ali vendida era limpa, embora oferecida aos ídolos, fato
que para o apóstolo não tinha relevância,
pois seu conceito era de, o ídolo, nada ser (I Coríntios
10:19), como de fato, nada é. Entretanto, é inegável
que o escrúpulo por animais sacrificados não foi
perdido quando o cristianismo foi introduzido aos gentios. Por
conseguinte, havia irmãos que não tinham uma fé
sedimentada, e tais cristãos se escandalizavam quando outros
comiam aquela carne. Por isso frisou Paulo com clareza meridiana:
“por causa da consciência”. Que consciência? Lógico,
a consciência do irmão mais fraco na fé. Assim,
todos os cristãos poderiam comprar qualquer carne no açougue,
porque ali só era vendida carne limpa, desde que, esta
atitude, não ofendesse a consciência de um irmão
de débil fé, que é nosso dever respeitar
e conservar. A liberdade espiritual de um cristão esclarecido
não pode tornar-se pedra de tropeço para os que
são fracos na fé. I Cor. 8:9.
A prova insofismável que os idólatras sacrificavam
animais limpos está no incidente ocorrido com Paulo e Barnabé
na cidade de Listra, quando após ter Paulo curado um paralítico,
o povo achou serem as divindades por eles adoradas, Júpiter
e Mercúrio, e queriam sacrificar-lhes touros (Atos 14:12
e 13). E touro é limpo. Lev. 11:3.
Um dos sábios daqueles tempos – Plutarco (46-120 d.C.),
morador em Corinto, relatou este fato de um jantar privativo,
usando carne limpa:
“O cozinheiro de Ariston fez sucesso entre os convidados do jantar
não só por causa de sua habilidade geral, mas porque
o galo servido aos comensais, embora recém-abatido como
sacrifício a Hercules, era tão macio como se fosse
de um dia.” – Citado por Jerome Murphy – O’Connor, St. Paul’s
Corinth, pág. 101.
De uma coisa não duvidemos: Paulo não deixa implícito
neste texto (I Cor.10:25), que a distinção entre
carnes limpas e imundas tenha sido abolida. Tal assunto não
está sob consideração. Na pauta está
a debilidade da fé de alguém super-escrupuloso que,
sendo um ser humano, também é alvo do sacrifício
de Cristo, e assim merecia todo respeito e amor. Quando Paulo
focaliza neste assunto a consciência super-escrupulosa,
ele sabe que tal consciência evita constantemente fazer
algo errado. Por isso deve-se respeitar o irmão e recebê-lo
em comunhão, apesar de sua super-escrupulosidade. Consequentemente,
o assunto sob análise é específicamente o
comer carnes que possam ter sido sacrificadas aos ídolos.
“Muitos dos gentios convertidos estavam vivendo entre pessoas
ignorantes e supersticiosas, que faziam frequentes sacrifícios
e ofertas a ídolos. Os sacerdotes deste culto pagão
mercadejavam extensamente com as ofertas a eles trazidas; e os
judeus temiam que gentios conversos pudessem levar descrédito
ao cristianismo por comprar aquilo que tinha sido sacrificado
aos ídolos, sancionando assim, em certa medida, costumes
idólatras.” – Atos dos Apóstolos, E.G. White, pág.
19. Grifos meus.
Por isso o Concílio de Jerusalém (Atos 15), determinou
que os cristãos se abstivessem das carnes sacrificadas
aos ídolos (Atos 15:29).
Por conseguinte, à luz da razão, no Espírito
Santo, para entender o significado de tais problemas, há
que se conceber em que ponto os cristãos gentios e judeus
estariam aptos a concordar em assuntos de consciência. “Alguns,
como Paulo, puderam rapidamente mudar da ‘escravidão’ cerimonial
do judaísmo para a ‘liberdade cristã’. Outros não
puderam abandonar assim tão rapidamente as convicções
e práticas de uma vida inteira”. Paulo absorveu de tal
modo o cristianismo que, em certas ocasiões, dá
a entender uma ampla liberdade, a ponto de chocar-se com o pensamento
dos demais apóstolos. II Ped. 3:15 e 16.
O tempo gradualmente se encarregaria de esclarecer a mente do
irmão super-escrupuloso, porém, não lhe lancemos
pedras, porque, para situar-se dentro de sua consciência,
neste fato, basta que alguém compre uma galinha que foi
apanhada de um sacrifício de macumba na encruzilhada, mande
cozinhá-la e coma.
Experimente: Se você conseguir comer, conforme I Coríntios
8: 4: 10: 31, você é um cristão forte. Por
outro lado, se esta carne não descer ao seu estômago,
você é um cristão fraco e débil na
fé. Eu jamais farei isso, porque sou um aficcionado radical
do naturalismo. E você, mesmo não sendo vegetariano,
conseguiria comer?
Portanto, “fraqueza” ou “debilidade” na fé, inseridas neste
contexto, e em toda esta narrativa, será medida pelo grau
de conhecimento e maturidade cristã, estribando-se na afirmação
de que o ídolo nada é.
Assim sendo, a preocupação paulina não era
que fosse imunda ou limpa a carne, mas sim a consciência
do cristão, porque é errado violar a consciência
de alguém, principalmente quando ela está em desenvolvimento
espiritual, ou se trata de uma consciência super-escrupulosa.
Pois bem, agora vamos falar de algo bem sério. Aceitar
que Paulo não admite a separação de carne
limpa e imunda, é concluir que Deus fala uma coisa no Antigo
Testamento e outra no Novo Testamento, o que jamais pode ser crido.
Deus é onisciente: O que disse nas primeiras páginas
do Gênesis, reafirmou em todo o Pentateuco e nos demais
profetas, confirmou nos evangelhos e ratificou nas epístolas
e no Apocalipse. O profeta Isaías diz claramente que quem
come carne de porco (imunda) não será salvo (Isa.
66:17; 65: 4). É chocante ler tal afirmação,
porém está na Escritura, e mais: a escatologia bíblica
indica claramente neste capítulo que ele é extensivo
à Nova Terra, fato que se depreende dos versos 20 a 24,
razão porque, confirma o profeta Isaías, lá
não entrarão os que comem carnes imundas.
Jesus disse que há peixes imundos (Mat. 13: 47-48), e finalmente
no livro de Apocalipse 18: 2 lemos que a grande Babilônia
“se tornou morada de demônios... e coito de toda ave imunda
e aborrecível”. Por conseguinte, a lei dietética
de Levítico 11 é ampla, abrangente e clara em toda
a Bíblia Sagrada, salientando que em cima, sobre e sob
a Terra, existem “seres” imundos que não devem ser consumidos.
Outrossim, não se pode proibir ninguém de comê-los,
desde que o indivíduo decidiu comer. Uma coisa porém
é certa: Deus proibiu.
Pode-se até citar outros versículos isolados, onde
se queira crer que há liberdade de comer as carnes proibidas;
mas cuidado, pensar assim é dizer que Deus Se desdiz. Deus
não é um rei terreno ou um ser limitado. Há
perigo em contestar a vontade divina.
Tal disposição leva-nos à admitir que o homem
do Antigo Testamento possuia uma composição biológica
diferente da do homem do Novo Testamento. Pois que lá era
proibido comer carnes imundas, e franqueado no Novo Testamento.
– Sofreu mutações fisiológicas o organismo
humano? Jamais!
Não há problema de ordem genética com o homem,
ele é o mesmo desde a sua gênese, quando saiu das
mãos do Criador, composto de todos os óligos elementos
da terra, lá (Antigo Testamento) e aqui (Novo Testamento).
Se tivesse havido evoluções ou mutações
no sistema digestivo humano, ele não teria sido criado,
como cremos, por um Deus sábio e santo; mas, admitindo
que tal aberração tivesse ocorrido, esta foi ao
inverso, porque os homens do Antigo Testamento foram sempre mais
longevos que os do Novo Testamento. Certamente isto é devido
ao seu regrado regime alimentar, evitando as carnes proibidas
por Deus.
Sabe, irmão, para que não haja dúvidas, convidemos
a maior autoridade deste Universo para resolver esta questão
– Jesus Cristo. Preste atenção:
– Andava o Senhor pelas pradarias de Gadara (Mar. 5: 1-20), quando
com Ele deparou-se uma legião de demônios. Estes
rogaram a Jesus que os enviassem para uma manada de porcos que
por ali andava (vv. 12-13). O Mestre ordenou lançarem-se
ao mar, e assim, dois mil porcos foram destruídos. Imagine,
se cada porco pesasse por exemplo, 40 kgs; multiplicados pelos
2.000, teremos 80 toneladas de “carne” que daria, sem dúvidas,
para matar a fome de milhares de pobres da região.
De outra feita, o Senhor encontrava-se perto de Betsaida (João
6: 1-5), quando os discípulos se deram conta que a multidão
que durante todo o dia estivera com o Mestre, nada comera. Jesus
então multiplicou 5 pães e dois peixes (João
6: 11), saciou a fome de 5.000 pessoas, e depois ordenou:
João 6: 12 – “...recolhei os pedaços que sobraram,
para que nada se perca.”
Como é isso? Quem se atreveria a contestar o Salvador?
Em uma ocasião ordena estragar 80 toneladas de carne, e
noutra, manda recolher restos de pães e peixes, para não
se estragarem? Sim, não é uma incoerência?
Não, mil vezes não! Amados, o que temos de admitir
é que porco nunca foi alimento. Deus criou o porco para
uma função específica: Limpar a terra de
sujeiras e imundícies, como fazem o urubu sobre a terra
e o camarão, o siri, o caranguejo, mexilhões, a
lagosta e os peixes de couro sob as águas. Nada mais!
Dessa forma, ninguém poderá contestar o Senhor Jesus,
se Ele deixa claro que há animais puros e imundos. É
nosso dever, pois, aceitar e praticar, deixando de consumi-los,
advertindo também os demais, pois afinal, somos guardadores
de nossos irmãos. Outro incidente na vida do Mestre que
mostra a discriminação entre o imundo e o puro está
nestas límpidas palavras:
Mateus 13: 47-48 – “Igualmente o Reino dos Céus é
semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda
qualidade de peixes. E estando cheia, puxam para a praia; e, assentando-se,
apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam
fora.”
Considere o que disse o Salvador do mundo: “Peixe ruim”. Sabe,
este peixe é aquele considerado imundo e proibido através
da lei dietética de Levítico 11 versos 9 a12, o
peixe de couro! – Quem negará?
Ora, meu irmão, hoje há uma volúpia de desejo
para se comer as carnes que Deus proibiu! No entanto, até
as que Ele franqueou já é perigoso consumí-las.
Quem pode garantir que o bife bovino que você comeu ontem
não estava doente?
Sim, embora a Saúde Pública aja no pleno exercício
de suas funções higiênico-sanitárias
na fiscalização aos animais de abate, o açougue,
bem como os grandes frigoríficos não estão
livres de serem ludibriados, e assim são enviados para
as cidades animais com doenças de toda espécie,
para serem consumidos por aqueles que, escravos do apetite, sequer
põem em pauta o valor da saúde, o maior bem e dom
de Deus.
Por fim, você poderá dizer: “Não é
da conta de ninguém o que eu como”. Sim, pode ser certo
que não seja da conta do irmão forte ou super-escrupuloso,
mas é da conta de Cristo, pois foi Ele quem o criou, e
por você morreu de braços abertos numa cruz (I Cor.
6: 19-20). Portanto, considere esses fatos!
PENSE: – Você nunca considerou com “seus botões”
por que não come os doces dedicados a Cosme e Damião,
distribuídos no dia 27 de setembro? Que há de mal
nos doces? Há ou não há?
– Há para os frágeis na fé! I Cor. 8: 13.
– Não há, para os fortes, de fé amadurecida.
I Cor. 8: 13.
Por causa dessa consciência débil, escrupulosa, para
não levá-la a escandalizar-se, deve-se evitar coisas
oferecidas a ídolos.
Na Nova Terra não haverá mais morte (Apoc. 21: 4);
consequentemente, os animais não serão mortos também.
Vivos, não os comeremos; qual será, então,
a nossa alimentação?