CAPÍTULO 27
O LENÇOL ZOOLÓGICO DE ATOS 10
“Durante Seu ministério terrestre Cristo deu início
à obra de derribar o muro de separação entre
judeus e gentios e apregoou a salvação a toda a
humanidade.” – E.G.White, Atos dos Apóstolos, pág.
19.
Basta estudar a Palavra de Deus para se descobrir a singela verdade
de que é repudiada a discriminação racial,
pelo fato de que Jesus morreria até por uma única
pessoa. Por conseguinte, não deve haver racismo entre os
homens.
A Bíblia comprova que o pecado alcançou a todos,
daí não haver uma raça de elite, separada,
isenta de pecado. Da mesma maneira, foi por todos indiscriminadamente
que o Salvador depôs Sua vida em uma ignominiosa cruz, cujo
sangue imaculado pode justificar a mais degradada e pobre criatura
da selva, como a mais bem preparada de qualquer Continente. Todos
de igual maneira merecem a oportunidade de conhecer e viver o
evangelho que restaura e salva; todos podem tornar-se cidadãos
da família celestial. Nesta família não pode
haver homens separados por quaisquer status. A intolerância
do judeu contra o gentio é um deplorável procedimento,
uma atitude anti-cristã.
No Templo de Jerusalém havia um limite para os gentios.
Uma placa indicativa dizia:
“Nenhum estrangeiro pode passar além da balaustrada e da
parede que cercam o lugar santo. Quem quer que seja apanhado violando
este regulamento será responsável pela sua morte,
que se seguirá.”
A visão de Pedro do lençol repleto de animais, puros
e imundos, relatada em Atos 10, tem sido utilizada para provar
a liberação divina para se comer as carnes que foram
proibidas ao homem, deixando os que assim crêem de consciência
tranquila. Será entretanto que essa tranquilidade continuará,
ao descobrirmos agora exatamente o contrário?
A expressão divina – “Levanta-te, Pedro, mata e come” (Atos
10:13), isolada de seu contexto, tornou-se a mola mestra da engrenagem
dos que se conformam com a superfície do versículo,
mas a você, apelo outra vez: nunca se satisfaça com
um texto isolado. Não é bom nem correto. É
preciso estudá-lo junto ao contexto, e, necessariamente,
comparando com outras escrituras.
Descubramos, portanto, como deve ser estudado este capítulo
maravilhoso de Atos 10:
Verso 1
“E havia em Cesaréia um varão por nome Cornélio,
centurião da côrte chamada italiana.”
Cesaréia era um “porto marítimo de Saron, construído
por Herodes, o grande, em 13 a.C. Residência dos procuradores
romanos”. Por conseguinte, trata-se, possivelmente de um homem
romano o bom Cornélio, pois além de um cargo militar
altamente importante, servia em uma base radicalmente romana.
Em última análise, uma coisa é líquida
e certa, não esqueça, ele não era judeu,
era um gentio. Você por acaso sabe o que um judeu pensava
a respeito de um gentio por essa ocasião?
Verso 2
“Piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas
esmolas ao povo, e de contínuo orava a Deus.”
Que quadro lindo! Solenemente espetacular! Um proscrito para os
judeus amava e servia ao Deus dos judeus, e este amor era à
prova de crítica. Vestido com roupa de trabalho, pois diz
a Bíblia que ele auxiliava, socorria com seus bens os menos
favorecidos, e dentre os tais, quem sabe, muitos judeus. Era desprendida
sua devoção, sincera, partia de um coração
anelante por conhecer mais o Deus de Israel. E o mais maravilhoso
é que Deus “atentou” para aquele que aos olhos dos judeus
não merecia sequer conhecê-Lo.
Da leitura dos versos 3 a 8, concluimos que o
amor de Deus envolveu Cornélio e o prestigiou com a comissão
de um anjo que trazia do Céu, a aprovação
para seu gesto caridoso e amante, orientando-o a ir em busca do
apóstolo Pedro, dando-lhe para tanto as indicações,
como: cidade, rua, casa e nº., etc.
Versos 9 e 10
“E no dia seguinte, indo eles em seu caminho, e estando já
perto da cidade, subiu Pedro ao terraço para orar, quase
à hora sexta (1/2 dia). E tendo fome, quis comer; e enquanto
lho preparavam, sobreveio-lhe um arrebatamento de sentido.”
Caro irmão, imploro agora sua esmerada atenção,
para que você alcance a sabedoria do Deus que eu e você
amamos. Toda vez que Ele queria ensinar alguma coisa ao homem,
utilizava algo que lhe fosse peculiar. Como por exemplo: Ao lavrador,
– a terra. Ao boiadeiro, – o gado. Ao Pastor, – a ovelha, ao pescador,
– a rede etc. Como Deus desejava transmitir algo sublime e maravilhoso
a Pedro, que melhor ilustração utilizaria senão
aquilo que estivesse mais intimamente ligado à sua condição
no momento, isto é: comida? (Pedro estava com fome).
O Senhor preparava Pedro para a grande mensagem. Assim, conforme
dizem os versos 11 e 12, Deus mostrou-lhe em
visão, o famoso lençol zoológico, e pateticamente
declarou:
Verso 13
“... levanta-te Pedro, mata e come.”
Tal ordem suscitou imediatamente do obediente apóstolo
a dramática, sincera e inolvidável declaração:
Verso 14
“...De modo nenhum, Senhor. Porque nunca comi... coisa imunda.”
Observe o irmão, a magnitude do acontecimento, que se repetiu
por três vezes, voltando a se recolher ao Céu, conforme
os versos 15 e 16.
Os versos 17 e 18 relatam que Pedro estava desconcertado
com aquela visão, e, tentando chegar a uma conclusão
razoável, pôr em ordem os seus desencontrados pensamentos,
quando – pasme – batem à porta. Eram os homens que o bom
Cornélio enviara, conforme instrução de Deus.
Atenção agora para o verso seguinte:
Verso 19
“...Eis que três varões te buscam.”
Em meio ao aturdimento de Pedro, Deus avisa-o que “três
varões” o procuravam e que ele, sem demora, deveria descer
e se apresentar aos estrangeiros, pois fora Deus quem os enviara.
Observe o prezado irmão as nuanças da visão,
os detalhes divinos.
• A visão apareceu a Pedro três vezes.
• Também três varões apareceram-lhe, enviados
por Cornélio, com a indicação do anjo do
Senhor
.• Deus lhe deu a visão exatamente na hora em que Pedro
estava com fome, para melhor aguçar a lição
que desejava ensinar ao apóstolo. O apetite é um
grande teste. Tudo é maravilhoso, não acha? No verso
22, os varões falaram a Pedro a respeito de Cornélio,
da aprovação de Deus para com ele e do anjo que
os enviou à sua procura.
Pedro então, imediatamente recebeu-os em casa, e no dia
seguinte, tomando alguns irmãos de Jope, rumou para Cesaréia,
a fim de realizar um grandioso trabalho missionário, conforme
a leitura do verso 23. Um dia depois, chegam
ao seu destino, e maravilhados contemplam um grupo de gentios,
sedentos do evangelho, almejando a salvação bem
como trilhar os caminhos de Deus, segundo se depreende da leitura
dos
versos 24-27.
Diante deste quadro, Pedro reprime as lágrimas, cumprimenta
os gentios afetuosamente, e se prepara para lhes anunciar as boas
novas da salvação.
Sinceridade, submissão e humildade são características
daqueles que de fato almejam fazer a vontade de Deus e preparam-se
para o Céu; sob essa bandeira que deve ser a minha e a
sua atitude para com a Bíblia, ouçamos o apóstolo
Pedro:
Verso 28
“E disse-lhes: vós bem sabeis que não é lícito
a um varão judeu ajuntar-se ou achegar-se a estrangeiros:
mas Deus mostrou-me que A NENHUM HOMEM CHAME COMUM OU
IMUNDO.”
Os judeus achavam-se os únicos dignos da graça de
Deus, e por isso consideravam todos os demais como imundos, na
pura acepção da palavra. Entretanto o evangelho
não é exclusivo de grupos privilegiados ou nação
isolada (embora Israel já tenha tido este privilégio
até a morte de Estêvão); e, como a mensagem
do Evangelho Eterno deveria alcançar todas as pessoas,
aprouve a Deus forjar um encontro entre o judeu e o gentio, isso
por meio do apóstolo Pedro, que entre todos, parecia ser
o mais apegado às tradições e ao exclusivismo
nacional e espiritual.
Do verso 29 a 33, Cornélio, o gentio a quem Deus amava
e queria que ouvisse do evangelho que vem dos judeus, relata a
visão que tivera e como tomara a decisão de mandar
buscar a Pedro, declarando:
Verso 33
“...Agora, pois, estamos todos diante de Deus para ouvir tudo
quanto por Deus te é mandado.”
Diante de fatos tão sublimes, vendo a operação
maravilhosa do Espírito Santo naqueles corações,
observando como o Senhor estava demonstrando Seu amor por pessoas
de outra raça, Pedro deixa cair por terra sua tradição
e preconceito de que os gentios não eram dignos da salvação
nem do favor de Deus, e, exclamando com toda veemência,
quedado diante da Onipotência divina, diz:
Versos 34 e 35
“...Reconheço por verdade que Deus não faz acepção
de pessoas; mas que Lhe é agradável aquele que,
em qualquer nação, O teme e obra o que é
justo.”
Como é clara a verdade divina ensinada ao apóstolo
Pedro! Deus ama a todos os homens, quer salvar a todos indistintamente.
Morreu por todos: judeus e gentios. A cruz atrai todas as raças
e une todos os povos.
Dos versos 36 a 48, é relatada a convicção
de Pedro de que aqueles gentios foram aceitos por Deus, e assim
não hesitou em pregar-lhes com poder as boas novas da salvação.
E nesta oportunidade, para sedimentar Sua aprovação
por aquele sincero grupo de crentes gentios, revelando publicamente
Seu agrado, Deus enviou-lhes o Espírito Santo, causando
espanto geral. Era a aprovação total. O amor de
Deus alcança a todos, judeus e gentios, em todos os lugares,
graças a Deus!
O episódio não termina aqui. Quando a igreja em
Jerusalém soube do ocorrido, levantou-se contra Pedro,
com a prerrogativa de haver-se misturado com gente tão
repelente e imunda, os gentios. Intima-o a retratar-se. O apóstolo
então, cheio do Espírito Santo, apresenta-se diante
da Igreja-Mãe, e relata como Deus lhe mostrara,
através de uma visão de animais em um lençol,
que todas as pessoas, de toda tribo, raça e língua,
desde que O tema e guarde Seus mandamentos, são dignas
do amor, da Graça e da salvação pelo sacrifício
eterno de Jesus.
E muito mais! Deus não somente revelou Seu amor pelos gentios
como os agraciou com o derramamento do Espírito Santo (Leia
Atos 11:1-17).
Contra este argumento não houve reação, e
portanto a posição da Igreja-Mãe não
poderia ser diferente. Leiamos:
Atos 11:18
“E ouvindo estas coisas, apaziguaram-se, e glorificaram a Deus,
dizendo: Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento
para a vida.”
Como vê, irmão amado, é simples, puro e cristalino
como água na folha de inhame. Não há aqui
interpretação humana. Não há necessidade
de torcer nada e muito menos adaptar-se a qualquer tipo de conveniência.
É uma verdade clara que brota como luz da aurora no coração
sincero. A Igreja de Jerusalém não mudou a Bíblia,
mudou sim, sua posição em relação
aos gentios pelo testemunho de Pedro, que por sua vez mudou sua
opinião através do ensino de Deus por meio de um
lençol de animais.
Hoje, lamentavelmente ocorre o contrário. Muitos preferem
mudar a Bíblia, ou quando nada, tentam adaptá-la
à sua opinião. Que não seja esta sua atitude,
meu querido irmão.
Pois bem, fica determinado pela Bíblia, sem nenhuma dúvida,
que Deus utilizou um lençol de animais puros e imundos
para ensinar a Pedro, quando este estava com fome, que “nenhum
homem é comum ou imundo” e “que Deus não faz acepção
de pessoas”, pois todos de igual modo merecem a oportunidade de
conhecer e viver o evangelho que restaura e salva. Todos podem
tornar-se cidadãos da família celestial, mas...,
se não acontecesse essa visão, jamais Cornélio
e sua família ouviriam de Pedro esta mensagem que salva,
dada sua posição contra os pobres gentios. Isto
sim, mas nunca para autorizar a comer carnes imundas.
Irmão, a Igreja de Jerusalém foi humilde e sincera.
Você também decidirá pela Verdade? Decisão
envolve coragem! Você é um forte, pois Cristo lhe
dá poder.
Deus estava levando Seu apóstolo a sentir “FOME” pela salvação
de todas as pessoas, de todas as raças, em todos os lugares
do Planeta Terra!
“Essa visão tanto serviu para repreender a Pedro como para
instruí-lo. Revelou-lhe o propósito divino – de
que pela morte de Cristo os gentios deviam tornar-se co-herdeiros
dos judeus nas bênçãos da salvação.
Até então nenhum dos discípulos pregara o
evangelho aos gentios.
“Em seu pensamento, o muro de separação posto abaixo
pela morte de Cristo ainda existia, e seus trabalhos limitavam-se
aos judeus, pois tinham considerados os gentios excluídos
das bênçãos do evangelho. O Senhor buscava
então ensinar a Pedro a extensão universal do plano
divino.” – Ellen G. White, Atos do Apóstolos, págs.
135-136.
PENSE NISSO:
A visão do lençol de Atos 10 foi uma prédica
divina para mostrar a Pedro que todos são iguais e, simultaneamente,
prepará-lo para o derramamento do Espírito Santo
sobre Cornélio, semelhante ao Pentecostes (Atos 10:44-47).
E isto foi a comprovação ipso-facto, de que Deus
não faz acepção de pessoa, mesmo. Agora ouça
Paulo, escrevendo aos Romanos 10:12-13:
“Porquanto não há diferença entre judeu e
grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com
todos os que O invocam. Porque todo aquele que invocar o Nome
do Senhor será salvo.”
CURIOSIDADE
Atos 11: 12 – Disse Pedro:
“...e também estes SEIS irmãos foram comigo, e entramos
em casa daquele varão (Cornélio).”
Na lei egípcia que os judeus conheciam bem, eram preciso
SETE testemunhas para provar completamente um caso judicial ou
qualquer outro.
Na lei romana também, e eram necessários SETE selos
para autenticar um documento que fosse realmente importante como
um testemunho.
Portanto, havia SETE testemunhas deste fato. Pedro + 6 = 7.