CAPÍTULO 10
GÁLATAS, À LUZ DA BÍBLIA
A circuncisão (que se tornou o sinal pessoal da fé
de Abraão) foi uma especial maneira criada por Deus, um
sinal de separação do mundo, um símbolo de
santidade para tornar Seu povo diferente dos idólatras.
Isso tornou-se um orgulho tão grande para os judeus – uma
simples prática exterior – tão idolatrada, que sobrepujou
a visão de que a circuncisão que tem valor de fato
é a do coração, isto é: A transformação
do caráter.
Efetivamente, a maior negação desta fé foi
denunciada por Jeremias (Jer. 9:26), quando revelou não
haver diferença entre pagãos e o “povo circuncidado”
de Deus. “A forma exterior substituíra a experiência
do coração.”
“O princípio de que o homem pode salvar-se por suas próprias
obras, o qual jaz à base de toda religião pagã...
onde quer que seja mantido, os homens não têm barreira
contra o pecado.” – Ellen G. White, o Desejado de Todas as Nações,
pág. 25.
“Se Satanás puder ser bem sucedido em levar o homem a dar
valor às suas próprias obras como obras de mérito
e justiça, ele sabe que pode vencê-lo por suas tentações
e torná-lo sua vítima e presa... Marquemos os umbrais
das portas com o sangue do Cordeiro derramado no Calvário,
e estaremos a salvo.” – Ellen G. White, Review And Herald, 3 de
Outubro de 1889.
Esboço da Epístola aos Gálatas segundo o
Dicionário Bíblico, editado pela Imprensa Bíblica
Brasileira:
I – A autoridade apostólica de Paulo e a revelação
por ele recebida justificam o evangelho da salvação
pela Graça, contra o espúrio ensinamento dos legalistas
(1:1-2 e 14).
II – A justificação que provém da Graça
divina pela fé humana, e não pelas obras infrutíferas
da lei, vindica o Evangelho de Cristo (2:15; 4:31).
III – Com ardorosas exortações Paulo concita os
galátas a permanecerem firmes na liberdade e na espiritualidade
da Graça (cap. 5 e 6).
CIRCUNCISÃO
“Quando Ismael estava com a idade de treze anos, Abrão
e todos os homens de sua família foram circuncidados. No
Egito a circuncisão fora praticada em data memorável,
no entanto tornou-se o selo do pacto entre Deus e a descendência
de Abrão, cujo nome, ao mesmo tempo, foi mudado para Abraão,
significando assim que ele não era mais babilônio.”
– Dicionário Bíblico da Imprensa Bíblica
Brasileira.
Quando Abraão foi justificado (Gên. 15:6) não
era circuncidado, fato que aconteceu posteriormente. Consequentemente,
tornou-se Abraão pai de circuncisos e incircuncisos. Abraão
não foi salvo pela circuncisão. Ele foi salvo pela
Graça, aceita pela fé. A circuncisão era
o sinal ou selo da experiência salvadora. Após a
Cruz, a circuncisão como rito religioso é desnecessário
(Romanos 2: 28-29).
A primeira referência e o estabelecimento da circuncisão
como pacto entre Deus e Abraão estão em Gênesis
17:10-14.
Paulo usou em todas as suas epístolas as seguintes palavras:
CIRCUNCIDAR – DOZE VEZES
CIRCUNCISÃO – VINTE E SEIS VEZES
INCIRCUNCISÃO – NOVE VEZES
CIRCUNCISO – CINCO VEZES
INCIRCUNCISO – SETE VEZES
(Total: 59 vezes)
Somente na Epístola aos Gálatas, Paulo mencionou
dezesseis vezes a circuncisão. Sendo que o livro de Gálatas
contém seis capítulos, temos a média de três
palavras por capítulo.
O livro de Gálatas tem sido usado como coluna mestra para
a aceitação do cancelamento, destruição
e término da “lei” por Cristo Jesus. Por isso nada mais
lógico que estudá-lo, tim-tim por tim-tim, a fim
de sabermos se realmente é como se diz. Vamos ver.
O escritor de Gálatas foi o comentado apóstolo Paulo,
cuja descendência, origem e ministério já
conhecemos bem (consulte pág. 348, parág. 8). Servindo-nos
do Dicionário Bíblico da Imprensa Bíblica
Brasileira, temos a seguinte descrição a respeito
da epístola de Paulo aos Gálatas:
“Paulo apreciava muito todas as suas igrejas, todavia, tinha excepcional
simpatia para com as da Galácia. Durante sua ausência,
professores judaizantes tiveram acesso a elas e nelas insuflaram
a perniciosa heresia de que somente pela porta do judaísmo
é que se podia entrar no aprisco cristão. A natureza
desses argumentos convenceu a Paulo de que ele se defrontava com
uma grande crise e, se o cristianismo havia de ser a religião
universal, e não meramente uma seita judaica, teria de
ser esclarecida, duma vez por todas, a relação entre
Cristo e a Lei Mosaica.” – Grifos meus.
Esta bela descrição leva-nos à época
do autor e coloca-nos a par do problema que motivou a Paulo sua
famosa epístola. “Professores Judaizantes” estavam corrompendo
o rebanho, fazendo-o voltar à escravidão das cerimônias
estatuídas por Moisés.
Considerando ainda o dicionário focado a respeito dos JUDAIZANTES,
encontramos nele esta significativa referência:
“Nome dado entre os primitivos cristãos àqueles
que não podiam crer que tudo o que se concedera ao homem
pela LEI fosse-lhes então, transmitido de maneira mais
ampla por meio do EVANGELHO. Assim insistiam na circuncisão
como o meio de outorgar ao homem o direito de crer em Jesus como
Salvador de Israel” – (Grifos meus).
Você, caro amigo, como um bom e correto cristão,
que está interessado em crescer na fé, e se assemelhar
ao máximo ao Senhor Jesus, por certo, depois de já
ter lido os capítulos anteriores, estará em condições
de compreender com sinceridade o que Paulo tinha em mente ao escrever
Gálatas. Por favor, não esqueça que estamos
diante de uma igreja onde, estando seu pastor, Paulo, ausente,
fica à mercê de homens maus, “professores judaizantes”
arraigados a dogmas cerimoniais abolidos por Cristo. E, em especial,
nesse particular, o motivo principal da epístola foi exatamente
o ponto que com maior volúpia pregavam os tais “professores
judaizantes”: a circuncisão. Imploro-lhe não esquecer
esse detalhe.
Recorramos novamente ao Dicionário Bíblico mencionado,
e o consultemos a respeito da palavra “lei”, largamente usada
nessa epístola. Diz ele:
“A lei continha dois elementos. O eterno e o efêmero. Um
elemento é eterno, portanto, trata da moral, que não
muda. Encontramo-lo nos Dez Mandamentos, frequentemente denominados
o Decálogo, e em estatutos com este relacionado. O elemento
efêmero compõe-se de leis, tanto civís como
cerimoniais. Evidentemente as leis civis se mudariam ou se revogariam
segundo as mudanças na vida da nação e nas
suas relações com os povos vizinhos. E as leis cerimoniais
cuja finalidade era ensinar por meio dos sacrifícios e
cultos ritualísticos o desígnio redentor de Deus,
haveriam de terminar com o advento do Messias, cuja obra de redenção
esse ritualismo prefigurava, e hoje os cristãos têm
certeza de que Cristo veio a ser o cumprimento e o fim da lei.”
– Grifos meus.
Logicamente, segundo a palavra fidedigna do citado Dicionário
Bíblico, se a Lei Moral dos Dez Mandamentos é eterna
e não muda, que lei então seria essa da qual nós,
os cristãos, temos certeza que Cristo tornou-Se o cumprimento
e o fim? Evidente, aquela que o próprio dicionário
classifica de cerimonial, e “cuja finalidade era ensinar por meio
dos sacrifícios e cultos ritualísticos o desígnio
redentor de Deus”, ou seja, que prefigurava a morte de Jesus.
Por essa tão bela e tão bem colocada referência
à “lei”, agradeçamos ao autor do Dicionário
Bíblico que estamos usando.
O dicionário em foco é um compêndio da mais
alta importância e imparcialidade, de autoridade ímpar,
bem como de profunda responsabilidade evangélica. Tanto
que é anexado à Bíblia impressa e distribuída
pela Casa Publicadora Batista. E é ele que apresenta com
tamanha clarividência algo que para muitos tem sido obscuro
e continua encoberto, isto é: a diferenciação
entre as leis da Bíblia. Menciona este bom dicionário,
e ele foi claro, o seguinte:
1º) – LEI MORAL: Chamada de os Dez Mandamentos,
ou Decálogo. Que não muda. É eterna.
2º) – LEIS CIVÍS: Poderiam mudar
segundo a conveniência da nação israelita.
3º) – LEI CERIMONIAL: Sua finalidade única
era ensinar a obra redentora de Jesus.
Portanto, neste estudo sobre Gálatas, deveremos partir
da seguinte premissa: Não enfoca a epístola a Lei
Civil, pois trata-se de tema religioso. A dificuldade, por conseguinte,
enquadra as duas leis finais: Lei Moral ou Lei Cerimonial. Como
não há mais dúvidas que existe distinção
de leis na Bíblia (confirme lendo à página
nº 79), alicerçados pelo citado dicionário,
iremos a cada passo desvendar o mistério dos gálatas,
e colocar a lei que é mencionada na epístola no
seu devido lugar, e isso com sua ajuda e paciência, meu
amado irmão.
Gálatas 1:13-14
“Porque já ouvistes qual foi antigamente a minha conduta
no judaísmo, como sobremaneira perseguia a igreja de Deus
e a assolava. E na minha nação excedia em judaísmo
a muitos da minha idade; sendo extremamente zeloso das tradições
de meus pais.”
Paulo, irritado, tomou conhecimento dos tais “professores judaizantes”
e de sua herética e nefanda obra. Sendo o apóstolo
profundo conhecedor de suas heresias, e sobremodo a elas contrário,
discorre ao início de sua epístola aos gálatas,
a sua condição inicial, como grande praticante daquela
seita, o judaísmo. Como seu membro efetivo, antes do encontro
com Cristo, fora ele, como se disse: “extremamente zeloso das
tradições” de seus pais, daí entendermos
seu descontentamento e preocupação com os cristãos
da Galácia, pois sabedor que era daquelas infindáveis
cerimônias, se novamente aceitas, iriam tirar a liberdade
concedida pelo evangelho de Cristo, e de alguma forma, obliterar
o cristianismo que crescia com bases sólidas na Galácia
antes do acesso dos “professores judaizantes”.
No limiar da epístola, notamos a acentuada preocupação
de Paulo, bem como sua profunda admiração ao notar
que os gálatas apressadamente deixaram o evangelho que
lhes pregou, revogando a Graça de Cristo e voltando-se
àquilo que tachou de anátema (Gál. 1:6-9).
Paulo era contrário de “corpo e alma” ao judaismo (ritualismo
cerimonial judaico), porque em pouco beneficiou, e ademais fora
cancelado para sempre com o sacrifício de Jesus.
Ainda no preâmbulo que fez Paulo para introduzir sua epístola,
entendemos de sua leitura e podemos até visualizar o judaizante
Saulo de Tarso, com todo zelo e dedicação empunhando
sua ensanguentada espada, munido das cartas dos sacerdotes judaizantes,
para matar os crentes em Cristo. Mas, no caminho de Damasco, dá-se
o feliz encontro do judaizante Saulo com Aquele que cancelou tal
sistema religioso. Esse encontro marcou-o para o resto da vida,
não somente pelo quadro maravilhoso de ver a Jesus, mas
porque sua vista ficou defeituosa enquanto viveu, dado o resplendor
da glória do Senhor Jesus. Saulo morreu. Acabou para ele
o judaismo. Nasceu Paulo, a glória do cristianismo, o apóstolo
dos gentios.
Totalmente transformado, verdadeiramente convertido ao cristianismo,
Paulo tomou sua Bíblia e rumou para os campos missionários,
sempre fazendo discípulos e construindo igrejas, até
que, depois de quatorze anos de sua conversão ao cristianismo
e consequente rejeição do judaismo, conta ele:
Gálatas 2: 1,3-4
“Depois, passados quatorze anos, subi outra vez a Jerusalém
com Barnabé, levando também comigo a Tito... Mas
nem ainda Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido
a circuncidar-se; e isto por causa dos falsos irmãos que
se tinham entremetido, e secretamente entraram a espiar a nossa
liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão.”
Paulo, completamente transformado, está em Jerusalém.
Quando aceitou a Cristo como Salvador, abandonou o judaismo e
as cerimônias que, se necessárias antes, tornaram-se
inúteis após a morte de Jesus. E isto foi objeto
de repulsa da parte dos judeus cristãos, que Paulo depois
de longa ausência revia na Cidade Eterna, os quais eram,
ainda, partidários e afeitos às cerimônias
rituais, e entre elas, a circuncisão tinha predominância.
Gálatas 2: 7-9, 12-13
“Antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da
incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão
(porque Aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado
da circuncisão, Esse operou também em mim com eficácia
para os gentios), e conhecendo Tiago, Cefas e João, que
eram considerados como as colunas, a graça que se me havia
dado, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé,
para que nós fôssemos aos gentios, e eles à
circuncisão... Porque, antes que alguns tivessem chegado
da parte de Tiago, comia com os gentios; mas depois que chegaram,
se foi retirando, e se apartou deles, temendo os da circuncisão.
E outros judeus dissimulavam com ele (Pedro), de maneira que até
Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação
(de Pedro).”
Observe meu amado, que a discussão, o elemento que gerou
tanta confusão e polêmica, foi simplesmente um dogma
daquela “lei” que o Dicionário Bíblico classifica
de Cerimonial e que foi abolida com a morte de Jesus. Entretanto,
ainda estava causando tanta discussão, e o que é
lamentável, entre os próprios discípulos.
Sem sofismar, a “barafunda” criada aí foi pura e simplesmente
por causa da CIRCUNCISÃO. É o elemento predominante
em toda a epístola. Tanto é verdade que Paulo, o
declarado inimigo do judaismo, irá tomar uma atitude à
altura de sua posição de apóstolo chamado
por Jesus. Ouça-o:
Gálatas 2: 14
“Mas quando vi que não andavam bem e direitamente, conforme
a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos:
Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu,
por que obrigas os gentios a viverem como judeus?”
VAMOS RELEMBRAR: No verso 4, Paulo menciona estarem os irmãos
secretamente voltados a “espiar a nossa liberdade, que temos em
Cristo Jesus, para nos porem em servidão.” Em outras palavras,
o homem que crê no sacrifício de Jesus e O aceita
como Salvador pessoal já não está preso àquela
multidão de cerimônias e rituais que faziam parte
da Lei Cerimonial, já não está cativo, mas
tem liberdade. Liberdade concedida pelo evangelho, mediante a
expiação do Filho de Deus. Esta liberdade os judaizantes
não aceitavam para si e para ninguém.
Após o Calvário não era preciso mais proceder
a nenhum dos rituais exigidos pela Lei Cerimonial, e muito menos
circuncidar-se, pois tal sistema era o antítipo que apontava
para o tipo (Jesus). Assim, com a morte vicária de Jesus
tornou-se de nenhuma importância, inútil e sem valor
a lei Cerimonial. Na transição do judaismo para
o cristianismo, a circuncisão teve fim, e o batismo por
imersão ocupou seu lugar. Col. 2:11-12.
Pedro até que compreendia assim, porém, para agradar
a “gregos e troianos”, como disse Paulo – “dissimulava”, e por
isso foi repreendido duramente na frente de todos. Mas, na verdade,
novamente afirmo: Tudo isso por causa da circuncisão, que
era parte integrante e destacada da Lei Cerimonial.
O verso seguinte, emitido por Paulo, imediatamente após
admoestar a Pedro, tem sido incompreendido pelos irmãos
em geral, porque não o comparam com o con-texto geral da
epístola. Todavia, para você agora ele vai falar
diferente, com certeza.
Gálatas 2: 16
“Sabendo que o homem não é justificado pelas obras
da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também
crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé
de Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras
da lei nenhuma carne será justificada.”
Paulo como que franze a testa, olhando para Pedro e os demais
apóstolos e discípulos, cheio do poder espiritual,
mostra-lhes o valor do evangelho. CIRCUNCISÃO era uma exigência
da Lei Cerimonial, necessária antes de Cristo. Mas, após
a morte do Senhor, cumprir esse ritual era buscar JUSTIFICAÇÃO
PELAS OBRAS. Isto é: justificar-se a si por méritos
próprios.
A prática da circuncisão após a cruz, era
negar a eficácia do sangue remidor de Jesus, bem como contraditar
o evangelho da justificação pela fé no sacrifício
expiatório de Jesus. Por isso Paulo enfatiza:
“PELAS OBRAS DA LEI NINGUÉM SERÁ JUSTIFICADO”
Corretíssimo. A Lei Cerimonial não se compunha somente
do dogma da circuncisão, mas de uma infinidade de cerimônias.
Porém, o problema traumatizande dos gálatas, a balbúrdia
entre aqueles bons irmãos da Galácia, é por
causa da CIRCUNCISÃO. Este é o tema borbulhante
da epístola.
Gálatas 2: 21
“Não aniquilo a Graça de Deus, porque, se a justiça
provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde.”
Antes do advento do Messias Jesus, Deus dera aos judeus, em especial,
um ritual maravilhoso. Um conjunto de cerimônias, acompanhadas
de variadas ordenanças, denominado de Lei Cerimonial. Sua
obrigação era exigível, pois todo o cerimonial
apontava para Jesus. Era portanto necessário até
que Ele viesse.
Vindo, porém, o Filho de Deus, todo aquele impressionante
e provisório sistema ritualístico, tornara-se inútil,
pois era sombra de Jesus (Heb. 10: 1). Paulo compreendeu assim,
e colocou em prática sua fé. Por isso, indignou-se
ao ver, agora, novamente os discípulos voltarem a circuncidarem-se.
Mais irritado ficou Paulo, ao notar os próprios apóstolos
presenciarem essa disposição de suas ovelhas e nada
fazerem. Permaneciam inertes. Daí ocasionar-lhe repulsa
tal que o levou a repreender não somente os discípulos
mas também a Pedro. Como, pensava Paulo, poderiam homens
que tiveram o Plano de Salvação tão claro
e detalhado seu cumprimento na morte vicária de Jesus,
voltarem agora aos rituais abolidos? E se a prática desses
ritos pudesse justificar o oferente, então Jesus morreu
em vão, asseverava Paulo.
Ressalte-se que a “lei” focada ainda é a Lei Cerimonial,
pois tudo está dentro do mesmo escopo e é uma sequência
do pensamento discorrido por Paulo no capítulo 2. Muitos
irmãos, hoje, utilizam este texto (Gálatas 2: 21),
para anular a Lei Moral. Mas, como você vê, não
é o correto. Isolando este texto do contexto geral da epístola,
ele perde seu sentido real. Separá-lo do contexto é
cortar o fio da meada. É destruir o pensamento proposto
e ardorosamente defendido por Paulo.
O capítulo 3 desta epístola é dramático
para o apóstolo.Veja:
Gálatas 3: 1-5
“Ó insensatos gálatas! QUEM VOS FASCINOU para não
obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de
quem Jesus Cristo foi representado como crucificado? Só
quisera saber isso de vós: recebestes o Espírito
pelas obras da lei ou pela pregação da fé?
Sois tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito,
acabeis agora pela carne? Será em vão que tenhais
padecido tanto? Se é que isso também foi em vão.
Aquele pois que vos dá o Espírito, e que obra maravilhas
entre vós, fá-lo pelas obras da lei, ou pela pregação
da fé?”
Paulo está muito aborrecido com os “professores judaizantes”
que em sua ausência infiltraram na Igreja da Galácia
os dogmas cerimoniais, dando, preferencialmente, mais peso a circuncisão.
Qualifica os gálatas de “insensatos”, e quem não
concorda? Imagine: Receberam do apóstolo o evangelho da
liberdade, liberdade que os isentara de continuar matando animais
para se justificarem, porém, voltam a oferecer as mais
variadas ofertas, praticando o desnecessário rito da circuncisão,
tudo aquilo que Jesus abolira em Sua morte na cruz.
Ainda assim, até aqui, a “lei” que está em foco
é clara, insofismável e definida: é a Lei
Cerimonial, enfatizada pelo Dicionário Bíblico como
abolida por Cristo. E dessa lei, a “ordenança” que gerou
tamanha confusão foi a circuncisão. Certo?
O versículo seguinte a ser estudado exige de nossa parte,
para compreendê-lo, muita humildade, sinceridade e lealdade
para com a Bíblia. Dada à sua soleníssima
mensagem, deve-se ao lê-lo despir-se de todo preconceito
denominacional, bem como desarmar-se de toda idéia pré-concebida.
Eu fiz isso, um dia, graças a Deus!
Este versículo é mais uma peça saliente na
epístola aos Gálatas, o centro e a rocha de que
se valem milhares de bons irmãos de todas as religiões
cristãs, para aceitar que a Lei Moral dos Dez mandamentos
foi abolida, que Paulo é contrário a ela. Evidentemente
é inegável que Paulo demonstra repulsa por uma lei.
Mas... qual lei?
Você verá que, sem isolar o versículo do seu
contexto, ficará fácil entendê-lo e descobrir
que lei ele enfoca. Isso só é possível, pois
estamos com a humildade de um sincero estudante da palavra de
Deus, desenvolvendo o pensamento de Paulo, não é?
Portanto, conhecedores que somos dos fatos iniciais da espístola,
estamos cabalmente em condições de compreendê-lo.
Vamos ler:
Gálatas 3: 10
“Todos aqueles pois que são das obras da lei estão
debaixo da maldição; porque escrito está:
maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas
que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.”
Se tivéssemos aberto a Bíblia agora, tomado de lá
este versículo e, após fechá-la, o lêssemos,
ele “falaria” diferente. Felizmente, nós estamos estudando
toda a epístola, e por isso a mensagem dele para nós
agora será aquela que Paulo queria de fato transmitir,
e não a mensagem isolada que parece, encerra o versículo,
e que tem enganado tanto crente sincero.
Convidamos o irmão a parar aqui e ler ou reler o capítulo
A SANTA LEI DE DEUS e as MÁXIMAS PAULINAS, isto é,
se você ainda tiver dúvidas quanto à “lei”
que Paulo focaliza nesta epístola; mas se tudo está
claro aos seus olhos, caminhe. Saliento, entretanto, para que
o irmão grave bem, que a lei exaustivamente enfocada por
Paulo nesta epístola, e especialmente neste verso, é
a lei que o Dicionário Bíblico qualifica de Lei
Cerimonial, porque:
• Quem pratica ou guarda seus mandamentos está sob maldição.
Logicamente não poderá ser jamais a Lei Moral dos
Dez Mandamentos que o Dicionário Bíblico disse ser
eterna e que não muda. Sim, porque nestes Dez Mandamentos,
que foram divididos sabiamente em duas partes pelo Criador, os
quatro primeiros dizem respeito à nossa obrigação
para com Deus, e os seis restantes, para com o nosso próximo.
Portanto, amar a Deus de todo o coração, de toda
a alma e pensamento, é cumprir os primeiros quatro mandamentos
da primeira tábua de pedra. E amar nossos semelhantes como
a nós mesmos é cumprir os seis restantes da segunda
tábua de pedra. Por favor, responda-me: Isso é ser
maldito? Amar a Deus e ao próximo que são os reclamos
da Lei Moral é estar sob maldição? – Claro
que não! Correto?
• Essa lei que Paulo menciona foi escrita em um livro (II Crôn.
35:12). Portanto, só isso bastaria para que todos compreendam
que essa lei focada pelo apóstolo na epístola dos
Gálatas é a Lei Cerimonial, porque a Lei Moral dos
Dez Mandamentos foi escrita pelo próprio Deus e em PEDRAS
(Êxo. 31: 18). Evidentemente, pedra é granito, livro
é pergaminho, pele de animal e casca de madeira. Bem diferente!
Ademais, quem escreveu esta lei insistentemente abordada em Gálatas,
não foi Deus, e sim Moisés. É o que descobriremos
agora, quer ver?
Deuteronômio 31: 24
“E aconteceu que, acabando Moisés de escrever as palavras
desta lei NUM LIVRO, até de todo as acabar.”
Paulo queria e precisava urgentemente livrar das garras dos “professores
judaizantes” o seu indefeso rebanho e, para tal, tenta com toda
a força do coração tirar da sua mente a inútil
observância de uma “lei” que já fora caducada e abolida
pela morte de Cristo (Col. 2:14; Efé. 2:15). Por isso que,
no discorrer de todo o capítulo 3, fomenta a incapacidade
da Lei Cerimonial para justificar o homem. Esse papel só
a Jesus compete. Entretanto, esta lei, já que foi dada,
teve o seu valor e desempenhou o seu papel, mas necessariamente
teria que findar quando realizasse toda a obra para a qual fora
criada. Assim, pois, é que diz Paulo:
Gálatas 3:24
“De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo,
para que pela fé fôssemos justificados.”
A Lei Cerimonial, enfadonhamente mencionada por Paulo em Gálatas
e referendada pelo Dicionário Bíblico da Imprensa
Bíblica Brasileira, que muito nos está auxiliando,
constituía-se de muitas cerimônias e não somente
da circuncisão, que foi a pedra de tropeço dos gálatas.
Essas cerimônias foram criadas para desenvolver no homem,
ao praticá-las, a fé no Messias que viria futuramente.
Dentre elas, talvez, a mais contundente e que falava mais profundamente
ao coração do judeu, pelo menos Deus desejava que
assim fosse, era o sistema sacrifical. Ao transgredir um dos Dez
Mandamentos, o homem deveria morrer. Essa era a exigência
da Lei Moral; entretanto, o pecador tinha uma “válvula
de escape”. Ele não precisaria morrer, bastava que providenciasse
um substituto, que devia ser um cordeiro sem manchas ou defeitos
físicos.
Tomava então o pecador o animalzinho em seus braços
e o levava ao sacerdote, no templo. Este, por sua vez, dispunha-o
sobre o altar, e o pecador colocava suas mãos sobre a cabeça
do animal e confessava seu pecado, após o que, com suas
próprias mãos, imolava a indefesa vítima
de seu pecado, vendo o sangue jorrar por entre as vísceras
cortadas. Era um ritual marcante. Uma cerimônia cuja finalidade
era mostrar ao homem que:
• Quem deveria morrer era ele, pois foi quem pecou.
• Deveria permanecer gravada em sua mente a hediondez do pecado.
O pecado gera a morte. O pecado, aos olhos de Deus é tão
aborrecível, malígno e abominável, que, para
se obter o perdão, há a necessidade de derramamento
de sangue.
• Deveria impressioná-lo aquela cena, ao contemplar naquela
indefesa vítima a figura do Messias que o tanach profetizava.
Compreender o papel do Messias em Se transformar na oferta viva
pelo pecado, o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
João 1: 29.
Por conseguinte, a Lei Cerimonial era um conjunto de ritos criados
por Deus para desenvolver a fé no futuro Messias e dessa
forma abrir os corações para recebê-Lo e amá-Lo.
Assim que, têm muita razão as palavras de Paulo:
“A lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo”. Lógico,
era sua única e específica função.
Vindo porém Cristo, que necessidade havia de continuar?
Nenhuma! Ao homem agora, bastava crer e aceitar aquela oferta
viva, Jesus, fazendo dEle seu Senhor e Salvador; nada mais claro.
A beleza desse ritual dizia para os israelitas que, o sistema
sacrifical constituía-se o evangelho. Mostrava-lhes o caminho
para comungar com Deus e com Ele manter sempre um relacionamento
amistoso. Sobretudo, desejava o Senhor impressioná-los
com o centro desse sistema, que era a solene verdade que o pecado
ocasiona a morte. Daí, durante todo o ano, no templo, diariamente,
de manhã e à tarde, era oferecido em holocausto
um animal.
Outrossim, deveriam compreender que o perdão do Céu
só seria possível única e exclusivamente
através da confissão do pecador e a intercessão
do sangue; nesse caso, o sangue do animal imolado. Após
o ritual, o pecador saía da presença do sacerdote.
Estava perdoado. Justificado de suas faltas e pecados. Mas...
qual foi o preço? A vida do animal. Portanto, o perdão
custa caro. Isso deveria impressionar de tal forma o pecador que
o levasse a viver em retidão e obediência aos Dez
Mandamentos. Toda vez que qualquer israelita pecasse deveria seguir
esses passos, e a cena se repetiria infindamente, até que
surgisse Aquele que daria Sua vida para salvar o homem de seus
pecados – Jesus – para quem apontava todo esse ritual.
Por outro lado, a Lei Moral também é o aio que leva
o pecador a Cristo, quando ela o acusa por alguma transgressão
de seus mandamentos, e este sente a necessidade do perdão,
e o busca pela fé, na Graça de Cristo.
O capítulo 4 de Gálatas é fascinante em sua
apologia. Paulo irá mostrar aquilo que para eu e você
está claro: “O evangelho nos isenta da lei”. Mas... logicamente,
da Lei Cerimonial. Não esqueça o que disse o Dicionário
Bíblico. Assim é que no verso 4 do capítulo
4, diz Paulo: “Mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu
Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.”
Certíssimo! Ao nascer Jesus, o ritual mosaico, ou sistema
sacrifical, estava em franco funcionamento, muito embora bem distante
daquilo que o Senhor Deus pretendia. Os judeus perverteram todo
aquele belo e tremendo ritual, e o transformaram em mero “caça-níqueis”.
Os próprios sacerdotes se empenhavam em fomentar e incentivar
o pecado, para que o pecador lhes comprasse as ofertas, que, para
facilitar, já as tinham dentro das dependências do
templo, transformando a Casa de Deus em um mercado barulhento
e fedentino (o átrio era de fato um curral), para vendê-las
ao preço que lhes conviesse (Mat. 21:12). Por isso está
certo Paulo: Jesus nasceu quando este estado de coisas evidenciava-se.
E para confirmar a palavra paulina, lembramos que os pais terrestres
de Jesus seguiram todos os trâmites legais da Lei Cerimonial,
inclusive circuncidando-O, dentro do prazo estatuído por
Moisés. Portanto, “nascido sob a lei”, isto é: sob
sua atuação e vigência, está claro.
Gálatas 4:5
“Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos
a adoção de filhos.”
Se a Lei Cerimonial apontava para Cristo, como afirma Paulo, pois
era o seu único papel, Ele viria exatamente para tomar
o lugar da oferta que era morta no ritual da manhã, da
tarde e pelo pecado, e acabar com todos os símbolos que
apontavam para Sua obra redentora. Por isso recebemos a “adoção
de filhos”, ou seja: fomos criados à imagem de Deus; arrebatados
pelo pecado, perdemos essa condição de filhos; entretanto,
agora, arrancados das garras de Satanás, fomos “adotados”
por Cristo, pelo Seu sangue e maravilhoso sacrifício na
cruz do Calvário, graças à Deus! Paulo procurava
insistentemente mostrar aos gálatas que, com a vinda do
Messias Jesus, o homem não mais podia ser salvo sob o judaísmo,
escorado na Lei Cerimonial.
O passo seguinte seria também difícil de dar, não
fosse a maneira como estamos estudando esta epístola. Felizmente
você e eu adotamos a maneira correta de estudar a Bíblia,
não é? Assim é que, Gálatas 4: 9 e
10, estudado em concordância com o contexto, dentro da sequência
do pensamento paulino, dará também sua mensagem
certa, e não aquela que os pregadores de hoje estão
ensinando, que não corresponde à verdade e, muito
menos, ao desejo do apóstolo. Diz ele:
Gálatas 4: 9-10
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou antes, sendo conhecidos de Deus,
como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos
quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses e tempos
e anos.”
Tenho certeza que você sabe onde enquadrar “esses rudimentos
fracos e pobres”. Naturalmente se você leu as MÁXIMAS
PAULINAS, já bastaria. Entretanto, deixaremos bem gravado
que a “lei” enfocada novamente por Paulo, agora neste capítulo,
é aquela que o nosso bom dicionário bíblico
diz ser: Lei Cerimonial, porque:
• Na sequência do pensamento de Paulo, está ele mostrando
a inutilidade daquelas cerimônias introduzidas pelos judaizantes
em sua ausência. Diz que é maldito (Gál. 3:10)
todo aquele que praticar aquelas obras, depois que se tornaram
obsoletas. Por outro lado, na Lei Moral não existem cerimônias.
Ela enobrece o homem, moraliza-o, dignifica-o, daí não
conter maldição.
• Menciona Paulo que a Lei Cerimonial foi escrita em um livro
(Gál. 3:10), ao passo que a Lei Moral foi escrita em blocos
de pedra (Êxo. 31:18).
• Diz Paulo que a Lei Cerimonial tinha um propósito: mostrar
a obra redentora de Cristo. E isso não pode ser requerido
da Lei Moral. Nos Dez Mandamentos não há ordem para
circuncidar, nem matar animais, ou outro ritual qualquer, os quais
simbolizavam e apontavam a obra expiatória de Jesus.
• Ninguém será maldito por guardar a Lei Moral;
pelo contrário, ela ajuda o homem a tornar-se elevado,
nobre, de bons princípios, correto. Afinal, é a
“Lei Real”. A lei do Céu (Tiago 2:8).
• A Lei Moral não tem “rudimentos”, e sim, “mandamentos”.
Paulo, referindo-se à Lei Moral, disse:
Romanos 7: 12 – “E assim a lei é santa, e o mandamento
santo, justo e bom.”
– Viu? Mandamento, e não rudimento!
Romanos 3: 31 – “Anulamos pois a lei pela fé? De maneira
nenhuma; antes, estabelecemos a lei.”
Fica, por conseguinte, claríssimo que a “lei” de “rudimentos
fracos e pobres” jamais pode ser a Lei Moral dos Dez Mandamentos,
que é enaltecida por Paulo, e que mesmo a fé não
a pode anular.
• Portanto, a Lei Cerimonial é que se enquadra no texto,
pois ela, sim, tem “rudimentos”, e estes são, sem dúvidas,
“fracos e pobres”, foram e são impotentes para justificar.
Cumpriram sua missão e pronto. Acabou. E note o paradoxo:
os rudimentos foram anulados pela fé em Cristo.
• A Lei Moral não exige a guarda de “dias” e sim de “um”
dia, ordenado por Deus – o Sábado – memorial eterno do
poder criador de Jeová.
• Na Lei Cerimonial havia sim: “dias”, “meses” e “anos”. Eram
sete festas anuais, consideradas feriados altamente solenes, a
saber:
GRÁFICO 11 – FESTAS E PÁSCOA
Essas festas se davam durante o transcorrer do ano judaico. Eram
datas fixas em dias móveis. Por exemplo, data fixa quer
dizer: um dia de determinado mês. Dia móvel indica
que esse dia podia cair em uma segunda-feira, quarta, quinta,
Sábado, etc. (Assim como o nosso sete de Setembro que é
feriado nacional, não cai continuadamente no mesmo dia
da semana, porém, é uma data fixa – sete de Setembro).
Eram “dias” guardados com tanta solenidade pelos judeus que se
assemelhavam ao Sábado do sétimo dia da semana,
pois que, naqueles “dias” em que caíam tais festas, toda
a nação parava. Os afazeres cotidianos e seculares
findavam, semelhante ao que faziam durante o Sábado do
Senhor. Aliás, também eram esses “dias” apelidados
de sábados (Isa. 1:13; Osé. 2:11).
OBSERVE ESTE PORMENOR:
A páscoa ocorrida na última semana de vida do Senhor
coincidiu cair no dia de Sábado do sétimo dia da
semana; por isso foi “grande aquele Sábado” (João
19:31). Era um sábado cerimonial, dentro do Sábado
moral.
Assim que, os gálatas guardavam “dias” (eram esses feriados),
“meses” (porque eram meses fixos), e “anos” (durante todos os
anos, até a morte de Jesus – Heb. 10:1). Exatamente como
enfatizou Paulo aos gálatas, que retornavam ao judaísmo,
empurrados pelos professores judaizantes.
Portanto, nada mais claro e lógico que a “lei” insistentemente
abordada por Paulo aos gálatas não é outra
senão a Lei Cerimonial. É o que diz a Bíblia.
Resta de sua parte, irmão, a decisão para aceitar.
O capítulo 5 de Gálatas é altamente importante,
dada a sua clareza meridiana no contexto de toda a epístola,
cujo tema principal abordado inegavelmente é a circuncisão.
Gálatas 5:1-4
“Estai pois firmes na liberdade com que Cristo vos libertou, e
não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão.
Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar,
Cristo de nada vos aproveitará. E de novo protesto a todo
homem que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar
toda a lei. Separados estais de Cristo, vós, os que vos
justificais pela lei; da Graça tendes caído.”
Pare um pouquinho, mas não tire sua atenção
de Gálatas.
Vamos dar um pulinho lá em Jerusalém.
Atos 15: 5
“Alguns, porém, da seita dos fariseus... se levantaram,
dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhe que
guardassem a LEI DE MOISÉS”
GRAVE ESTE DETALHE: Paulo diz aos gálatas,
que, quem “se deixa circuncidar... está obrigado a guardar
toda a lei.” – Responda: Qual a lei que continha a CIRCUNCISÃO
como um mandamento: Moral ou Cerimonial?
Observe que Paulo novamente enfatiza o tema central especulativo
da epístola: a circuncisão. Os gálatas buscavam
com “denodo e muita severidade” a justificação pelas
suas próprias obras, e o apóstolo sabia que nada
disso tinha valor; mesmo que eles observassem todos os ritos mosaicos
com a maior sinceridade, de nada adiantaria. O homem só
será justificado e salvo pela sua fé em Cristo,
nada mais. Paulo então determina, como que cansado de falar,
arguir e repreender: “Se vos deixardes circuncidar, Cristo de
nada vos aproveitará”. E isso é fácil de
compreender agora, pelo estudo que fazemos de toda epístola,
não é?
Cristo Jesus morreu. Sua morte cancelou a Lei Cerimonial. Agora
era mister apenas exercer fé no ressurreto Filho de Deus,
para que o homem fosse justificado. Isso é Graça.
Se os gálatas continuassem a buscar justificação
pelo cumprimento e prática das obras da Lei Cerimonial,
a Graça não teria nenhum valor para eles. Por certo,
“da Graça cairiam”. Por quê?
Gálatas 5:6
“Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão
tem virtude alguma; mas sim a fé que opera por caridade.”
Que clareza meridiana! Que declaração límpida!
Inteligível! Perceptível! Só a mente infantil,
desinteressada, ou enferma, deixará de alcançar
que Paulo passou toda a epístola digladiando, lutando para
colocar na mente dos gálatas que o ritual da circuncisão,
sendo parte integrante e saliente dos dogmas cerimoniais, perdera
o seu valor e significado com o advento do Messias. Aliás,
para eles isso não era uma doutrina nova; fora o evangelho
que Paulo lhes pregou anteriormente. Eles haviam aceitado desta
forma e até posto em prática, pois o que se depreende
do versículo seguinte é isso:
Gálatas 5:7
“Corríeis bem; quem vos impediu para que não obedeçais
à verdade?”
“QUEM VOS IMPEDIU...?”
Observe a enfática indagação de Paulo:
Quem?... Os professores judaizantes heréticos. Eles adoçaram
sua mensagem de tal maneira, que não demorou muito e os
gálatas estavam todos embevecidos e apegados à circuncisão.
Os tais professores, naturalmente, devem ter-se servido de argumentos
contundentes, pois que, deixar os ensinamentos de Paulo anteriormente
recebidos, para aceitar aquelas ordenanças agora apagadas,
sem vida ou qualquer significado cristão, é demais.
Leia com atenção estes depoimentos:
“Em quase todas as igrejas havia alguns membros que eram judeus
de nascença. A estes conversos os ensinadores judeus acharam
fácil acesso, e, por meio deles, obtiveram apoio nas igrejas.
Era impossível, por argumentos escriturísticos,
subverter as doutrinas ensinadas por Paulo; por isso eles recorreram
às medidas mais inescrupulosas para neutralizar sua influência
e enfraquecer sua autoridade. Declararam que ele não tinha
sido discípulo de Jesus e não tinha recebido dEle
encargo; todavia ousava ensinar doutrinas diretamente opostas
àquelas mantidas por Pedro, Tiago e outros apóstolos.
Assim os emissários do judaismo tiveram êxito em
alienar muitos dos conversos cristãos de seu instrutor
do evangelho. Tendo obtido seu desígnio, induziram-nos
a retornar à observância da Lei Cerimonial como sendo
essencial à salvação. A fé em Cristo
e a obediência à Lei dos Dez Mandamentos foram consideradas
de importância secundária. Divisão, heresia
e sensualismo rapidamente obtiveram terreno entre os crentes da
Galácia.” – The Seventh Day Adventist Bible Commentary,
vol. 6, pág. 1108. Grifos meus.
“A sua relação com a Lei Cerimonial (Col. 2: 15-16).
As festas, os dias santos e outras observâncias cerimoniais
judaicas não passam de símbolos e figuras representando
Cristo. Agora, desde que Cristo veio e cumpriu os símbolos,
os mesmos tornam-se desnecessários.” – Pr. Myer Pearlman
(teólogo Assembleano), Através da Bíblia,
pág. 293.
Novamente o paladino da verdade não se faz por esperar
e levanta sua voz já quase rouca:
Gálatas 5:10,12
“Confio de vós, no Senhor, que nenhuma outra coisa sentireis;
mas aquele que vos inquieta, seja ele quem for, sofrerá
a condenação... Eu quereria que fossem cortados
aqueles que vos andam inquietando.”
Paulo pregara o evangelho da liberdade. Cristo concedera a liberdade
facultada pelo evangelho. Fé, somente fé em Seu
sacrifício. Fé e testemunho em favor de Cristo,
eis tudo que era necessário. Entretanto, queriam novamente
os gálatas meter-se debaixo da servidão do ritual
mosaico; reviver os momentos do sistema sacrifical e da infinidade
de cerimônias, agora inúteis e sem nenhuma expressão,
pois Jesus Cristo, O Justo, tornara-Se a oferta viva pelo pecado,
o Cordeiro Pascal e, assim, abolira a Lei Cerimonial, conforme
a mesma segura e abalizada palavra do apóstolo Paulo, ouça:
Colossenses 2:14:
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas
suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária...,
cravando-a na cruz.”
Efésios 2:15:
“Na Sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos,
que consistia em ordenanças, para criar em Si mesmo dos
dois, um novo homem, fazendo a paz.”
Foi realmente o que aconteceu. Quando exangue o Salvador expirava
na cruz, lá no templo de Jerusalém o sacerdote se
preparava para oficiar o ritual da tarde, alheio ao magistral
acontecimento daquele fatídico dia. O cordeirinho estava
amarrado sobre o altar, semelhante ao que era feito por milênios.
Naquela tarde, como de costume, o animalzinho seria sacrificado.
Ao bradar Jesus na cruz, “está consumado”, toda a natureza
demonstrou sua repulsa pelo tétrico quadro, retirando sua
luz natural, e os elementos, entrando em comoção,
suspiravam pela vida de seu Criador, enquanto que, miraculosamente,
o nédio cordeiro se desprende do altar e foge, deixando
espavorido o sacerdote ministrante que, para seu completo torpor,
nota que o véu do templo que separava o lugar santo do
santíssimo, rasga-se de alto a baixo por mãos potentes
e invisíveis (Mat. 27:51). Era o cumprimento in-loco de
todas as profecias messiânicas do Antigo Testamento. Em
especial a de Daniel, que agora cumpre-se fidedignamente:
Daniel 9:27
“E Ele firmará um concerto com muitos por uma semana; e
na metade da semana fará cessar o sacrifício e as
ofertas de manjares...”
Terminara portanto o ritual que, por milênios, impressionara
os judeus. Pendia altaneiro do Gólgota o Messias Jesus,
a sombra e figura que apontavam todos aqueles ritos cerimoniais
(Heb. 9). Por conseguinte, agora a cruz tornara-se o emblema de
fé, símbolo de salvação. Findara o
tempo da justificação pelas obras da Lei Cerimonial,
e raiava o tempo da justificação pela fé
em Cristo. E isso os gálatas rejeitavam, absorvidos que
estavam pelo vento de doutrina dos “professores judaizantes”.
Paulo vai agora exteriorizar seu descontentamento abertamente,
por aqueles ensinadores heréticos que, no seu entender,
queriam apenas se gloriar de que leva-ram os gálatas de
volta ao judaísmo, rejeitando assim a mensagem pura e genuína
do Evangelho Cristocêntrico.
Gálatas 6:12
“Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses
obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos
por causa da cruz de Cristo.”
Paulo quer dizer que os “professores judaizantes” combatiam o
cristianismo porque este exige renúncia e decisão;
sobretudo vivê-lo era expor-se ao escárnio bem como
à morte, riscos a que Paulo nunca fugiu (II Cor. 11:23-28).
E eles não desejavam isso. Como bem dissera o apóstolo,
o que não queriam era “ser perseguidos por causa da cruz
de Cristo”. No entanto, na igreja pareciam verdadeiros cordeirinhos,
de fala macia e gestos delicados. Tudo fingimento. O que desejavam,
de fato, era minar, destruir a fé dos crentes da Galácia.
Lamentavelmente conseguiram. Levaram-nos a enamorar-se da circuncisão
e colocá-la em prática, em plena ascensão
do cristianismo. (Conseguiram, inclusive, levá-los a se
constituírem inimigos do apóstolo Paulo – Gál.
4:16).
É como hoje: Se por um lado não se corre risco nenhum
de nomear-se o nome de cristão, podendo portanto testemunhar
abundantemente da cruz do Salvador, há por outro, uma enorme
tendência de transigir com o pecado, conformando-se com
o erro, e por pouco, quase nada, deixa-se cair o estandarte ensanguentado
do Filho de Deus.
Milhares também aceitam o Sábado, o 4º mandamento
da Lei Moral, como o Dia do Senhor, separado e santificado para
observância, mas, porque lhes faltam coragem para colocar
em prática essa fé, por medo de pedí-lo ao
patrão, não o observam. Fecham assim a torneira
das bênçãos celestes. Desobedecem a Deus e
submetem-se aos homens. Por favor, amado, não se conforme
com “tostões”. Satisfaça-se só com “milhões”.
Você é que determina a quantidade de bênçãos
que quer. O reservatório celeste continua cheio. Fé
é o meio de abrí-lo, mas uma fé operante,
traduzida em obediência. Reclame a palavra empenhada do
seu Poderoso Deus. Aleluia!
Ainda está na arena o paladino da verdade – o defensor
do cristianismo:
Gálatas 6:13
“Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei,
mas querem que vos circuncideis para se gloriarem na vossa carne.”
Neste versículo, Paulo deixa claro que todo o tema e preocupação
da epístola são motivados pela circuncisão.
Assim aceitarão os sinceros de coração que
são os “cidadãos do Céu”, porque, afirma
o apóstolo, aqueles heréticos ensinadores (“professores
judaizantes”) que insuflaram novamente a circuncisão na
igreja dos gálatas, eles mesmos não guardavam a
Lei Cerimonial, pois que esta não se compunha apenas do
rito da circuncisão mas de uma infinidade de abluções,
ofertas, sacrifícios e ordenanças.
Agora, prezado irmão, apelo à suprema sinceridade
de seu coração anelante pela verdade, para o desfecho
da epístola, que foi dramaticamente enfatizado por Paulo:
Gálatas 6:15
“Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão
tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura.”
Ser uma nova criatura, resgatada pelo sangue de Jesus, transformada
pela fé no imaculado Salvador, era este o desejo de Paulo
para os crentes da Galácia. E isso só era e é
possível quando o homem crê em Cristo Jesus como
seu Salvador pessoal, demonstrando sua fé através
de uma vida de obediência, culminada com o ato público
do batismo cristão. Portanto, cerimônias, ritos,
circuncisão, eram inúteis, impraticáveis
no que concerne à justificação da parte do
Senhor Jesus.
“Uma nova criatura”. Eis o que Deus quer.
Você gostaria de ser uma nova criatura? Se deseja!...
Viaje em pensamento até a Igreja de Corinto, sente-se no
primeiro banco, poste-se diante do Rei do Céu, pois convidamos
o campeão da cruz, para pregar um grandioso sermão
para você. Ei-lo:
I Coríntios 7:19
“A circuncisão é nada e a incircuncisão nada
é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus.”
Ouviu? Gravou?
Aqui, Paulo define claramente as duas leis no conflito dos gálatas.
Nega com veemência a lei da circuncisão (cerimonial)
e realça os mandamentos de Deus (Lei Moral).
Assim, caro irmão, descoberta qual foi a Lei que Paulo
menciona insistente e exaustivamente na Epístola aos Gálatas,
cuja preocupação geral foi a circuncisão,
isto é, a Lei Cerimonial, resta para você uma alternativa,
bem como uma oportunidade, se é que até hoje não
a compreendeu: Guardar a “lei” que Paulo menciona aos coríntios,
que é: A Lei Moral dos Dez Mandamentos, aquela que não
muda, é eterna, (Rom. 7:12) é justa, é boa,
escrita duas vezes pelo dedo de Deus (Êxo. 31:18), em tábuas
de pedra, e hoje, sob o Novo Concerto, escrita nas tábuas
de carne de nosso coração, conforme as palavras
de Hebreus 8:10 e Jeremias 31:33.
Esta gloriosa lei que revela a condição do homem,
que lhe mostra o pecado, que é sobretudo o fundamento do
governo de Deus, e de Seu caráter, será a norma
de justiça no grande julgamento do Senhor, o Dia do Juízo.
Tiago 2:12.
Meu irmão, decisão envolve coragem. Você é
corajoso. Decida-se. Siga as pisadas de seu Mestre. Ele é
seu sustentáculo. Ele lhe dará poder. Você
será um vencedor, ao aceitar e praticar o que diz a Bíblia.