Voltemos
quase dois mil anos até a humilde vila de Nazaré, na
antiga Palestina. é meio de semana quando caminhamos
pela estrada rua de pedras, passando pelas pequenas
lojas com suas portas abertas. Vemos os operários usando
suas ferramentas ao passarmos pelas oficinas. E aí,
chegamos a uma oficina bem diferente. A frente está
muito bem pintada, e a rua foi varrida há pouco. Entramos
e encontramos um homem muito gentil, trabalhando como
carpinteiro, e ao seu lado um jovem assistente.
O
rapaz está aplainando um pedaço de madeira, tornando-o
liso e reto. Descansa um momento e enxuga a testa. Quando
Ele se vira, vemos que tem o porte de um príncipe, de
um rei. Claro, Ele é o Príncipe dos Céus. Voltamos no
sábado. Mas no sábado a oficina estava fechada. As ferramentas
estavam guardadas. A serragem havia sido varrida. Estava
tudo calmo.
Então
notamos que as pessoas caminhavam na direção de um destacado
edifício bem no centro da vila. Nós os seguimos e nos
sentamos nos fundos de uma casa de reuniões quase lotada.
Esperamos um momento, ansiosos. Imagine a nossa surpresa
ao vermos o jovem carpinteiro encaminhar-se até o púlpito,
abrir o pergaminho e começar a ler. Você consegue imaginar
tudo isso?
O
evangelho de São Lucas nos diz alguma coisa sobre os
hábitos de culto de Jesus.
"E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num
dia de sábado, segundo o Seu costume, na sinagoga, e
levantou-Se para ler." São
Lucas (NT) 4:16.
O
que estamos vendo? Um homem em conformidade com os costumes
de Sua época. Costumes aceitáveis para a Sua geração
mas não para a nossa? Estamos vendo um jovem carpinteiro
judeu seguindo irrefletidamente as tradições do Seu
tempo, ou estamos vendo um Criador descansando no dia
em que Ele próprio separou para os homens?
Existe
algum dia aceitável para Deus? Sexta, Sábado ou Domingo?
Existe algum dia preferido por Deus? Leia os três textos
bíblicos que trazem a resposta. O primeiro está em
Apocalipse (NT) 1:10. "Eu
fui arrebatado em Espírito no dia do Senhor, e ouvi
detrás de mim uma grande voz, como de trombeta."
Tem uma coisa que essa passagem diz com muita clareza.
Diz que o Senhor tem um dia, "o dia do Senhor"; mas
ele não nos diz qual dos sete dias da semana é o dia
do Senhor. Apenas diz que o Senhor tem um dia. Mas esse
é um passo na direção certa.
Vamos
à segunda passagem.
São Mateus (NT) 12:8: "Porque
o Filho do homem até do sábado é Senhor." Esse texto
diz que Cristo é Senhor do sábado."
Portanto, entende-se que o sábado é o dia do Senhor.
De fato, no livro de Isaías, Deus chama o sábado de
Meu santo dia".
E
agora, o terceiro texto. "Lembra-te do
dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás,
e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado
do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu,
nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a
tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro,
que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias
fez o Senhor os céus, e a terra, o mar e tudo que neles
há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor
o dia do sábado, e o santificou." Êxodo
(VT) 20:8-11.
Descobrimos
nesses três versículos que o sétimo dia é o sábado do
Senhor. E Deus considerou o sábado tão importante que
ele fez dele um dos Dez Mandamentos. Quando Jesus entrou
naquela casa de reuniões num sábado, era apenas um carpinteiro
judeu seguindo mecanicamente as tradições do Seu tempo,
ou era o Criador descansando no dia que Ele próprio
tinha feito para isso?
"Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo
não O conheceu." São
João (NT) 1:10.
Está
bastante claro. Mas quem era "Ele"? Poderia estar se
referindo a qualquer outro, além de Jesus? é claro que
não.
Em
Colossenses (NT) 1:15
e 16 encontramos o seguinte a respeito
de Jesus:
"O que é imagem do Deus invisível, o primogênito de
toda a criação; Porque nEle foram criadas todas as coisas
que há nos céus e na terra..."
Muito
antes de Ele ter nascido em Belém, Deus "deu o Seu filho".
Jesus é nosso Criador. O Cristo do Calvário é o Criador
de Gênesis. Rejeitar um é rejeitar o outro.
O
sábado é a própria pulsação do evangelho. Jesus tinha
todo o direito de dizer: "O Filho do homem é o Senhor
do Sábado." Jesus disse pouco sobre o sábado. Não havia
motivo para discussão. A identidade do dia do descanso
nunca foi questionada. A única controvérsia levantada
foi sobre o modo como Ele o guardava. Ele estava continuamente
curando os doentes durante as horas sagradas, e com
isso chocava os líderes religiosos da época. Eles jamais
sonhava que Aquele que estava perante eles era o mesmo
que havia feito o sábado.
Vamos
agora ao encerramento do ministério de Cristo, aquele
trágico fim de semana da paixão, e observar os Seus
seguidores enquanto se depararam com a hora do pôr-do-
sol, na sexta-feira, no início do sábado. No primeiro
capítulo de Gênesis, no relato da criação, lemos que
"..foi a tarde e a manhã o dia primeiro. ...foi a tarde
e a manhã o dia segundo. ...foi a tarde e a manhã o
dia terceiro." E assim por diante. A parte escura do
dia vinha antes da parte clara. Assim o dia, na contagem
de Deus, começa ao pôr-do-sol e não à meia-noite. Isso
quer dizer que o sábado se estende do pôr-do-sol de
sexta-feira até o pôr-do-sol da sábado. De fato, a Palavra
de Deus diz: "...duma tarde a outra tarde, celebrareis
o vosso sábado." Levítico
(VT) 23:32.
Jesus
tinha sido crucificado e colocado no túmulo. O sábado
se aproximava. O que os discípulos fariam? Suas esperanças
tinham sido despedaçadas naquele dia. Pensaram que tinham
cometido um erro. Não há palavras para descrever a profundidade
do desespero que experimentavam. E se houvesse alguma
coisa no exemplo de Jesus para incentivar o descuido
para com a observância do sábado, certamente perceberíamos
na atitude de Seus amigos mais chegados.
Mas
vejamos o que aconteceu. "Esse, chegando
a Pilatos, pediu o corpo de Jesus. E havendo-O tirado,
envolveu-O num lençol, e pô-Lo num sepulcro escavado
numa penha, onde ninguém ainda havia sido posto. E era
o dia da preparação, e amanhecia o sábado. E as mulheres,
que tinham vindo com Ele da Galiléia, seguiram também
e viram o sepulcro, e como foi posto o Seu corpo. E,
voltando elas, prepararam especiarias e ungüentos, e
no sábado repousaram, conforme o mandamento. E no primeiro
dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro,
levando as especiarias que tinham preparado."
São Lucas (NT) 23:52
a 24:1.
Note
que três dias consecutivos são mencionados. O dia da
preparação, o sábado do mandamento e o primeiro dia
da semana. Dois receberam títulos sagrados, "o dia da
preparação" e o "sábado do mandamento". O outro dia
recebeu apenas um número ordinário: "o primeiro dia
da semana".
Então
por que a maioria dos cristãos guarda o primeiro dia
da semana? Quem autorizou essa mudança? O Novo Testamento
não dá qualquer indicação de mudança do dia de repouso,
por isso temos que recorrer à História para descobrir
como, quando e por que foi feita a mudança.
Essa
mudança ocorreu através de uma determinada combinação
de circunstâncias. Por volta de 132 a 135 d.C., aconteceu
uma revolta judia sob Bar Cocheba. Como resultado dessa
revolta, os judeus ficaram desacreditados por todo o
Império Romano. E para evitar a perseguição que se seguiu
aos judeus, encontramos os cristãos cada vez mais preconceituosos
com relação a qualquer identificação com eles. E como
a guarda do sábado era uma prática realizada em comum
com os judeus, muitos cristãos começaram a minimizar
essa obrigação. Mas a perseguição foi apenas um fator.
O
desejo de aceitação e popularidade foi igualmente responsável
pela indiferença que logo se transformou em apostasia.
A Igreja percebeu rapidamente a vantagem de se comprometer
com o paganismo. E as vantagens da popularidade que
viriam com o influxo de novos membros do mundo pagão?
Para tornar seu convite mais interessante, por que trazer
para a igreja alguns dos populares costumes pagãos?
Tal fusão de costumes não iria fazer com que os pagãos
se sentissem em casa na Igreja? Por que não adotar o
dia pagão de festança? Foi essa a razão. Assim começou
a erosão gradual da pureza da igreja primitiva.
Na
primeira parte do quarto século, Constantino, o imperador
romano, se tornou cristão. Ele ainda era pagão quando
decretou que os escritórios do governo, cortes e as
oficinas dos artesãos deveriam fechar no primeiro dia
da semana, "o venerável dia do Sol", como era chamado.
E foi naquele mesmo século que o Concílio de Laodicéia
expressou a preferência pelo domingo. Uma vez que muitos
cristãos tinham sido adoradores do Sol antes de sua
conversão ao cristianismo (os adoradores do Sol guardavam
o primeiro dia da semana há séculos), tornar o domingo
um costume cristão seira uma vantagem para a igreja.
Assim,
por vários séculos, ambos os dias foram observados lado
a lado. De fato, essa prática paralela continuou até
o século seis com o verdadeiro sábado sendo observado
em muitas áreas do mundo cristão. Mas com o paganismo
se infiltrando na igreja, sob a influência tanto da
popularidade como da perseguição, o domingo foi enfatizado
cada vez mais, e o sábado cada vez menos. Os escritos
dos pais da igreja primitiva nos contam a história.
Eles traçaram o caminho da apostasia. Eles registraram
as práticas da igreja primitiva. Nenhum escritor eclesiástico
dos primeiros três séculos atribuiu a origem da observância
do domingo a Cristo nem aos apóstolos.
Augusto
Neander, um dos principais historiadores da era cristã,
escreveu:
"O festival do domingo, como todos os outros festivais,
era apenas uma ordenança humana, e estava longe da intenção
dos apóstolos estabelecer um mandamento divino a esse
respeito. Não era intenção deles nem da igreja apostólica
primitiva transferir as leis do sábado para o domingo."
-
A História da Religião e da Igreja Cristã, pág. 186.
Dean
Stanley, no livro Lições Sobre a Igreja Oriental pág.
291, diz: "A retenção do antigo nome pagão
Bies Solis ou Domingo para o festival semanal cristão
é, em grande parte, devido à união dos sentimentos pagãos
e cristãos."
Nos
anos recentes, muitos cristãos reconhecidos, que também
observam o domingo, têm afirmado publicamente que o
dia de culto foi mudado pelo homem, não por Deus. Eis
uma declaração encontrada na publicação oficial católica
Nosso Visitante Dominical, de 11 de junho de 1950, que
defende as crenças católicas na tradição e destaca a
inconsistência da aderência protestante a ela. O editor
de Nosso Visitante Dominical autorizou a publicação
dessa declaração. Ele disse: "Em todos
os seus livros oficiais de instrução, os protestantes
afirmam que sua religião é baseada na Bíblia e na Bíblia
somente, e eles rejeitam a tradição sequer como parte
de sua regra de fé... Não há nenhum lugar no Novo Testamento
onde está declarado claramente que Cristo mudou o dia
de culto do sábado para o domingo. Todavia, todos os
protestantes, menos os Adventistas do Sétimo Dia, observam
o domingo. Os protestantes seguem a tradição ao observarem
o domingo."
Existem
cristãos que realmente observam o sábado. Na verdade,
os Adventistas do Sétimo Dia não são os únicos, mas
o maior grupo, com certeza. J. H. Robinson, no seu livro
Introdução à História da Europa Ocidental, pág. 30,
diz: "De simples começos a igreja desenvolveu
um distinto sacerdócio e um culto elaborado. Deste modo,
o cristianismo e as mais altas formas de paganismo tenderam
a aproximar-se cada vez mais um do outro com o passar
do tempo. Em um sentido, é verdade, eles se encontraram
como exércitos em um conflito mortal, mas ao mesmo tempo
a tendência foi fundirem-se um no outro como extremos
que seguiam rumos convergentes."
Há
também a declaração de William Frederick, no livro Três
Dias Proféticos, págs. 169 e 170: "A essa
altura era necessário à igreja adotar o dia dos gentios.
Mudar o dia dos gentios teria sido uma ofensa e um pedra
de tropeço a eles. A igreja poderia alcançá-los melhor
guardando o dia deles." A terrível verdade
é que o sábado do Senhor Jesus Cristo foi sacrificado
pela popularidade.
O
cardeal Gibbons disse: "Você pode ler
a Bíblia de Gênesis a Apocalipse, e não encontrará uma
única linha autorizando a santificação do domingo. As
Escrituras reforçam a observação religiosa do sábado,
um dia que jamais santificamos." A Fé
de Nossos Pais, 92ª edição, pág. 89. O domingo não está
na Bíblia e não é um mandamento de Cristo. é apenas
uma instituição humana. Mas não é uma tragédia que tenha
vindo pintada com a apostasia, como um legado direto
vindo do paganismo? Que pena que a igreja o tenha recebido
tão cegamente!
Temos
apoiado, sem perceber, uma instituição que não é sagrada?
Com quase vinte séculos de interferência, desde os dias
dos apóstolos, e com as Escrituras disponíveis apenas
aos reis e aos muito ricos, não é de se admirar que
milhões jamais pensaram em questionar sobre o dia de
descanso. Milhões têm cultuado aos domingos, considerando
isso um privilégio santo. E Deus tem aceitado sua sincera
devoção. Mas, com relação ao verdadeiro significado
desta questão, o que podemos fazer exceto andar à luz
do que Deus nos revelou e deixá-Lo fazer a guarda de
verdadeiro sábado um prazer assim como Ele prometeu?
Um
pastor acabara de partilhar estas verdades do sábado
com o seu auditório. Enquanto o último hino estava sendo
cantado, ele saiu pela porta do lado, perto do púlpito.
Ele queria chegar rapidamente à frente da igreja onde
poderia cumprimentar as pessoas ao saírem. Mas um cavalheiro
tinha saído durante o hino de encerramento também, querendo
ficar sozinho, para meditar e orar. Na pressa, o pastor
quase colidiu com esse homem. Ele estava sozinho. Seus
olhos estavam úmidos. Tinha ficado muito comovido com
o que ouvira. O pastor colocou a mão no seu ombro, imaginando
em que poderia ajudar. O homem voltou-se devagar, olhou
com sinceridade para o rosto do pastor, segurou nas
lapelas de seu casaco e disse: "Toda a minha vida, tenho
orado pela verdade. Mas jamais pensei em perguntar a
Deus quanto ela custaria." O Pastor respondeu: "Sim,
a verdade tem seu preço."
Que
tal agradecer a Deus pelo sábado e dizer a Ele que,
custe o que custar: "Estarei disposto a pagar o preço
e andar na luz que o Senhor me tem dado"? Você pode
fazer isso nesse momento. Basta querer.