Cap. 01 - A
Cultura e a Civilização Como Fatores Sanitários |
A
Posição do Problema
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Tem-se
considerado, insistentemente, a cultura e a civilizaçâo
como causas de numerosas enfermidades, antes de ter
chegado, finalmente, criaçâo de conceitos
como a praga da cultura e doenças da civilizaçâo;.
Hoje em dia, compreendem estas expressões, tanto
na literatura técnica como na popular sobre problemas
sanitarios, uma série de enfermidades do metabolismo
e da nutrição, como a cárie dentária,
a periondontose, a ùlcera de estômago,
a diabetes, a obesidade, as doenças, do fígado,
vesímcula, rins, coraçâo e vasos,
assim como o reumatismo, o câncer e a tuberculose. |
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Um
observador superficial poderia tirar a conclução
de que a cultura e a civilizaçao coisas não
desejáveis e, inclusive, francamente prejudiciais.
Desde alguns anos até agora, exagerando a realidade,
aumentam as vozes dos que atribuem á cultura e civilização
mais inconvenientes do que vantagens para o homem, para o
qual situam a cultura e a civilização muito
longe da Natureza, pondo-as até em contradição
com esta última.
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Toda a
autêntica cultura exige, previamente, determinado estado de fé. Tanto nos
aspectos material como espiritual, tal estado de fé manifesta-se mediante a
convicção de a pessoa poder conhecer-se amplamente e desenvolver-se partindo das
próprias possibilidades, mediante um trabalho entusiasta.
No aspecto espiritual, trata-se da
convicção referente a normas e valores morais que se têm de alcançar e pôr em
prática. Quer dizer: vivificar-se. ,Ter cultura,, significa conseguir o domínio
sobre si mesmo, sobre as mas inclinações e paixões. E a formação de um caráter
firme e moral, um anelo mais para lá da vida, uma ponte entre o que os nossos
sentidos captam e não captam, o passo para a eternidade. A cultura é, pois,
coisa do coração. Como é que tal coisa pode levar a »pragas da cultura»?
Mas, continua a ser para nós a
cultura coisa do coração? Ortega & Gasset afirmou que o homem
europeu ja não acredita em nenhuma norma ética. No centro do seu modo de
vida encontra-se a preocupação de viver sem peias morais. A sua posição perante
a vida parece resumir-se no seguinte: julga ter todos os direitos e nem um só
dever. É, por conseguinte, a «incultura» do europeu o que provoca essas tais
«pragas da cultura». A incultura torna-nos doentes. Opõe-se á Natureza e
perturba a obra de Deus.
Embora hoje muitos homens se
esqueçam de procurar o bem, a verdade, a cultura, isso não quer dizer que se tenham esquecido de os
valoriz ar e reconhecer quando se manifestam nos outros homens, de uma forma pura
e desinteressada. A cultura e o progresso autênticos têm de ser aceitos no
quadro das possibilidades naturais como missões impostas por Deus, pois que por
elas se conhece e adora o Criador e não as Suas criaturas.
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A Civilização, Cultura Organizada
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A
civilização, pelo contrario, é apenas uma parte da cultura, exatamente o seu
aspecto técnico. É componente essencial da cultura, necessaria para poder levar
a efeito as suas idéias e teorias. A civilização é um produto da razão, um
instrumento de que o homem se serve, um meio para alcançar um fim, por isso
muito diferente, porque leva consigo o perigo de que os homens não a dominem,
mas sejam dominados por ela. Involuntariamente, pensa-se na «vida burguesa»
quando se ouve a palavra «civilização», precisamente porque procede do vocábulo
latino «civis» (homem da cidade, do burgo). Todas as circunstãncias precisas
para a forma de vida de uma comunidade humana, como a legislação, administração,
organismos sociais, técnicas, reforma das condições naturais de trabalho, vida e
alimentação, a industrialização e a concentração urbana consequente, são obra da
civilização.
Se nos perguntarmos quais são os
efeitos da civilização sobre a sáude do homem, não podemos deixar de reconhecer
que, juntamente com os numerosos efeitos positivos e a ampliação do espaço
vital, trouxe ela consigo uma longa sirie de graves prejuízos, que temos de
enfrentar racionalmente, do mesmo modo que racionalmente fomos criando a
civilizaçâo. É aqui que começa precisamente a nossa tarefa. Importa conhecer, em
primeiro lugar, os danos que a nossa existência civilizada ocasionou ` nossa
sáude, a cada um de nós. Em segundo lugar, poremos a questão de como preveni-los
ou compensa-los.
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