A
RESSURREIÇÃO REPETIDA
Pr. Vanderman
"Bem cedo, numa inesquecível manhã de domingo,
dois homens correram para os montanhosos arredores da cidade
de Jerusalém. A estranha história de uma mulher
havia ficado em seus ouvidos. Ela havia dito que seu adorado
Senhor havia desaparecido do sepulcro. Alguém devia tê-lo
levado.
Somente
uma notícia dessas poderia fazer com que Pedro e João
saíssem de seu esconderijo. Eles temiam por sua vida.
Os que haviam condenado Jesus à morte podiam muito bem
estar em seu encalço também.
João
e Pedro, porém, tinham que descobrir o que havia acontecido
naquele túmulo. À medida em que corriam, pensamentos
confusos passavam por suas mentes.
Dois dias
antes, as esperanças e sonhos dos discípulos haviam
sido destruídos no monte chamado Gólgota. Seu
mundo havia desabado. Até mesmo Deus parecia ter desaparecido.
Agora, Pedro
e João se perguntavam se a informação das
outras mulheres sobres o túmulo do Senhor era verdade.
Um anjo, disseram, havia lhes dito: "Não temais,
porque sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Ele não
está aqui, ressuscitou, como havia dito". Mateus
28:5,6.
Jesus havia
realmente ressuscitado? Mas como? O corpo ensangüentado
e ferido do Salvador havia sido retirado da cruz. João
e Pedro não conseguiam esquecer o corpo pesado e sem
vida que havia sido envolto num pano branco. Mesmo assim, eles
foram sentindo um misto de medo terrível e de fé
desesperada.
João,
o mais novo, chegou primeiro ao túmulo. A pedra que o
lacrava havia sido afastada. Ele se abaixou, olhou para dentro
e de repente ficou sabendo que o curso da História mudara
para sempre. A vida jamais seria a mesma. A Escritura nos diz:
"... então entrou o discípulo que chegara
primeiro ao sepulcro, e viu e creu".João 20:8.
Ele viu
que os lençóis que haviam envolvido o Senhor morto,
estavam cuidadosamente dobrados num ressalto do sepulcro, e
ele acreditou. Jesus ressuscitara!
De alguma
forma ele havia ultrapassado a irremovível barreira da
morte. Ele havia conquistado o inconquistável. Mais tarde,
a fé renovada de João e Pedro seria confirmada
quando encontrassem o Senhor face a face.
Sim, a páscoa
é a época quando a maioria dos cristãos
comemora essa pedra fundamental de nossa fé - a ressurreição.
Isso nos dá a esperança de que a morte pode ser
vencida. Jesus, ao se erguer do sepulcro, é a promessa
de que poderemos imitá-lo um dia.
Mas é
também outra coisa. É algo mais do que apenas
uma esperança futura. Os autores do Novo Testamento freqüentemente
falam da ressurreição como a pedra angular do
poder de Deus. Ela liberou no mundo uma fonte de energia que
não havia sido vista antes. No primeiro capítulo
do livro de Efésios, Paulo procura alertar os que acreditavam,
sobre as maravilhas que agora eles possuíam em Cristo.
Ele louva o que chama de "incomparável, enorme poder
de Deus para todos que crêem." Veja como o apóstolo
define esse poder incomparavelmente grande: "... a eficácia
da força de seu poder, o qual exerceu ele em Cristo,
ressuscitando-o dentre os mortos." Efésios 1:19,20.
Deus demonstrou
seu poder inigualável ao erguer seu Filho do túmulo.
Paulo nos diz que a força do sepulcro também está
disponível para nós agora em nossa vida cotidiana,
não apenas após a morte. Possuímos um notável
exemplo disso na carta aos Romanos. Paulo comenta como seres
humanos fracos e pecaminosos podem se tornar espiritualmente
fortes. Ele afirma que a transformação real é
possível. Ele fundamenta seu ponto de vista com essas
palavras: "... esse mesmo que ressuscitou a Jesus Cristo
dentre os mortos, vivificará também os vossos
corpos mortais por meio o seu espírito que em vós
habita." Romanos 8:11.
A ressurreição
é apresentada como garantia de que Deus pode criar a
vida da morte, o bem do mal e a saúde espiritual da decadência
moral do espírito. Uma mudança radical é
possível, porque essa força incomparável
opera naqueles que acreditam. Portanto, os desesperados, os
subjugados e os aflitos, poderão alcançar uma
nova vida da mesma forma que o corpo frio e sem vida do Salvador
reviveu naquela manhã.
O poder
de ressurreição está disponível
para você e para mim agora. Para ter certeza de que entenderíamos
isso, Paulo nos descreve como participantes desse grande acontecimento.
Ele ousadamente declara: "nós ressuscitamos com
Cristo". Não estamos apenas lendo a respeito de
algum acontecimento notável no passado. Nós estamos
lá com Jesus no sepulcro, e quando a maravilhosa e incomparável
força de Deus corre pelas veias sem vida do Salvador,
ela se derrama sobre nós também. O apóstolo
continua: "... e juntamente como Ele nos ressuscitou e
nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus".
Efésios 2:6.
Aqueles
que se ligaram a Cristo, se ligaram à sua ressurreição.
Através da fé, ela se torna um acontecimento repetitivo,
uma ressurreição maravilhosamente repetida em
nossa vida. E mais, nós podemos acompanhá-lo às
alturas celestiais. Nós ascendemos com Cristo e estamos
"assentados com ele no reino dos Céus".
Mas, o que
isso quer dizer? Afinal, fisicamente falando, nossos pés
continuam bastante fincados na terra. Creio que a questão
que Paulo está enfatizando é esta: a ressurreição
significa que não há limite para o que se pode
realizar no reino espiritual.
O grande
poder de Deus nos impulsiona para cima, nem mesmo o céu
é o limite. Cristo atravessou o limite do céu.
Ora, talvez para você isso esteja parecendo um tanto distante.
Poder incomparável, transformação radical
que nos impulsiona em direção ao Céu. Estaríamos
sendo realistas? Seria isso apenas uma linguagem mística?
Estamos exagerando as coisas?
Em vez de
apenas tentar dizer que o poder de ressurreição
de Deus é real, vou demonstrar. Vou apresentar-lhe o
que poderíamos chamar de casos terminais, três
casos sem esperança: Saulo, Tex e Grace.
Saulo era
um fariseu. Ele possuía uma sinceridade feroz. Educado
pela elite da sociedade judaica, ele se tornou um legalista
em alto grau. No mundo de Saulo, a intolerância e o fanatismo
encontraram ótimo solo para florescer. Ele tornou-se
um grande inquisitor, correndo à procura de cristãos
para os perseguir. Foi então que, na estrada para Damasco,
um raio de luz e uma voz inquisidora o derrubaram de seu cavalo.
Saulo, o zeloso fariseu, tornou-se Paulo, o dedicado apóstolo
cristão.
A grande
maioria termina a história da conversão de Paulo
nesse ponto. Não acho que chegamos ao âmago da
questão. Há muitas pessoas que alteram radicalmente
sua filosofia de vida, aparentemente sem a assistência
divina. Comunistas inflamados, às vezes se tornam ardentes
capitalistas. Radicais desagradáveis se tornam direitistas
firmes e ofensivos.
Uma mudança
de ideologia não significa necessariamente que algo extraordinário
haja acontecido. Portanto, no caso de Paulo, poderia ser afirmado
que um homem intolerante simplesmente encontrou uma nova maneira
de expressar seu fanatismo.
Podemos
achar que isso é verdade até que se dê maior
atenção às cartas de Paulo às igrejas.
Se estudarmos tais epístolas, especialmente nos capítulos
de abertura vamos encontrar página após página,
textos maravilhosamente encorajadores. Paulo conseguiu adquirir
um maravilhoso dom de expressar amor e fé às pessoas.
Ele diz aos romanos convertidos que está convencido de
que são "cheios da bondade, plenos em conhecimento".
Ele fala aos tessalonicenses sobre "toda a alegria que
temos na presença de Deus por sua causa". Ele diz
aos efésios "que não consegue parar de agradecer
a Deus por sua fé e por seu amor".
É
maravilhoso ver quão profundamente esse homem estava
envolvido com a vida de outros. Aos crentes de Corinto, assolados
por disputas judiciais, imoralidades e até mesmo pelo
incesto, Paulo declara: "... porque já vos tenho
dito que estais em nossos corações para juntos
morreremos e vivermos". II Coríntios 7:3.
Depois,
acorrentado a uma parede de prisão, ele exclama: "Alegrai-vos
sempre no Senhor, outra vez vos digo, alegrai-vos". Filipenses
4:4. Imaginem, na prisão!
Paulo começa
todas suas cartas com uma torrente de esperança. Suas
sentenças subseqüentes são uma explosão
de boas novas às pessoas que ele tão claramente
ama. Essas palavras de graça são ainda mais impressionantes
quando nos lembramos que elas vêm de um ex-perseguidor,
o legalista ferrenho. Agora estamos no âmago da questão.
Agora podemos ver o que realmente aconteceu depois do dramático
encontro de Saulo com Deus no caminho para Damasco. É
a história de um fanático que mudou radicalmente.
No final
de seu ministério, Paulo se despede de um grupo de crentes
na cidade portuária de Miletus. Eles se aproximam dele
no porto e ele lhes lembra sobre sua vida junto: "... noite
e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas,
a cada um". Atos 20:31.
O apóstolo
dá uma mensagem final de esperança e então
o pequeno grupo se ajoelha para orar. Eles se levantam, olham
pela última vez para os olhos de seu pai em Cristo, e
se emocionam. Chorando, os crentes abraçam Paulo e o
beijam repetidamente. É uma despedida muito difícil.
Paulo se
encaminha para o barco. Seus amigos o seguem, agarrando-se a
ele, "sofrendo muito porque não veriam mais o seu
rosto".
Duvido que
um "fariseu dos fariseus" pudesse ter inspirado tal
devoção. Saulo, o especialista em leis, não
teria tal expressão de afeto no final de sua carreira.
Não! Sem dúvida que era outra pessoa que estava
ali no porto abraçando seus filhos na fé. O poder
da ressurreição estava agindo. Uma nova qualidade
de vida havia sido confeccionada. Paulo permanecia um apologista
apaixonado. Deus não mudou uma pessoa decidida num fraco,
mas moldou uma cativante indulgência em um fanatismo intolerante.
No árido terreno do apego às leis, Ele fez com
que brotasse um amor sedento que daria muitos frutos.
O segundo
exemplo é o de Tex Watson. A qualidade de vida de Tex
Watson numa prisão de segurança máxima
é um outro bom exemplo do poder da ressurreição
em ação.
No começo
dos anos sessenta, Tex viajara para o sul da Califórnia
à procura da total liberdade. Começou a freqüentar
um rancho abandonado que era usado no cinema, com membros da
"família" de Charels Manson. Tex provou ser
um bom aluno no grupo, absorvendo grandes quantidades de fumo,
drogas e da filosofia de Manson.
Manson queria
libertar seus discípulos de todas as inibições
sociais e o que conseguiu foi o banho de sangue chamado de "Tate
- La Bianca", no verão de 1969. A nação
ficou chocada com a calculista loucura com que sete pessoas
foram assassinadas. Tex foi condenado como um dos assassinos,
e os psicólogos o diagnosticaram como "louco, inteiramente
incapaz de se submeter a julgamento". Na prisão
municipal de Los Angeles, ele se jogava aos gritos contra as
grades. Havia vezes que seu comportamento era tão destrutivo
que tinha que ser amarrado a camas de hospital.
Li a respeito
do tipo de pessoas em que os membros da "família"
haviam se tornado. Não parecia haver nada remotamente
humano em sua crueldade negligente.
Vários
anos mais tarde, deparei-me com a descrição de
um repórter sobre uma visita feita a Tex Watson na prisão.
O repórter o encontrara na capela, dirigindo um estudo
da Bíblia. Tex havia começado a ler as Escrituras
e fora persuadido a iniciar um relacionamento com Jesus Cristo.
O repórter notou a sensibilidade com que Tex lidava com
as perguntas e com os comentários dos homens do grupo
de estudos. Quando o jornalista conversou com o preso, viu nele
um homem de tremenda sensibilidade moral.
Sobre sua
transformação, Tex afirmou: "um dos maiores
e mais dolorosos dons que recebi de Deus foi o de perceber o
que realmente aconteceu naquelas duas noites".
Tex não
havia sentido culpa nem remorso pelos assassinatos, mas após
seu encontro com Deus, ele passou a sofrer a agonia e tristeza:
"Meus próprios horrores faziam parte de um horror
maior. Comecei a enxergar também que, mesmo por uma culpa
tão grande como a minha, já havia sido paga uma
pena. Comecei a ver o poder do amor de Deus se sobrepondo à
morte e à destruição. Vi também
Seu poder de cura, não apenas no sentido abstrato, mas
imediato e específico em mim".
Tex Watson
alegremente ensina outros dentro do profundo confinamento de
aço de uma prisão de segurança máxima.
Sua sensibilidade espiritual é um impressionante contraste
com a alienação brutal que antes o envolvia. Sem
dúvida, o poder de ressurreição entrou
em ação em sua vida.
Uma mulher
atormentada chamada Grace nos fornece um outro tipo de exemplo.
Grace havia sido indicada pelo pastor ao psicólogo cristão,
Clinton McLemore. Ela fazia uma psicoterapia intensiva e regular
já havia vinte anos. Na opinião profissional de
McLemore, esta dona de casa de 40 anos dificilmente se transformaria
de modo significativo no futuro, A medicação poderia
ajudar, bem como ela poderia também internar-se em certas
ocasiões, mas tudo isso só faria com que fosse
mantida num nível praticamente funcional.
Foi então
que algo aconteceu ao pastor que indicara Grace a McLemore.
Ele sentiu uma renovação espiritual e compartilhou
sua fé revitalizada com Grace. Ele vinha aconselhando
a mulher há anos e com pouco sucesso, mas a resposta
dela às suas descobertas espirituais foi notável.
Grace se ajoelhou com o pastor, orou e foi transformada.
Quando McLemore
entrevistou-a depois, ficou impressionado com a notável
melhora de seu estado mental. O que o impressionou ainda mais,
foi que Grace continuou bem. Aquela mesma mulher que havia sido
emocionalmente debilitada durante a maior parte de sua existência,
podia agora desfrutar de uma vida bem ajustada. Seu marido,
um descrente, ficara totalmente espantado.
Saulo, Tex
e Grace, são pessoas que nos dão uma idéia
do alcance, profundidade e extensão do poder de ressurreição
de Deus. Nós examinamos apenas três casos que poderiam
ser chamados de casos terminais, mas a ressurreição
que Deus realizou nesses casos terminais, também foi
realizada em numerosos outros, e nesse processo de recriação
de Deus, a qualidade singular de Seu poder aparece. Ele é
capaz de transformar pessoas totalmente. Ele é capaz
de elevar as pessoas até o Céu.
Esse poder
de ressurreição está disponível
a você agora mesmo. Ele não diminuiu, é
uma fonte sempre pronta, sempre renovada.
Você
poderá sentir que sua fonte está esgotada. Poderá
sentir que todos seus esforços se deparam com um muro
impenetrável. Lembre-se, porém, daquele que atravessou
a barreira suprema. Ele atinge o impossível. Ele transforma
casos terminais.
Confie seus
problemas a Ele, confie em Seu poder de ressurreição.
Nada neste mundo se iguala à grandeza, à profundidade
e extensão dessa fonte. Nenhuma insuficiência nem
tragédia pode sobrepor-se a Ele. Nada consegue exauri-Lo.
Olhe
para a ressurreição de Cristo, concentre-se nela,
acredite nela. Ela o elevará. |