QUEM
DETERMINA A MORAL
PR.
ALEJANDRO BULLÓN
"Conheci Luísa no pior momento de sua vida. Tinha
tentado o suicídio, levada pelo senso de culpa, como
resultado do relacionamento com um homem casado. Queria libertar-se
daquela situação e não conseguia. Sua vida
tinha se tornado um monte de promessas não cumpridas
e decisões sem valor.
Num momento da vida ela quis ser livre. Quis viver de acordo
com os padrões morais da sociedade moderna. "Por
que está errado, se ambos nos amamos?", pensou.
Mas o amor parecia não ter sabor nenhum por causa da
culpa que sentia. Eu não sei se você já
se pôs a pensar alguma vez, que nunca, na história
da humanidade, viveu-se sem tabus, como hoje. Mas por que, apesar
disto, o homem de nossos dias parece não ser feliz? Simplesmente
porque a tentativa de liberdade sem lei, conduz inevitavelmente
à desordem, e a desordem psíquica neutraliza e
elimina a mais sensível de todas as capacidades do ser
humano: sua capacidade de amar. Sabe por quê? Porque o
amor só é possível num ser psicologicamente
ordenado. Na desordem psíquica, o amor se transforma
em paixão. E a paixão é violenta, auto-destrutiva,
agressiva e irresponsável. Na paixão a vida perde
a sua permanência, sua serenidade, sua produtividade e
seu sentido.
A paixão é um jogo que desperta e libera as forças
irracionais do ser humano, até o ponto de arrastá-lo
para um erótico prazer físico sem destino espiritual.
E, como o ser humano não é um animal, a falta
do sentido espiritual, produz frustração e amargura.
Deprimido, então, perde a alegria espiritual e mergulha
num amargo sentimento de culpa. E tudo isso ocorre porque o
homem não é uma máquina: é um ser
espiritual e moral.
A realidade é que, como vivemos numa época influenciada
pelas experiências científicas que ressaltam a
importância da matéria, e como as filosofias materialistas
parecem tomar conta de tudo, corremos o perigo de esquecer a
dimensão moral e espiritual do homem. Conseqüentemente,
esquecemos também que a liberdade não é
um atributo apenas do corpo, mas acima de tudo, uma conquista
espiritual do homem. O prazer físico, destituído
do sentimento do espírito, portanto, não pode
jamais ser classificado como uma expressão de liberdade,
pelo contrário, é uma redução, ou
até, uma perda dessa liberdade. O prazer físico
só tem significado quando é parte da essência
espiritual do ser humano e quando está em harmonia com
os princípios morais que governam sua capacidade espiritual.
Nesse quadro, tudo o que mais destrói a liberdade espiritual
do homem é o sentimento de culpa, que vem da tentativa
de ser livre, sem princípios morais.
A culpa é como uma marca que sempre fica no espírito
humano quando este segue uma conduta imoral e já que
estamos falando do caso específico de Luísa, falemos
então de condutas sexuais amorais como o adultério,
a fornicação, o estupro, o incesto, a prostituição,
o homossexualismo e outros! Esta culpa, não pode ser
eliminada com teorias nem com racionalizações.
Teorias e racionalizações só conseguem
provocar um conflito interior no homem. Fazem-no perder-se na
ambivalência e na neurose e ali, o ser humano além
de cativo transforma-se em um ser enfermo. Não pode amar
e está sedento de amor. Acha que é um ser liberado
e vive na escravidão psíquica de suas paixões,
angústias e culpas.
Para que o ser humano possa ser plenamente realizado e feliz,
precisa de um padrão moral, mas agora vem a pergunta:
Quem é que determina o que é moral ou imoral?
A sociedade? A maioria democrática? As estatísticas
ou a maturidade biológica do indivíduo?
Desde o século passado a sociologia tem ensinado que
na sociedade existem mudanças permanentes nos costumes
e nos conceitos éticos e que, portanto, a moral é
criada pela sociedade. Mas até que ponto isto é
verdade? Claro, não podemos desconhecer que existem mudanças
de costumes em todas as sociedades. Contudo, um estudo cuidadoso
demonstraria que todas as tentativas feitas ao longo da história
para mudar a estrutura moral, fracassaram, porque no fundo,
o ser humano continua sendo um ser moral. É verdade que,
naturalmente ele é inclinado aos vícios, à
corrupção, ao erotismo e a imoralidade. Mas existe
nele algo que nunca o abandonará e cuja presença
demonstra o sentido moral que o homem tem por criação.
Refiro-me a sua consciência de culpa.
A sociedade pode mudar todas as regras do jogo moral. Pode modificar
todos os princípios de conduta. Pode eliminar todas as
restrições. Pode até criar um novo sistema
de moral. Contudo, nunca eliminará a consciência
da culpa que o homem sempre leva consigo quando comete atos
imorais.
As novas ideologias, popularizadas através da mídia,
levam o homem a racionalizar sua conduta, mas apesar disto,
ele continua angustiando-se e continua sentindo-se culpado,
embora nem sempre saiba identificar as verdadeiras raízes
de sua culpa. Isso acontece porque seus atos foram deformados,
como escombros depois de um bombardeio, pelas diversas ideologias
existentes. Pode não saber quais são os princípios
morais retos. Pode não conhecer as leis da conduta humana,
mas apesar disso, tem consciência de ser um transgressor.
Essa realidade aparece praticamente em sua vida pessoal. Os
conflitos do homem, consigo mesmo, refletem-se em suas relações
com os demais. Luta contra os seres que ama. Comete violência
contra os que estão mais próximos de seu coração
e trai aqueles a quem deseja o maior bem. Em outras palavras,
o homem está moralmente incapacitado de amar.
Falemos agora da maioria democrática. É ela que
determina a moral? Subconscientemente muitas pessoas, adultos
e jovens, acham que é assim. Quando há um grupo
que toma um determinado caminho, todos seus integrantes tendem
a seguí-lo. Parece que isso seria o correto. Por exemplo,
a nossa sociedade, hoje em dia, começa a encarar as relações
sexuais antes do casamento como algo normal. A mídia
bombardeia de noite e de dia e de repente defender a castidade
parece ser assunto de outra época. Uma garota virgem
é caçoada ou vista como careta.
Esta é uma realidade. Quando o grupo social modifica
os princípios de conduta, pensa-se que a maioria tem
razão. Mas não é assim. A própria
experiência do indivíduo que atua sob a pressão
social demonstra que a conduta definida deste modo não
é mais que uma moral de ficção. Sua realidade
desaparece, tão logo o homem enfrenta sua própria
consciência.
Passemos a outro ponto. Podem as estatísticas definir
os princípios morais? Hoje realizam-se pesquisas para
determinar o que as pessoas crêem ou realizam em sua vida
moral e depois se pretende que a média revelada por tais
pesquisas determina a conduta moral. Mas a verdade é
que a única coisa que se consegue desta maneira, é
determinar a existência de certos tipos de conduta, mas
isso não muda as regras morais.
Quem é então que determina a conduta moral do
homem? Bom, a norma de conduta que permite ao homem atuar como
um ser livre para amar, tem que ter sua origem no amor. Uma
simples ordem moral não resolve o assunto da liberdade
humana. Possivelmente se baseie nisso a confusão que
existe na maioria dos pensadores que buscam a liberdade do homem.
Não trabalham com uma norma moral que tenha sua origem
no amor. Trabalham com normas que surgem da conduta social,
das restrições governamentais, e assim por diante.
Essas normas existem, mas não surgem de uma fonte que
possamos definir essencialmente como amor.
Somente o amor gera a capacidade de amar. Os princípios
de conduta que não surgem do amor podem agrupar-se numa
ética de conduta, mas não podem determinar uma
conduta moral. A verdadeira moralidade e o amor estão
indissoluvelmente unidos. Não me refiro ao amor no sentido
de ética circunstancial. Esta, estabelece que o amor
é a única norma para as decisões que a
pessoa deve tomar. Eu me refiro ao amor como fonte da norma
moral. A pessoa que defende a ética circunstancial está
sempre disposta a seguir uma conduta que sirva ao amor. Ela
acha que pode haver, e freqüentemente há, conflitos
entre o amor e a norma. Acha que o amor usa a norma somente
quando convém. Acha que a única coisa correta
é o amor, sem levar em conta o seu conteúdo. Mas
a verdade é que o verdadeiro amor atua sempre através
de princípios e normas e essas normas e esses princípios
que se originam no amor, determinam o que é bom e correto
para a conduta humana.
Não se trata do amor em uma situação particular,
como o entende a ética circunstancial, trata-se do amor
para todas as situações. Não é fazer
o que se quer, em nome do amor, mas viver os princípios
através dos quais o amor se explica. Enquanto a ética
circunstancial estabelece que qualquer dever, numa determinada
situação pode ser total ou parcialmente quebrantado,
porque o importante é cumprir a lei do amor; a realidade
é que a lei que se origina no amor estabelece princípios
para a conduta humana, que devem ser aplicados a todas as situações
da vida. A pessoa não pode se dividir porque ela é
uma totalidade. Toda vez que atua, ela o faz em função
da total e indivisível unidade de seu ser.
Essa unidade é destroçada quando se modificam
os princípios de conduta. Se hoje deve atuar de uma determinada
maneira diante de uma decisão moral, e amanhã,
diante da mesma decisão moral, deve atuar de outro modo
porque as circunstâncias se modificam, sua estrutura psíquica
se destroça. A unidade de sua própria estrutura
pessoal sofre, e com isso, sofre a totalidade de seu ser. Deixa
de ser o que é. O amor não chega a produzir os
frutos, e a pessoa perde a plena liberdade. Não consegue
a estrutura da personalidade que lhe permite ser uma pessoa
livre para amar. Perde sua liberdade interior e com isso perde
o fruto do amor e o próprio amor. O que a ética
circunstancial chama de amor na realidade é uma falsificação
do amor.
A maturidade, a responsabilidade e a liberdade não são
produtos de uma determinada situação. São
as estruturas necessárias para viver as normas do amor
mediante o qual se destrói o mal moral.
O mal moral entretanto, está sempre presente na vida
humana e a Bíblia o chama de pecado. Como podemos identificar
o mal moral ou o pecado? Através dos princípios
de uma lei moral permanente. Se a lei fosse transitória
ou circunstancial, não haveria maneira de saber se uma
decisão ou um ato são moralmente corretos.
O fato de sermos seres morais, prova com clareza que o ser humano
precisa dos princípios de uma lei moral permanente que
oriente seus atos nesta vida.
A Bíblia é clara em afirmar a permanência
e a necessidade de uma lei moral. Deus é amor e como
expressão desse amor nos deu a lei moral. São
João afirma: "...E todo aquele que ama é
nascido de Deus e conhece a Deus... pois Deus é amor".
O apóstolo Tiago chama a essa lei, a lei da liberdade,
por quê? Simplesmente porque as normas da lei moral não
foram dadas para arruinar nem limitar a vida de ninguém,
mas proteger a vida do ser humano.
Pense um pouco nas leis de trânsito, por exemplo. Você
acha que elas foram dadas para tirar a liberdade do ser humano?
Pelo contrário. Hoje, com o novo código de trânsito
você anda seguro. O índice de atropelamento e mortes
fatais como conseqüência de acidentes nas estradas,
diminuiu. Quer dizer, todas essas leis são protetoras
da vida.
Mas o ser humano é interessante. Ele pretende ser livre,
jogando no lixo o código de trânsito da vida. Cada
um tenta ser feliz a seu modo. Cada um tenta fazer sua moral.
Mas o que acha Deus disso tudo? Vejamos o que diz Deuteronômio
30:19: "O céu e a terra tomo, hoje, por testemunhas
contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção
e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que
vivas, tu e a tua descendência". (Deuteronômio
30:19)
Aqui Deus dá plena liberdade ao ser humano. Liberdade
para seguir o caminho moral divino que conduz à vida
ou o caminho moral humano que conduz à morte. Mas Deus
nunca deu liberdade ao homem para determinar o que é
moral ou imoral. Isso é um atributo divino. A lei moral
nasce no amor de Deus com o propósito de proteger a vida
e a felicidade humana. O homem pode aceitar ou rejeitar, mas
não pode determinar o que é certo ou errado do
ponto de vista moral.
Quando o ser humano tenta criar seu próprio código
moral, por mais que negue, percebe o agudo vazio que vive, percebe
claramente a angústia de sua alma e sofre um intenso
sentimento de culpa. Geralmente nega essa realidade. Nega-a
porque é arrogante, egoísta e incrédulo.
A arrogância, porém, só produz insegurança.
O egoísmo gera descontentamento e a incredulidade gera
angústia. A segurança, a plena liberdade e a satisfação
da vida somente se encontram numa relação de fé
com Cristo, numa relação de obediência a
Deus e numa relação de responsabilidade para com
o próximo.
Quando falo dos princípios morais e da pessoa de Cristo,
estou falando da vida. Vida no sentido amplo. Ninguém
pode cumprir os princípios morais sem estar em Cristo.
Falo do Cristo da vida. Do Cristo diário, não
do Cristo de fim de semana.
Ah, querido! A moral não é determinada pela sociedade.
A maioria democrática não determina a moral. As
estatísticas não definem a moral. A maturidade
biológica não estabelece a moral. Os princípios
que conduzem o homem à felicidade tem que ter origem
no amor de Deus. Estes princípios têm que ser permanentes
e devem conter tudo que é necessário para que
o homem alcance plena liberdade: psíquica, espiritual,
social, moral, enfim, liberdade na sua plenitude, liberdade
que nasce no amor de Deus e que é desfrutada pelo homem
sem sentimento de culpa, sem inibições, sem limitações,
mas com responsabilidade.
Luísa estava ali, diante de mim, com os olhos cheios
de lágrimas e o peso da culpa destruindo sua vida. "É
possível recomeçar?", perguntava ela angustiada.
O maravilhoso de tudo é que Deus sempre está pronto
a receber, a perdoar e a transformar a vida.
Por que você não abre o coração a
Jesus neste momento? Por que não lhe entrega a vida e
decide viver com Ele?
ORAÇÂO
Oh Pai querido, às vezes, querendo ser livres, tomamos
nossa vida e andamos por nossos próprios caminhos. Tudo
que conseguimos, porém, é mergulhar num poço
sem fundo, onde nos afogamos em nosso próprio egoísmo
e em nosso próprio desequilíbrio. Tentamos ser
felizes e não conseguimos. Então nos lembramos
de Ti, e às vezes, como último recurso. Tu és
tão maravilhoso que, mesmo assim, sempre estás
disposto a estender a mão. Neste momento, se alguém
está estendendo a mão em Tua direção,
por favor Pai, segure-a, resgate Teu filho, transforme a sua
vida. Em nome de Jesus. Amém. |