É
POSSÍVEL CONVIVER COM UM LOBO?
Pr. Alejandro Bullón
"No capítulo 7 da epístola aos Romanos, encontramos
o grito desesperado de um homem que não conseguia viver
à altura dos princípios que conhecia. Por vezes
sentia como que se dentro dele existissem duas pessoas que lutavam
entre si para assumir o controle de sua vida. Em repetidas ocasiões
ele pensou que talvez não estivesse convertido.
Vem então
a pergunta: Por que depois da conversão temos a impressão
de que a luta espiritual aumenta? Por que pessoas convertidas,
sentem vontade de praticar o mal? É possível harmonizar
o que sabemos que devemos fazer com aquilo que realmente desejamos
praticar?
Veja o drama
de Paulo descrito na carta que escreveu aos Romanos: "Porque
o que faço não o aprovo, pois o que quero isso
não faço, mas o que aborreço isso faço.
E, se faço o que não quero, consinto com a lei,
que é boa. De maneira que agora já não
sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não
habita bem algum: e com efeito o querer está em mim,
mas não consigo realizar o bem. Porque não faço
o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.
Ora, se eu faço o que não quero, já o não
faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então
esta lei em mim: que, quando quero fazer o bem, o mal está
comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei
de Deus. Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra
a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado
que está nos meus membros. Miserável homem que
eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?" (Romanos
7:15-24)
- Pastor,
eu acho que não estou convertido. Constantemente sinto
vontade de pecar. A minha vida é um permanente conflito.
Quero servir a Jesus, mas ao mesmo tempo sinto vontade de fazer
coisas erradas. Tem solução para mim?
A pergunta
veio de um rapaz simples de 20 anos, lá do sertão
de Pernambuco, embora pudesse ter saído dos lábios
de um empresário bem-sucedido dirigindo seu carro importado,
último modelo, na Avenida Paulista. O problema é
o mesmo para homens e mulheres, jovens e adultos, ricos e pobres.
Por alguma
razão, temos a idéia de que no momento da conversão
a nossa luta acaba e que a partir desse momento não pecaremos
mais; seremos perfeitos, no sentido de ser exemplo de vida para
outros. Mas por que é que a partir do momento que nos
entregamos a Cristo a nossa luta se torna maior e o conflito
aumenta?
Antes de
mais nada temos que entender o que acontece no momento da conversão.
Muitos têm a idéia de que na hora da conversão
Deus tira de nós a natureza pecaminosa e a joga fora
para sempre, colocando em substituição a nova
natureza que gosta de obedecer e amar. Isto não é
completamente verdade. Seria maravilhoso se fosse assim, já
que nunca mais teríamos vontade de pecar. A fonte da
"concupiscência e das paixões deste mundo"
não existiria mais. Em conseqüência, nossa
vida seria como a de Adão e Eva antes da queda.
Infelizmente
não é assim que sucedem as coisas. Ao converter-nos,
Deus coloca dentro de nós uma nova natureza, a natureza
de Cristo. Mas o que acontece com a velha natureza pecaminosa,
a natureza de lobo? Ela não sai, como muitos imaginam.
Ela fica ali, agonizante. - Aquela parte que existe dentro de
nós que gosta de pecar, foi esmagada e mortalmente ferida
- afirma o apóstolo.
E agora?
Agora, depois da conversão passamos a ser pessoas com
duas naturezas: a natureza de Cristo, nova, recém-implantada
e a velha natureza pecaminosa, "esmagada e mortalmente
ferida" que continua dentro de nós.
O ideal
seria que a velha natureza permanecesse sempre "mortalmente
ferida". Mas essa situação não é
definitiva; é circunstancial. Na primeira oportunidade
que receber alimento, ela ressuscitará; e se continuar
sendo alimentada, ela recuperará completamente as forças
e lutará para expulsar de nossa vida a nova natureza.
É
por isso que depois da conversão a luta aumenta. Existe
muito mais conflito num homem depois de sua conversão
do que antes dela. Você está surpreso? Tente entender
o que estou dizendo. Depois de aceitar a Jesus você pode
esperar maior luta em seu coração, um conflito
interno, que muitas vezes o levará ao desespero, se você
não parar a fim de entender o problema.
Mas o assunto
é simples. O homem sem Cristo tem uma só natureza,
a natureza com que nasceu e essa natureza faz as coisas erradas
na hora que deseja. Não existe ninguém para se
opor. Não existe luta, não há conflito.
Mas você agora entregou sua vida a Cristo, você
experimentou o milagre da conversão, você tem agora
uma nova natureza e ela se opõe à velha natureza.
Você
entende por que a vida do homem inconverso pode parecer mais
leve? Ele só tem uma natureza e ela assume o controle
da vida, não tem oposição. Mas logo depois
da conversão, quando o homem pensa que a velha natureza
foi embora, descobre que ela continua dentro e o conflito começa.
Ele tem duas naturezas e as duas estão lutando.
O apóstolo
Paulo teve um momento em sua vida em que chegou à beira
da loucura! Vamos ler novamente o que ele diz na sua carta aos
cristãos de Roma: "Porque o que faço não
o aprovo, pois o que quero isso não faço, mas
o que aborreço isso faço" (Romanos 7:15).
- Isto mostra
que de fato já não sou eu quem faz isso, mas o
pecado que vive em mim... eu sei que é isto que acontece
comigo... dentro de mim - disse Paulo - sei que gosto da Lei
de Deus, mas vejo uma lei diferente que age em meu corpo, uma
lei que luta contra aquela que minha mente aprova.
Entende,
meu amigo? Duas naturezas, duas forças lutando dentro
do apóstolo Paulo. Um conflito que o levou ao desespero,
porque no verso seguinte ele clama: "Miserável homem
que sou! quem me livrará do corpo desta morte?"
(Romanos 7:24)
- Que situação
terrível esta em que estou! Quem é que me livrará
da minha escravidão a esta mortífera natureza
interior?
Agora eu
pergunto: no momento em que Paulo escreveu a carta aos Romanos
ele estava ou não convertido? Claro que estava. Ele tinha
sido convertido quando se encontrou com Jesus lá na estrada
de Damasco. Porém, aqui está a experiência
de um homem convertido sentindo dentro de si o conflito que
produz a luta das duas naturezas.
Não
se preocupe meu amigo por causa da tensão e do conflito
que você sente após sua conversão. Duas
naturezas, entende? Duas. Você e eu somos homens com duas
naturezas e elas não gostam uma da outra.
O apóstolo
Paulo um dia conseguiu entender este conflito e aí ele
escreveu: "Porque os que são segundo a carne inclinam-se
para as coisas da carne; mas os que são segundo o espírito
para as coisas do espírito. Porque a inclinação
da carne é morte; mas a inclinação do espírito
é vida e paz. Porquanto a inclinação da
carne é inimizade contra Deus, pois não é
sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto,
os que estão na carne não podem agradar a Deus.
Vós, porém, não estais na carne, mas no
espírito, se é que o Espírito de Deus habita
em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito
de Cristo, esse tal não é dele" (Romanos
8:5-9).
- Pastor
- você dirá - quer dizer que toda minha vida vai
ser uma vida de conflito?
Não
necessariamente, não precisa ser assim; e isso vai depender
de sua decisão. As duas naturezas estão em luta
mas, finalmente, uma delas vencerá. Uma delas assumirá
o controle completo de sua vida. Uma delas sobreviverá
e a outra morrerá. Qual delas será a vitoriosa?
Isso também vai depender de sua decisão.
Vamos ilustrar
o assunto desta maneira. Suponhamos que na arena de um circo
estão soltas duas feras envolvidas numa luta de morte.
Os empresários do circo pegam as duas feras e as colocam
em jaulas separadas. Uma delas é fartamente alimentada.
Recebe comida e água em abundância. A outra é
deixada no esquecimento quase total. Vez por outra alguém
dá para ela apenas um bocado de alimento, o suficiente
para não morrer. Quando o momento do confronto chegar,
qual delas vencerá? Você tem alguma dúvida?
Você sabe que vai vencer a que for melhor alimentada,
não sabe?
É
isso o que acontece na luta das naturezas por obter o controle
da nossa vida. Só uma delas assumirá finalmente,
por completo, o domínio do território e sem dúvida
será a que for melhor alimentada.
Ocorre que
os seres humanos, geralmente, alimentam mais a natureza pecaminosa
e esta é a causa de nosso fracasso constante, mesmo depois
de nossa entrega a Cristo. Deus realizou em nós o milagre
da conversão, implantou em nosso coração
a nova natureza, mas nós não cuidamos dela, não
a alimentamos e em conseqüência a velha natureza
está sempre tomando o controle de nossa vida.
Como é
que se alimentam as naturezas? Através dos cinco sentidos.
Tudo o que entra em nossa mente através dos sentidos
é alimento para uma ou para outra natureza. Especialmente
aquilo que vem através da visão e da audição.
Este é o motivo porque precisamos ser cuidadosos na escolha
dos programas que assistimos, dos filmes que vemos, das revistas
e livros que lemos, das conversas das quais participamos e das
músicas que ouvimos.
É
verdade que enquanto estivermos neste mundo, mesmo sem querer,
estaremos sempre filtrando comida para a natureza má.
Não posso evitar ouvir uma música que inspire
sentimentos negativos enquanto estou num ônibus ou no
local de trabalho, por força das circunstâncias.
Não posso também evitar que apareça uma
imagem negativa enquanto leio ou assisto ao noticiário.
É impossível deixar de ouvir conversas pouco edificantes
na escola ou na rua. Mas posso evitar colocar voluntariamente
esse tipo de "alimento" em minha mente. É inevitável
que vez por outra passem "migalhas" para a natureza
má. Posso evitar que entre para ela "filé
mignon". Posso evitar alimentá-la consciente e voluntariamente.
Na realidade
a nossa vitória e em conseqüência, a nossa
felicidade na vida cristã, dependem de certo modo de
aprendermos a conviver com ambas as naturezas. De que maneira?
Alimentando a natureza de Cristo e matando de fome a outra.
É isso que São Paulo diz quando afirma: "E
os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas
paixões e concupiscências" (Gálatas
5:24).
Nos tempos
de Cristo, quando um homem era crucificado, era declarado legalmente
executado e morto, mas na realidade continuava vivo na cruz,
sofrendo e agonizando. Às vezes os parentes ou amigos
vinham à noite escondidos e resgatavam o corpo do executado,
cuidavam dele e o homem tornava a viver e muitas vezes voltava
à sua vida de delinqüência e crime.
O que São
Paulo está querendo dizer é que temos que manter
nossa velha natureza pregada na cruz. Não podemos deixar
que ela desça e muito menos devemos cuidar dela ou alimentá-la.
- Bem, pastor - você dirá - até quando terei
de conviver com essa luta das naturezas?
Enquanto
estivermos neste mundo, não há modo de nos livrarmos
dela completamente, embora possamos tornar a luta mais leve,
deixando de alimentar a natureza má. Podemos manter a
natureza má "mortalmente ferida e agonizante",
mas jogá-la fora de nosso ser, não é possível.
Mas, graças
a Deus, existe uma promessa maravilhosa. O apóstolo São
Paulo diz: "Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade,
nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento,
num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta;
porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque
convém que isto que é corruptível se revista
da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista
da imortalidade. E, quando isto que é corruptível
se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal
se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á
a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória
(I Coríntios 15:51-54).
Isto não
é maravilhoso? Um novo corpo. Sem natureza pecaminosa.
Finalmente Deus arrancará a velha natureza de nós
e a jogará fora, para sempre. Aí sim, não
haverá mais luta, mais conflito interior, mais vontade
de pecar. Tornaremos a ser homens com uma só natureza,
a natureza de Cristo, perfeita e que se deleita em amar, obedecer
e andar nos caminhos de Deus. Enquanto esse dia não chegar,
vamos aprender a conviver com a velha natureza, matando-a de
fome, desnutrindo-a, asfixiando-a e alimentando constantemente
a nova natureza.
Esse foi
o segredo que o apostólo Paulo descobriu um dia, alguns
anos depois, quando escreveu aos Filipenses dizendo: "Quanto
ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo
o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que
é puro, tudo o que é amável, tudo o que
é de boa fama, se há alguma virtude, e se há
algum louvor, nisso pensai" (Filipenses 4:8).
Ele está
falando do alimento da nova natureza, você percebe? Ele
tinha descoberto finalmente o segredo da vida vitoriosa. Ele
não alimentava mais a velha natureza. A natureza de Cristo
tinha assumido agora o controle de sua vida: "Já
estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas
Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a
na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou
a si mesmo por mim" (Gálatas 2:20).
A medida
que os anos passaram, a natureza velha de São Paulo ficou
cada vez mais fraca, de tal modo que quando chegou o momento
de sua morte ele exclamou: "Combati o bom combate, acabei
a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça
me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará
naquele dia; e não somente a mim, mas também a
todos os que amarem a sua vinda" (II Timóteo 4:7
e 8).
Ah! meu
querido amigo como é bom ver o final da vida de São
Paulo!
- Venci
- diz ele - consegui, alcancei.
Emociono-me
ao pensar em tais palavras. Sabe por quê? Porque isso
quer dizer que eu também posso vencer. Também
posso ser um vitorioso. É isso mesmo meu amigo. Você
e eu também podemos ser vencedores.
Cristo garantiu
a nossa vitória na cruz. Ele está bem pertinho
de você nas horas de luta. Nos momentos em que você
acha que todo mundo o abandonou, que você nunca conseguirá,
que você é um fracasso completo. Lembre-se de que
Ele está aí, amando-o, perdoando-o, sustentando-o.
Conheci
José Luís em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia.
Tinha sido engenheiro de vôo, falava quatro línguas
e possuía uma cultura extraordinária. Pertencia
a uma notável família da sociedade daquele lugar,
mas acabou se envolvendo com drogas. Abandonou o emprego, a
família, virou um trapo humano, dormindo nos sepulcros
do cemitério.
Foi ali
que o Evangelho o alcançou. De repente ele viu um raio
de esperança. Talvez Jesus pudesse fazer algo para tirá-lo
daquela desesperadora situação. Ele ergueu os
olhos em direção à cruz e clamou por socorro
e o Senhor Jesus correu ao seu encontro.
Quando o
conheci, estava numa escola de recuperação para
drogados.
- Pastor
- ele me disse - preciso agarrar-me cada dia a Jesus. Eu o busco
cada manhã em oração. Coloco em minha mente
o alimento necessário para minha nova natureza e tenho
certeza que Jesus finalmente me dará a vitória
completa.
Hoje, José
Luís está completamente reintegrado à sua
família e à vida profissional e continua colocando,
cada dia em sua vida, o alimento necessário para manter
viva e robusta a natureza de Cristo.
Essa pode
ser sua experiência. Deus o ajudará a manter cada
dia viva a natureza de Jesus.
ORAÇÃO
Pai
querido, estou cansado de lutar e venho a Ti em busca de ajuda.
Ajuda-me a alimentar a natureza de Cristo através das
coisas que ouço e vejo. Ajuda-me a matar de fome a velha
e pecaminosa natureza. Finalmente, dá-me a vitória
em Cristo. Em Teu nome. Amém. |