Mas precisamente a diversidade de remédios de tantos reclames deve
causar-nos reparos. De fato, quanto maior for a abundância
de remédios, em maior grau surge a suspeita de que
nenhum deles é na realidade satisfatório.
Sono Natural e Narcose -- Em princípio, os únicos meios seguros
para fazer dormir os pacientes foram o ópio e, um pouco mais tarde, a morfina,
extraída daquele. Por isso se considerou um valioso enriquecimento da
farmacopéia a descoberta, em 1869, do hidrato de cloral, que permitia ao médico
prescindir em muitos casos da morfina, que implicava o perigo nada desprezível
de provocar a habituação.
A imensa maioria dos soníferos derivam de um reduzido número de
combinações químicas que provocam o complexo efeito narcótico, ou seja, que o
seu principal resultado é a paralisação do cérebro com perda do
conhecimento. A seguir, tem lugar a paralisação das regiões mais profundas do
cérebro. E esse desaparecimento do estado de consciência considerou-se durante
algum tempo como sono, mesmo quando o grande fiisiólogo GoItz demonstrou com o
seu cão sem cérebro que este animal, ainda depois de lhe haver sido extirpado
cirurgicamente aquele órgão, dormia exatamente como quando ainda o possuía. Mas
presentemente pôs-se de parte tanto o investigador como as suas experiências.
Ensaios mais modernos e inspirados sobretudo por investigadores alemães
têm demonstrado que o sono não tem relação com a narcose nem superficial nem
fundamentalmente. Embora o sintoma mais notável do sono seja a perda de
conhecimento, a verdade é que não se interrompe de todo a atividade cerebral
durante' o sono, como o provam os sonhos e a capacidade de concentração durante
o mesmo sono.
Mediante numerosas experiências chegamos ao estado atual da investigação
e às idéias modernas acerca do fenômeno do sono. Este é o estado de excitação
do centro parassimpático do sono. Daqui se conclui que o estado de sono,
visto sob o ponto de vista biológico, é de natureza ativa e de nenhum modo uma
paralisação do cérebro e das regiões cerebrais mais profundas (como a que é
produzida pelos soporíferos). No decurso do sono devem recuperar-se as energias
consumidas durante o dia, pois, se não for assim, o sono por si só não nos daria força para retomar as
atividades. Durante o sono desenrolam-se poderosos e eficazes processos de
recuperação, e precisamente é essa nova acumulação de energia absolutamente
necessária, o que no «sono» produzido por soporíferos falta por completo, pois
estes, tal como os narcóticos, exercem uma ação paralisadora no cérebro e, o que
não é menos importante, em todo o metabolismo.
Não dispomos na realidade de nenhum soporífero, pois não conhecemos ainda
nenhuma matéria capaz de provocar o sono fisiológico, influindo diretamente no
centro do sono, e também ainda não sabemos de que modo ou mediante que matéria
orgânica se produz a alteração rítmica do estado de excitação nos centros do
sono e da vigília.
Tratamento da Insônia -- A insônia e apenas um sintoma e não uma
doença. Se pudéssemos tratar a insônia com um autêntico sonífero faríamos
desaparecer um sintoma, mas não atacaríamos a doença na sua raiz.
Embora não disponhamos desse autêntico sonífero, abusa-se monstruosamente
dos chamados soporíferos químicos, que antes deviam chamar-se hipnóticos ou
narcóticos e que, em parte, são de venda livre. Não menosprezamos produtos
realmente valiosos da química sintética e que, nas mãos do médico, podem
prestar, em certos casos, serviços consideráveis. Mas é preciso
denunciar claramente o consumo sem entraves de qualquer soporífero perante o
menor indício de insônia. Quando esta é autêntica, a descoberta da sua causa e o
método da sua cura têm de confiar-se ao médico, para que o corpo recupere por si
mesmo um sono reparador. Se o médico, no princípio, recorre a um soporífero,
está no seu pleno direito.
Só quando a insônia é devida a esforço intelectual excessivo, ao
nervosismo ou à neurastenia, etc., pode ser oportuno o emprego de um narcótico
ligeiro, já que a iniciação do sono se favorece mediante a falta de percepção da
maioria das excitações procedentes do mundo exterior. Todo o médico receitará
alguns dos chamados soporíferos de efeito limitado, mas rápido. Mas também
nestes casos podem bastar medidas naturais como, por exemplo, supressão das
excitações e dos excitantes, exercício físico, alimentação sã e parca,
suprimindo, pelo menos momentaneamente, a carne, os queijos duros e os ovos, variação nas
distrações durante as horas livres, coisas que o homem supercivilizado e ansioso
de prazer não procura fazer, alegando a suposta falta de tempo.
0 Gérmen de Trigo, Remédio Para os Nervos -- Os germens de
trigo, além das tantas vezes repetidas vitaminas e minerais, contêm um grupo de
matérias que o Prof. KoIlath localizou e que hamou auxonas. São o material para o crescimento, multiplicação celular
e regeneração nos organismos animais, que hoje despertam grande interesse.
Se as auxonas faltarem, fica muito afetado o metabolismo. Se também
faltar a vitamina B1 o metabolismo cessa absolutamente. As conseqüências serão a
velhice prematura e a morte. Se, faltando as auxonas, persistir o consumo de
vitamina B1, chega-se à descalcificação, à vida vegetativa ou à mesotrofia
(seminutrição), como tecnicamente é expressada. A presença deste material em
quantidade suficiente leva, por outro lado, a uma convalescença e renovação
rápida de células e tecidos, isto é, à conservação da juventude e da saúde. Como
essa reparação se consegue principalmente durante o sono, é este na sua forma natural a
condição precisa para que a alimentação acertada possa ter efeitos
autenticamente curativos.
De há muito tempo que se vendem germens puros de trigo em embalagens que
os conservam frescos nos ervanários. O emprego culinário é muito simples.
Polvilham-se, em bebidas frias ou quentes, tais como sucos de frutas, leite e
cacau e batem-se, pouco a pouco, antes do seu consumo, também em sopas ou
legumes, sempre depois da cocção. Sobretudo os alimentos lácteos e farináceos
podem ser melhorados em sabor e qualidade mediante germens de trigo. Para pudins
e pratos de farinha e sêmola, empregam-se os germens de trigo pelos seus efeitos
gelatinosos. São imprescindíveis na preparação de alimentos crus,
aproveitando-se especialmente nos leites fermentados, substituindo o açúcar. Na
pastelaria, o uso de germens em partes iguais dá um sabor grato, parecido com o
da noz.
Os germens de trigo devem ser parte normal da nossa alimentação diária,
como alimentos profiláticos, especialmente nos casos de esgotamento e doenças
dos nervos.
Reconstituintes Naturais Para a Fraqueza do Sistema Nervoso -- Ao
chegarmos aqui, cumpre insistir, mais uma vez, nas especiais propriedades
dietéticas da levedura, do leite e do mel para todas as pessoas que sofrem de
debilidade ou de doenças do sistema nervoso. Muitos destes doentes têm
comprovado a capacidade curativa destes alimentos simples e naturais, quando,
impondo-se também uma vontade firme e decidida, tomaram diariamente meio litro de leite,
algumas colheres pequenas de levedura seca e de mel misturados, durante algum
tempo ou com caráter permanente, em vez dos excitantes ou drogas consumidos em
quantidade excessiva. As características especiais destes alimentos já foram
enunciadas na primeira parte deste livro.
0 Regime de Evers Para Doentes Nervosos (Especialmente na
Esclerose Múltipla) -- Numerosas descobertas e observações inspiraram ao Dr. Evers a idéia de
que uma grave doença nervosa, a esclerose múltipla, que começa com deformações
inflamatórias na medula e no cérebro, seguidas de degenerescência do tecido
nervoso, é apenas o último termo de uma alimentação defeituosa durante anos,
como a que forçosamente traz consigo a desnaturalização dos alimentos.
Apresenta, portanto, um regime curativo, no qual se suprime na medida do
possível toda a desnaturalização; deste modo têm-se conseguido êxitos evidentes
em casos leves ou pouco graves de esclerose múltipla, debatidos apaixonadamente
nos Congressos Médicos e discutidos também noutras Clínicas.
Apesar de intensos trabalhos de investigação em todos os países
civilizados, a verdade porém é que se tem chegado sempre ao resultado
desanimador de que os tratamentos da esclerose múltipla estão destinados a
malograrem-se sempre. Por isso, é possível que os bons resultados até agora
alcançados pelo regime de Evers constituam um prometedor
começo, que dê um novo incentivo ao estudo dos problemas relacionados com esta
doença.
O regime assenta em idéias simples e claras que são, decerto,
convenientes para toda a gente.
1. Os frutos, as raízes e o leite desempenham o papel fundamental, pois o
homem toma-os apreciando-lhes perfeitamente o sabor, sem qualquer preparação nem
amadurecimento.
2. Deixar os alimentos no modo mais natural possível.
3. Quanto menos se modificar um alimento para ter bom paladar, tanto mais
valioso será para o homem.
A dificuldade assenta em que o regime e o paladar nem sempre se
harmonizam. Mas a culpa não é do regime que se adapta completamente à natureza
humana, e, sim, do nosso paladar. É que este tem-se vindo habituando mal no
homem moderno com a equivocada alimentação nas últimas décadas. E agora é
difícil renunciar aos alimentos cozidos, assados, fervidos e carregados de
especiarias.
O Dr. Evers mostra como aqueles povos que têm sabido manter-se
fiéis à alimentação dos seus predecessores não registram, ainda hoje, nem um só
caso de esclerose múltipla, ao passo que onde a alimentação é refinada surge a
esclerose e é tanto mais freqüente quanto maior é o refinamento. Nos Estados
Unidos essa doença constitui já um «agudo problema social».
Alimentos Utilizados no Regime de Evers - Segundo a prescrição do
Dr. Evers são permitidos os seguintes alimentos: fruta crua, raízes cruas, leite
cru, manteiga, flocos de aveia crus, pão integral, ovos crus e mel.
Entre as frutas figuram: maçãs, peras, ameixas, avelãs, nozes, sementes
de girassol, feijão verde tenro, cerejas, uvas, pêssegos, groselhas, framboesas,
amoras, laranjas, bananas, amêndoas, castanhas-dopará, flocos. amendoins, tomates,
cereais (grãos de trigo e de centeio germinados) e frutos secos (tâmaras, figos,
uvas passas).
Entre as raízes contam-se, principalmente, as cenouras e o nabo.
Depois de haver observado durante dez anos o efeito deste regime em mais
de 2.500 doentes, julga o Dr. Evers (cujos doentes foram cuidadosamente
observados por vários professores universitários) poder afirmar o seguinte:
piora o estado de um doente com esclerose múltipla, apesar de todos os meios
curativos, e finalmente o doente fica incapacitado para andar e tem de se manter
no leito; e se, depois de aplicar um regime alimentar em igualdade das restantes
condições (cada qual submete-se a um tratamento em sua casa, vivendo como
dantes) e lentamente ao fim de alguns anos, o doente aprende a andar de novo, e
finalmente fica plenamente capacitado para o trabalho, está justificada a
conclusão de que as melhoras se encontram em relação causal com o regime
alimentar prescrito. A condenação, anteriormente implacável, desta enfermidade,
com o seu qualificativo de «incurável», deve desaparecer. A esclerose múltipla
de hoje é curável (segundo o Dr. Evers).
Para os alimentos autorizados, acima mencionados, o Dr. Evers propõe as seguintes quantidades diárias:
1. Grãos germinados, 50-250 g.
2. Pão integral, 125 g (não mais).
3. Flocos de aveia,, 70 g (não mais).
4. Fruta e raízes, 500 g (ou mais).
5. Leite, um litro.
6. Manteiga, 30 g (ou mais).
7. Ovos, um (ou mais).
8. Nozes, 50-100 g (ou mais).
É um fator decisivo para a quantidade consumida o apetite do doente (três
refeições por dia). Se se chegar a sentir repugnância por estes alimentos, então
observar um dia de jejum rigoroso, bebendo-se apenas água pura. Devem
preferir-se os alimentos próprios da estação, e quanto mais frescos melhor. Só a
aplicação rigorosa durante muitos anos do regime que pode obter êxito. A
mudança total da alimentação exige do médico e do doente grande confiança mútua,
e no doente, inflexível vontade de se curar. O regime nunca pode prejudicar.
Depois da cura, voltar-se-á paulatinamente a misturar com os alimentos crus
outros cozidos ou assados. Mas os frutos, as raízes, o leite e os produtos
lácteos devem continuar a ser os alimentos principais.
A Alimentação no Tratamento e Profilaxia da Paralisia Infantil --
No tratamento da paralisia infantil (poliomielite), conforme as
experiências obtidas durante os últimos anos, volta-se a dar grande importância
à alimentação. Em todas as doenças infecciosas produz-se durante a fase aguda
maior consumo de proteínas, gorduras, vitaminas e fermentos. Isto exige também
a paralisia infantil, expressando-se tal fato com a perda considerável de peso
durante as primeiras três a seis semanas. A perda de substância orgânica e de
grande importância para a capacidade defensiva nesta grave doença. As
substâncias defensivas estão geralmente unidas com um núcleo proteínico e devem
estar representadas na alimentação diária.
Verifica-se realmente nos três primeiros dias, nos doentes de paralisia
infantil, um crescente aumento de proteínas no sangue. Parece que a infecção
levanta obstáculos à formação de matérias proteínicas celulares e de
hemoglobina. A insuficiência de vitamina B1 (aneurina) e de
vitamina B2 (lactoflavina) assume grande importância. O médico mexicano Dr. Castañeda deu boas informações acerca do bom resultado conseguido com o
emprego de vitamina C e de vitamina B12; o tratamento aplaca imediatamente as
dores e os espasmos musculares. Além disso, a vitamina B12 faz com que a
recuperação da função muscular seja mais rápida. Isto é uma indicação de que a
melhor profilaxia contra a paralisia infantil consiste numa alimentação que
contenha também as citadas vitaminas em quantidade suficiente.
Com respeito à profilaxia simples e natural, são muito de ter em conta as
experiências que mostram o efeito preventivo do alho. Quando aparece a epidemia,
deve empregar-se abundantemente este velho remédio da medicina popular.
Conseguiram-se bons resultados com o consumo de um regime complementar
que contém todos os alimentos importantes: proteínas, gorduras, hidrocarbonatos,
minerais e vitaminas. Acrescenta-se ao regime para estes efeitos uma bebida que
é uma emulsão de gorduras, albumina, ovos, xarope de cereais e leite. Este
regime acrescenta-se às refeições correntes.
Uma colher pequena ou grande de doce de noz ou de amêndoa misturada com
uma colher pequena de mel puro numa xícara de chá, dada a beber lentamente aos
goles, torna-se para os doentes de paralisia infantil um alimento energético em
que figuram todas as matérias nutritivas e funcionais necessárias para o
tratamento dietético.
Uma ou outra vez, toma-se metade da quantidade de doce de noz ou de
amêndoa completando-o com a gema de um ovo.
A Alimentação dos Psicopatas -- A vitamina 136 e o
ácido glutâmico, bem conhecidos como elementos essenciais na
formação de proteínas, conseguem efeitos curativos nos doentes
mentais (psicopatas) pela sua função desintoxicadora no
metabolismo cerebral. Conhecem-se atualmente experiências muito a
favor da existência de um metabolismo defeituoso, inclusive na
esquizofrenia. O Dr. Roland Fischer (da Seção de Investigações de Psiquiatria do Departamento de Saúde do Canadá),
pôde observar em animais sintomas de intoxicação com injeção de soro de
esquizofrênicos. Sabe-se, além disso, que a vitamina B6 e o ácido
glutâmico desintoxicam produtos metabólicos intermédios do metabolismo
encefálico, como, por exemplo, o amoníaco, e podem melhorar ou até mesmo curar o
brusco e considerável aparecimento da fadiga, a indecisão, as desordens na
sensibilidade, a amnésia e a depressão.
Se considerarmos, porém, que estas importantes matérias funcionais só se
consomem mediante uma alimentação realmente completa e natural, não nos deve ser
penoso adotar decididamente tal método de alimentação.
Fim do Capítulo 12