Se a isto se acrescentar uma importante insuficiência de elementos
curativos e nutritivos devido a uma alimentação
insuficiente, mal combinada ou incompleta, pode produzir-se
rapidamente o estado de hipersensibilidade da pele, a alergia.
Qualquer estímulo exterior, aliás perfeitamente
inócuo (por exemplo, usar roupa interior nova, elaborada
com produtos químicos ou tecidos de lã) produz
«reações alérgicas».
As inumeráveis relações entre as doenças interiores e as da pele,
conhecidas já na era naturalista da Medicina, mas que no critério rigorosamente
científico não têm sido exatamente compreendidas, obscureceram-se por completo,
porque foram relegadas para o último plano que os modernos conhecimentos
alcançaram mediante os novos meios técnicos, especialmente o
microscópio. Depressa surgiu o conceito de que as doenças cutâneas, quer fossem
infecciosas ou não, procediam exclusivamente do exterior, e eram de natureza
local, podendo aplicar-se-lhes remédios exteriores e locais. Uma impressionante
série de novas observações e experiências tiveram influência para que se
modificasse a doutrina sobre doenças da pele e que voltassem a ser consideradas,
na sua maioria, como sintomas e efeitos de males internos.
A estrutura anatômica da pele, com as suas numerosas capas celulares,
glândulas sebáceas e sudoríparas, gânglios nervosos, pigmentos e outras forças
químicas, é algo tão maravilhoso que dela podemos deduzir a existência de
múltiplas e importantes funções.
A Experiência dos Puericultores -- Os médicos de crianças têm
observado desde há muito tempo que mediante a limitação do consumo de sal na
alimentação se pode influir na hidratação dos tecidos orgânicos. Consegu-se
assim com uma alimentação pobre em sal drenar e curar as inflamações purulentas
da pele e da mucosa e, sobretudo, dos eczemas úmidos.
Correlações Entre a Alimentação e as Doenças da Pele -- Também nos
adultos há estreitas relações entre a pele sã e a alimentação. Os numerosos
efeitos sobre a pele, como o calor, frio, tóxicos, bactérias, fungos, parasitas
e até mesmo lesões a que diária ou ocasionalmente nos encontramos expostos,
dificilmente podem provocar doenças cutâneas se a pele enquanto órgão estiver em
normais e sãs condições de defesa. Há uma propensão interna para as enfermidades
da pele que, sem dúvida, depende do estado da alimentação. E, pois, importante
que os doentes da pele de qualquer espécie ordenem a sua alimentação e, conforme
a experiência, isso significa que deve ser: simples, parca, integral e pobre em
sal. Toda a debilitação da nossa potência vital implica para a pele uma redução
na capacidade defensiva. Os tecidos orgânicos debilitados mais cedo ou mais
tarde vêm a ser objeto de ataque e campo nutritivo de numerosos germes que não
podemos afastar do nosso mundo imediato, por muito que desinfetemos a pele, em última
análise, são essenciais para o equilíbrio biológico. No homem não constituem um estímulo
permanente para a conservação da sua capacidade defensiva. Num tecido normal, os
germes purulentos não encontram condições favoráveis de vida.
Numerosas questões sobre as relações entre as doenças da pele e o
metabolismo, as funções da circulação, a atividade intestinal e hepática, a
adição de vitaminas, minerais e fermentos, as funções das glândulas internas,
assim como a vida nervosa e espiritual, ficam esclarecidas. O tratamento interno
e externo, a higiene e o modo de vida, também devem dar a sua contribuição
essencial no processo de cura.
Funções Excretoras da Pele -- De fundamental importância é a
capacidade de eliminação, pela pele, de água assim como de tóxicos do
metabolismo, toxinas bacterianas, sais, ácidos e outros elementos introduzidos
em excesso que o organismo deve expulsar. O corpo utiliza esta autêntica função
de escoamento da pele quando não pode desfazer-se das matérias residuais. Estas
se depositam e desintoxicam na pele, como primeiro passo. O cheiro que muitas
pessoas deitam dá-nos uma boa prova disto. Também nos indica que o corpo se
encontra numa difícil luta e que precisa de ajuda imediata para evitar as
enfermidades, e especialmente as da pele.
Essa ajuda só pode consistir em que apoiemos a pele na sua função,
escovando-a a seco, lavando-a, aplicando-lhe fomentações quentes e tomando
banhos. Só assim se consegue que uma grande parte dos materiais de refugo sejam
expulsos. Se além disso interrompermos a sua contínua afluência até aos tecidos
cutâneos, mediante dias de sucos ou frutas, alimentação menos abundante ou
alguns dias de jejum rigoroso, a pele eliminará depressa todas as matérias de
refugo e recuperará o seu funcionamento normal e a sua cura saudável.
Afecções Freqüentes da Pele e a sua Origem -- De há muitotempo que se vêm conhecendo numerosos defeitos nutritivos como causa
inicial destes males, como, por exemplo, a cor amarela das crianças de peito, no
caso de excesso alimentar de suco de cenouras ou de, papas. Mas é mais grave a
presença excessiva de sal nos alimentos, pois aumenta a predisposição da pele
para a inflamação e aumenta a sua facilidade de secreção de líquidos, ao mesmo
tempo que diminui a sua capacidade de defesa.
Investigaram-se os sintomas cutâneos da insuficiência da vitamina A.
Basta recordar a queratinização das glândulas capilares, o aparecimento de
parasitas, as inflamações cutâneas purulentas, a queda dos pêlos, a formação de
pequenas manchas, a incapacidade de transpiração da pele e tantas outras
manifestações.
Enfermidades cutâneas típicas (como a pelagra) são
conseqüência da insuficiência em diversos fatores do grupo vitamínico B. Também
se manifesta no estado cutâneo a falta de vitamina F. Da mesma sorte, os
alimentos e medicamentos tóxicos se relacionam estreitamente com a pele. A
maioria das pessoas têm sofrido essa conseqüência depois de terem comido
mariscos, peixe, carne de porco, caça, queijo velho, cogumelos. E até mesmo
frutas, bagas ou sementes germinadas podem produzir em pouco tempo alterações
cutâneas.
Entre as matérias que por consumo excessivo exercem efeitos tóxicos na
pele não se deve passar por alto o ácido úrico. Antes de mais, são formadores
de ácido úrico a carne, os caldos de carne, o peixe, o café, o chá, o
cacau, o chocolate e os legumes secos. O ácido úrico provoca a gota e eczemas. Se,
ao mesmo tempo, se consumirem alimentos ricos em sal, torna-se impossível a
eliminação de ácido úrico, ao passo que um regime de alimentos pobres em sal,
depois de um aumento temporário do sofrimento, favorece a eliminação e serve,
portanto, para a cura.
É só de há pouco tempo a esta parte que se conhece melhor a função
da colesterina, um elemento procedente da alimentação. Tal qual ocorre
com o sal, o excesso da colesterina prejudica a pele e os vasos sanguíneos; na
maior parte dos casos de doenças da pele comprova-se um notável aumento de teor
de colesterina no plasma sanguíneo. Para os doentes da pele por causa da
nutrição, deve prescindir-se em absoluto dos alimentos ricos em colesterina
acima citados, até que a presença deste elemento no plasma sanguíneo tenha
descido para o nível normal (de 140 a 200%).
É também importante para a pele o consumo diário de uma quantidade mínima
de cálcio: de 0,5 a 1 g para os adultos. Quem tiver sofrido de irritações
cutâneas, comichão e urticária deve ter experimentado o benéfico efeito de
algumas injeções intravenosas de cálcio que rapidamente reduzem o calor, a
tumefação e forte comichão das irritações cutâneas.
Fatores
Hereditários
Há doenças da pele, sobretudo eczemas, de que são responsáveis os pais ou
outros antepassados mais afastados. O antigo adágio de que os pecados dos pais
recaem nos descendentes até à terceira ou quarta geração é unia verdade que
encontramos nas doenças cutâneas. Quem sofrer de tais doenças ou de tais
debilidades constitucionais na sua vida não deve voltar-se contra os seus
ascendentes, só porque aparentemente tem de suportar uma carga injusta. Cada
geração vive no meio ambiente do seu tempo e é filha deste e das suas
imperfeições.
Influência das Doenças Internas -- Não é só a insuficiência ou o
excesso na nutrição, nem a constituição fisica congênita ou obtida no decurso da
vida, que provocam enfermidades da pele, mas também numerosas enfermidades
internas. Conhecemos 'muitas relações entre as doenças cutâneas e as dos órgãos,
isto é, estômago, figado, pâncreas, intestino delgado e, mais ainda, intestino
grosso. Sobretudo a prisão de ventre crônica deve salientar-se como fonte de
auto-intoxicação e de numerosas reações patogênicas da pele. Com freqüência não
se pode curar uma molesta enfermidade cutânea sem se recuperar o funcionamento
normal dos intestinos. Influem igual e consideravelmente na origem e
desenvolvimento das doenças cutâneas o sistema nervoso e os estados anímicos, de
modo que o seu papel deve ser tomado muito a sério quando se decide qualquer
processo de cura.
Regime de Cura Para as Doenças Cutâneas -- O anteriormente exposto
demonstrou que a base para o tratamento das doenças da pele é um regime
alimentar apropriado, caracterizado por:
1. Pobreza em sal.
2. Pobreza em proteínas animais.
3. Falta de gordura animal.
4. Riqueza em vitaminas e fermentos.
5. Riqueza em minerais básicos, sobretudo cálcio.
Não importa apenas ter em conta um fator isolado da alimentação, por
exemplo o sal, como acontece com tanta freqüência. O regime deve conter sempre
alimentos crus nas suas diversas formas: por exemplo, dietas rigorosas de sucos
de frutas e hortaliças, alimento; exclusivamente vegetarianos e a combinação
destes com leite e produtos lácteos.
Um regime curativo estrito, traçado segundo as últimas experiências,
inclusive para as doenças crônicas da pele, é analisado minuciosamente no
capítulo sobre as afecções nervosas, quando se trata do regime de Evens,
em que
desempenham um papel de destaque os grãos de cereal germinados. Nesta forma de
dieta provou-se a normalização de funções vitais perturbadas, como a renovação do crescimento do pêlo
depois da sua queda durante muito tempo, o escurecimento do cabelo em pessoas
anteriormente encanecidas, o incremento do vigor sexual e a regulação dos
transtornos na menstruação. Outras experiências na dietética de doenças cutâneas
hão de produzir decerto magníficos resultados.
Para o tratamento de doenças da pele podemos empregar a infusão mista de
espécies lenhosas: 50 g de guaiaco (Lignum Guaiaci), 30 g de gatunha (Radix ononidis), 10 g de alcaçuz (Radix liquirtiae), e 10 g de
pau de açafrão (Lignum sassafras). Calculam-se duas colheres grandes
desta mistura para três xícaras de água, deixando-se ferver até se reduzir para
duas xícaras. De manhã, para desjejuar, bebem-se de uma a duas xícaras de
infusão quente.
Como já se disse no princípio deste livro, por uma grande série de
costumes e de mudanças introduzidas pela nossa civilização, abandonou-se, muito
mais que qualquer outro órgão, o da pele, maltratando-a e afastando-a de todos
os estímulos normais, naturais e higiênicos, como a luz, o ar, o sol e as
alterações climatológicas. Por isso, para as pertinazes doenças da pele muitas
vezes torna-se absolutamente necessário, além dos regimes curativos e das
combinações de plantas medicinais, uma mudança de clima. Geralmente são
preferíveis os climas marítimos e de altitude.
Com muita freqüência se consegue curar uma molesta doença cutânea sofrida
durante anos só com o fazer atuar de modo regular e acertado todos os fatores de
ordem natural.
As chamadas alterações por hipersensibilidade da pele, as alergias, têm a
sua causa básica definitiva no sistema nervoso. São muitas vezes os alimentos
que provocam a reação. Fala-se então de alergias da alimentação, como
vermelhidão ou urticária depois de se haver comido peixe, mariscos, carne de
porco, morangos ou outros alimentos.
Idênticas ou parecidas reações podem produzir-se em contato com muitos
outros elementos do nosso meio ambiente, como, por exemplo, a asma provocada
pelo pó do colchão de penas, a febre-do-feno pelo pólen da erva, a prisão de
ventre depois de se consumirem determinados alimentos, os eczemas por
inumeráveis produtos do mundo exterior ou do metabolismo. Uma autêntica cura das
doenças alérgicas só é possível com um prolongado e estrito regime de alimentos
crus.
Fim do Capítulo 11