O ponto enfraquecido fica exposto ao ataque das numerosas bactérias,
sempre presentes na boca, que vão destruindo o dente.
Se fosse esta a causa única ou principal da cárie, bastaria
a cuidadosa limpeza diária dos dentes e da boca com
pasta dental, escova de dentes e elixir para terminar em pouco
tempo com a doença. Infelizmente, porém, não
é assim, porque a cárie nem sequer pode ser
contida por meios locais, tendo até aumentado consideravelmente
no século passado, a despeito de todas as escovas e
dentifrícios, até ao ponto de hoje nos encontrarmos
perante o fato de apenas cinco por cento dos habitantes dos
países mais adiantados possuírem uma dentadura
completamente sã. Outros investigadores, que tiveram
também em conta os velhos, chegaram à conclusão
de que em cada cem homens só há um que tem os
dentes sãos.
Há motivos de sobra para considerar o aparecimento de um foco local de
cárie como sintoma de uma lesão que afeta todo o corpo, como conseqüencia de uma
profunda perturbação do metabolismo ou um mal geral. Um dos mais notáveis
conhecedores destes problemas, o Prof. Rebel, confirma que a questão
discutida durante dezenas de anos: -- se o esmalte desenvolvido e duro continua
a participar no metabolismo, isto é, se apresenta fenômenos de intercâmbio --
tem de ser respondida no sentido afirmativo, embora se trate de um metabolismo
muito limitado. Mas um órgão que participa no metabolismo é também influenciado
por este. Naturalmente, a influência é máxima no período de desenvolvimento, mas
torna-se decisiva para a capacidade de resistência contra a cárie durante toda a
vida. Por outro lado, não devemos ir tão longe como' outros investigadores
modernos e considerar que a cárie é só um processo interno, isto é, dependente
do metabolismo, pois conhecemos numerosas observações e abundantes ensaios que
tiveram lugar durante anos e que explicam as possibilidades de lesão local na
dor de dentes. Mas em ambos os casos existe uma clara relação com a alimentação.
Uma alimentação indevida pode causar um dano local quando é retida na
cavidade bucal como também mais tarde, depois de absorvida pelo intestino, da
mesma maneira que um alimento em todo o seu valor pode despertar forças de
melhoria e de cura.
Influência da Alimentação -- Nos anos de alimentação escassa,
durante a última grande guerra e rios tempos imediatamente posteriores, diminuiu
em muitos países europeus a freqüência da cárie, especialmente entre as crianças
até à idade escolar.
Naturalmente que se chega depressa à conclusão de que a alimentação da
guerra tinha uma composição que aumentava a capacidade de resistência à cárie.
Estas observações procedem da Alemanha, Suíça, Noruega, França e Espanha.
Ainda não se pode pormenorizar quais os
componentes do regime que terão causado aquela resistência, mas, na minha opinião,
parece-me
que foi essencial o uso
do pão escuro ou integral que, como se sabe, oferece
um teor consideravelmente mais rico de albumina, vitaminas, minerais e
oligoelementos.
Investigando toda uma série de ilhas nos mares do Sul, compararam-se
grupos de indígenas que não tinham estado em contato com a civilização nem
sobretudo com alimentos importados, com outros indígenas que já tinham
«desfrutado» os «benefícios» da civilização e que haviam consumido, durante
muito tempo, alimentos importados (especialmente farinha branca, açúcar e
doces). Naqueles indígenas que viviam no estado natural, todos os seus dentes
haviam crescido normalmente e mostravam uma grande imunidade contra a cárie.
Pelo contrário, entre os outros em contato com a civilização encontraram-se
muitos dentes mal colocados e desvios de mandíbulas. De cada mil dentes,
trezentos estavam doentes.
Também é certo hoje que o açúcar refinado, desmineralizado, reúne
perfeitas condições para fomentar a cárie dentária. O açúcar branco ataca
primeiramente os dentes desde o exterior.
Passa depois ao sangue e ao fígado, necessitando para a sua assimilação
de grande quantidade de minerais e de vitaminas do grupo B. A escassez assim
provocada influi na formação de hormônios e fermentos e, por conseguinte, nas
suas funções de importância vital. Como é lógico, a causa não reside apenas no
açúcar, que não passa de um simples fator desencadeante.
Efeito das Deficiências de Flúor e Magnésio -- A alimentação
defeituosa não implica apenas a insuficiência de cálcio, que se retira dos
dentes ou se lhes não fornece, mas também, e sobretudo, a insuficiência de
magnésio (marfim) e de flúor (esmalte). O marfim oferece a máxima porcentagem em
magnésio (cerca de 4%) de todos os órgãos do corpo, e o esmalte a máxima
porcentagem em flúor (0,3-0,5%). E é precisamente o flúor que faz do esmalte a
substância mais dura nos corpos dos animais e dos homens. É ao flúor que os dentes
devem a sua forma precisa e terminada, não falando já de numerosas funções, umas
conhecidas e outras ainda não bem conhecidas, desempenhadas pelo flúor e pelo
magnésio em,todo o corpo. Quantitativamente, encontra-se flúor sobretudo nas
ervas e cereais. Se considerarmos a nossa farinha pura, branqueada e tratada com
a ajuda de uma levedura química, temos de comprovar, com tristeza que pouco
contém de flúor ou de qualquer outro mineral. É praticamente só fécula pura e
branca. O mesmo acontece com as nossas hortaliças cozidas, desmineralizadas ou
só dotadas com muito sal. Repetem-se, por conseguinte, os mesmos erros de
nutrição com que tropeçamos a cada passo que damos. Mas a verdade' é que para a
conservação dos nossos dentes temos necessidade de um pão que contenha todos os
elementos do trigo, de verduras que não sejam fervidas, devendo ser
consumidas cruas na medida do possível, e fruta que nos sirva de fonte de minerais.
É necessária uma dentadura sã, porque os dentes cariados são causa de toda uma
série de enfermidades infecciosas e digestivas. Os dentes perdidos por cárie são
um sinal de alarme para fazermos uma revisão de todos os hábitos de vida, uma
mudança definitiva, abandonando a alimentação antinatural e empobrecida.
Normas de Aplicação Prática -- 1. O consumo de açúcar
natural (fruta, sucos, mel) é recomendável por causa dos seus materiais
secundários e de proteção.
2. O farelo e os gérmens de cereais exercem, por causa do seu elevado
teor em mineral, vitaminas e albumina, uma influência protetora contra a cárie.
Até onde for suportável, devem introduzir-se na alimentação, por conseguinte, o
pão integral e os produtos integrais da moagem, especialmente para as crianças.
3. Por experiências com animais, sabemos que a deficiência de albumina,
entre muitas outras coisas, leva a insuficiências no esmalte. Por isso, são
precisos, todos' os dias, produtos lácteos de boa qualidade.
4. No período de desenvolvimento dos dentes (isto é, desde o nascimento
até aos sete anos de idade), a criança deve primeiramente ser alimentada com o
leite materno, com alimentação melhorada para a mãe, e, a partir do terceiro e
quarto mês, com sucos crus de verduras e de frutas como alimento complementar e, mais tarde, com verduras cruas em suficiente
quantidade.
Como o gérmen da formação da cárie se encontra na infância, não é
de esperar já na idade madura uma cura de tal enfermidade, nem mesmo com um
regime permanente vegetariano de cem por cento, embora se
possa limitar assim o seu desenvolvimento. O cuidado sistemático dos dentes com
uma pasta dentifrícia eficaz, a abstenção de comer doces concentrados nos
intervalos das refeições e o controle trimestral pelo dentista devem ser
observados escrupulosamente.