Na clínica e mediante o estudo especial dos órgãos
circulatórios por análises minuciosas e cuidadosas,
podem descobrir-se as diferentes formas e localizações
das lesões nas válvulas, miocárdio, nervos
do coração ou qualquer das muitas formas de
doenças arteriais. Comuns, porém, a todas estas afecções
são as alterações no metabolismo, do
mesmo modo que também as perturbações
metabólicas se refletem com as correspondentes conseqüências
nas veias, nas artérias e no coração.
Em todo o caso, não devemos esquecer o metabolismo
nos doentes circulatórios ou débeis cardíacos.
Correlações Entre o Metabolismo e a Circulação do Sangue --
Suponhamos que o miocárdio tenha ficado lesado por uma doença infecciosa
aguda, uma angina de peito, uma escarlatina ou uma difteria, coisas que ocorrem
diariamente. Uma lesão do miocárdio enfraquece o seu funcionamento como bomba do
coração, de modo que se produzem perturbações na circulação, quando as
exigências, impostas ao coração para andar, correr, subir escadas ou trabalhar
excedem a sua capacidade de rendimento. Os transtornos circulatórios fazem-se
notar pelas acumulações de sangue e humores nos mais diversos órgãos, como
estômago, fígado, pulmão e rins. As pernas também podem inchar. A diminuição do
ritmo da circulação tem além disso como conseqüência notáveis mudanças no
metabolismo. Conduz ao encharcamento dos tecidos por sangue venoso, que leva
resíduos metabólicos, ácido carbônico, uréia, ácido láctico e muitos outros
elementos que devem passar para os órgãos de evacuação e para os pulmões, para
sua depuração e renovação. A obstrução de tal eliminação prejudica a marcha do
processo do metabolismo, isto é, as funções das células. Com isto dá-se o
primeiro passo da saúde para a doença.
Convém acrescentar aqui que só a falta de movimento (profissões
sedentárias) e a insuficiência metabólica correspondente é que levam a
indesejáveis perturbações circulatórias, sendo isto muitas vezes o motivo das
doenças dos órgãos circulatórios.
Onde quer que se produza, o estancamento do sangue leva à dilatação
vascular (especialmente nas veias) até as tornar permeáveis, à acumulação de ácidos
carbônicos e outros produtos do metabolismo até à sua introdução nos tecidos,
lesando-os ou provocando a sua degeneração ou, quando ainda se mantêm intactas
as funções defensivas, a uma inflamação como reação. Deste modo, o transtorno
inicial circulatório passa a dar origem às mais variadas enfermidades. As
perturbações circulatórias levam sempre a perturbações do metabolismo e as
doenças circulatórias trazem sempre consigo enfermidades metabólicas.
Regime Para Reforçar o Coração -- Estão hoje de acordo os médicos
de todos os países civilizados em que a melhor maneira de conseguir reforçar o
coração é o regime de alimentação sem sal, mediante dietas na base de frutas, sucos de
legumes, curas de leite azedo. Uma alimentação sem sal no sentido mais estrito é
praticamente impossível, porque quase todos os alimentos contêm os seus
componentes de sódio e cloro. Entendemos, portanto, «regime sem sal» aquele em
que o sal não se acrescenta aos alimentos. Mantendo-se rigorosamente este
regime, a urina não expulsa mais de 1 g de sal por dia.
Este regime curativo, como veremos, aplica-se também às doenças do
sistema renal e à tuberculose dérmica e óssea e, em forma ainda mais rigorosa,
no tratamento do câncer.
0 regime sem sal exerce fortíssima influência no metabolismo de sais
líquidos. Conseguem-se assim efeitos sobre as glândulas de secreção interna
(hipófise, diencéfalo, cápsulas suprarenais) que regulam o metabolismo da água e
do sal, conseguindo-se influir na pele e nos rins, que constituem os órgãos de
eliminação da água e do sal. O regime sem sal comum é tão conveniente para a
saúde que nas perturbações leves ou não muito graves da circulação, com inchaços
edematosos, se consegue em poucos dias, sem necessidade de medicamentos,
considerável eliminação de sal e com esta o desaparecimento completo das
acumulações doentias de água. E isto não é nenhuma teoria, mas experiência
prática, comprovada repetidas vezes por famosos clínicos.
O teor de água dos tecidos corpóreos depende do seu teor em
sal, e a presença deste nos tecidos está relacionado com a ingestão de
sal. Se reduzirmos o seu consumo ao limitado teor dos alimentos, pouco salgados,
reduziremos o teor de sal dos tecidos rapidamente, com o que, ao mesmo tempo, a
água não poderá ficar retida e é por isso eliminada em
grande quantidade.
Temos de considerar hoje grande falta de negligência que no tratamento de
doentes de circulação não se faça uso suficiente e correto do regime sem sal.
Inclusive, ingerido complementariamente os conhecidíssimos medicamentos para a
circulação, baseados na digitalina, sementes de estrofanto, lírio dos vales,
alguns cactos ou a adelfa, estes atuarão com tanta maior eficácia, quanto mais
pobre em sal for a alimentação. Precisamente, neste caso, completam-se de modo
felicíssimo os medicamentos e o regime.
Pauta Para a Realização Prática do Regime Sem Sal -- Como não é
coisa nada simples, deve-se proceder a uma exposição bastante minuciosa.
Correntemente distingüem-se o regime «estrito» e o «suave». No regime estrito
elimina-se diariamente até um máximo de 1 g na urina, ao passo que no suave de 2
a 3 g. Como já se disse atrás, não é possível nem prático conseguir uma
alimentação absolutamente sem sal, porque os tecidos orgânicos devem conservar
determinado equilíbrio fisiológico entre sódio e cloro, os dois componentes do
sal. Ambos servem para a conservação do equilíbrio entre ácidos e bases e,
portanto, da tensão e da pressão do tecido.
Como os alimentos já mostram grandes diferenças quanto ao teor em sal
natural, deve-se suprimir no regime sem sal todos os alimentos com um teor
elevado ou médio em sal. Para que cada leitor possa ter uma idéia clara do teor
de sal natural dos nossos principais alimentos, aqui apresentamos um quadro
baseado nos dados do Prof. Doutor Heupke.