Cap. 01 - Substituição de Alimentos Naturais por Artificiais |
Alimentos Equilibrados
|
O valor da alimentação não deve ser calculado apenas
por um índice térmico (conteúdo
de calorias).
Sabemos que a alimentação de grande conteúdo de calorias
não é a mais sã, mas sim aquela
que contiver, no mais alto grau, o estado natural
dos alimentos e que limitar, o mais possível,
o consumo de alimentos animais. Da mesma maneira
que o alimento natural, por exemplo uma maçã,
uma noz, uns gramas de cereal, é uma combinação
harmonicamente equilibrada de matérias alimentícias,
ativas e vivas, assim também deve conter
a nutrição total do homem tudo o que
for necessário para o organismo numa proporção
harmônica.
|
|
Se se procurarem todas as matérias necessárias em quantidades
suficientes e conforme a uma relação imposta
pela mesma natureza, conseguir-se-á a saciedade e a
satisfação total do apetite. Uma alimentação
defeituosa ou unilateral em qualquer sentido dificilmente
produz a sensação de saciedade, porque o organismo
está sujeito à lei do mínimo de Liebig.
Se houver na alimentação uma substância
em quantidade insuficiente, como, por exemplo, uma vitamina
ou um mineral, neste caso o organismo toma apenas a quantidade
de proteínas e de gorduras (que porventura abundem
na dita alimentação), na proporção
com o volume da substância insuficiente.
Não é uma alimentação rica em calorias o objetivo digno dos nossos
esforços, mas sim a alimentação suficiente, harmônica e equilibrada, em que
todas as substancias necessárias se encontram na proporção mais
natural possível. É fácil compreender que o organismo, mediante alimentação mais
natural e regular que se possa dar, necessita de quantidades consideravelmente
menores e que a alimentação equilibrada facilita uma força de conservação da
saúde, cuja importância ainda não conhecemos suficientemente. A alimentação mais
próxima da Natureza cria homens tranqüilos, ao passo que toda a forma de
alimentação permanente unilateral dá lugar a homens inquietos, sempre
esfomeados, insatisfeitos, em busca inacabável de algo indeterminável.
|
Alimentos «Puros», Alimentos Desnaturalizados
|
Quando atuamos
num alimento natural com métodos físicos e químicos, processos que dantes se
qualificavam de «enriquecimento» ou de «depuração», mas que hoje reputamos de
«desnaturalização», obtemos produtos energéticos puros e quase sempre mais
concentrados, como a farinha branca, o açúcar branco, o arroz sem casca, o
azeite refinado e as gorduras em forma de margarinas, as conservas, o sal de
mesa, mas tudo isto privado quase totalmente das suas características biológicas
eficazes e sãs. Por outro lado, também não devemos esquecer que estes produtos
da indústria moderna, por causa da sua excelente capacidade de duração, de
armazenagem e de transportes se tornam insubstituíveis para a formação de
reseras e fornecimentos distantes. Mas, de qualquer modo, constituem
alimentos mortos, que necessitam de ser completados forçosamente com alimentos
frescos vivos, isto é, com frutas de toda espécie, farinhas de cereais, nozes,
saladas, etc.
|
Perigos da Excessiva Pureza
|
Vamos encontrar o mesmo problema na
elaboração de medicamentos. Também se apresenta aqui a questão seguinte: possui,
porventura, a combinação de substâncias naturais ou de substâncias puras
isoladas o maior poder curativo?
Enquanto a investigação analítica nos levou no campo da técnica para
avanços que mal se suspeitavam, sobretudo na obtenção de novas matérias-primas e
elaboradas, nem sempre tivemos sorte na medicina e na alimentação com matérias
isoladas e sintéticas. Com os métodos dos diversos ramos das ciências naturais,
desde o descobrimento da morfina pelo farmacêutico Sertürner em 1816,
vêm-se analisando as drogas e os efeitos dos diversos fatores que procuramos
expor com a máxima exatidão possível. Chega-se, deste modo, aos quadros dos
efeitos das substâncias puras, que possuem indiscutivelmente a vantagem da
dosificação exata, mais tempo de conservação e resultados mais equilibrados. Mas
com freqüência se juntava a isto maior intolerância, maior toxicidade e pior
solubilidade, pelo que era preciso buscar primeiramente um
solvente orgânico adequado. Com respeito à solubilidade, diga-se de passagem que
se chegou a pensar seriamente se a insolubilidade na água e a solubilidade em
dissolventes orgânicos não seria uma etapa prévia para a ação cancerígena da
substância. Com a euforia causada pela descoberta e obtenção de substâncias
puras não se prestou a devida atenção ao estudo do efeito da planta na sua
totalidade. O descobrimento da matéria ativa principal e o seu isolamento
preenchiam o imediato objetivo terapêutico. Por isso, em princípio, desprezou-se
toda a substância «complementar».
|
Exemplo dos Princípios Ativos da Digital
|
Exemplo clássico de
investigação sumamente analítica e diferenciadora é dado pela distribuição das
substâncias ativas nas folhas da digital purpúrea. Primeiramente, extraíram-se
das folhas dois glicósidos, A e B, dos quais, por hidrólise, se obtiveram os
glicósidos digitoxina, gitoxina e gitalina, que demonstraram uma forte ação
cardíaca. De novo, mediante a hidrólise de substâncias glicosídicas, chegaram a
isolar novos princípios ativos, que também produziram efeitos cardíacos.
julgava-se então e esperava-se ter encontrado nos produtos finais as substâncias
mais eficazes para os tratamentos do coração. Demonstrou-se, porém, que o efeito
cardiotônico se reduzia, à medida que se iam efetuando as hidrólises, chegando-se, finalmente, à conclusão
de que nem sequer os glicósidos completamente isolados possuíam o maior efeito
curativo, mas a simples tisana das folhas da digital conseguia resultados mais
satisfatórios, conforme já tinha advertido durante anos o conhecido cardiólogo Prof. Edens.
Com isto começou-se a considerar que as «substâncias complementares e
inertes», a princípio passadas por alto, deviam tomar parte nos efeitos, e
provou-se o papel importante desempenhado pelas substâncias anexas análogas ao
sabão (saponinas) e pelos sais de cálcio no efeito conjunto.
|
0 Todo é Mais Eficaz
do que as Partes
|
Mediante tais experiências chegamos finalmente ao
conhecimento de que as nossas grandes esperanças de superar a Natureza, mediante
a obtenção de substâncias puras, não se podem realizar em muitos casos e que,
pelo contrário, a Natureza criou substâncias ativas e alimentos concentrados
tanto nas nossas plantas medicinais, como nas frutas, verduras e legumes, nas
quais cada fator conserva uma proporção maravilhosa que é a mais favorável para
o nosso organismo. Temos de regressar àquela verdade, puramente intuída por Hufeland (1762-1836), de que toda a planta alimentícia ou medicinal
constitui uma individualidade e que deve ser estudada e empregada como tal.
Confiemos pois nas velhas experiências, cuja realidade a ciência volta
sempre a comprovar, de que o produto natural completo é mais ativo do que qualquer
dos seus compostos isolados.
|
|
|