Durante
a Guerra da Independência dos Estados Unidos, um homem
chamado Wildman, de Efrata, Estado da Pensilvânia,
adquiriu má reputação por ter agredido
verbalmente o Pastor Peter Miller, da igreja de Dunker, na
mesma cidade. Wildman alistou-se no exército. Enquanto
ainda estava prestando serviço, descobriu-se que ele
era um espião. Foi julgado, condenado e sentenciado
à forca.
Miller ficou sabendo da sentença. Seu coração
foi tocado. Caminhou 95 quilômetros até Filadélfia
para interceder em favor de Wildman. Quando apresentou sua
súplica perante o general George Washington, este respondeu:
- Lamento, mas não posso atender o pedido para poupar
a vida de seu amigo.
- Mas, senhor, ele não é meu amigo - explicou
Miller. - É meu pior inimigo.
- Quer dizer que o senhor caminhou 95 quilômetros para
suplicar pela vida de seu inimigo? Isso coloca a questão
sob um ângulo totalmente diferente. Vou deferir seu pedido.
Washington assinou o documento de perdão e entregou-o
a Miller, que caminhou mais 25 quilômetros até onde
Wildman se encontrava aguardando a execução.
Quando Wildman viu que Miller se aproximava, comentou sarcasticamente
com seus companheiros de sentença:
- Lá vem chegando o velho Peter. Veio para assistir
ao meu enforcamento.
Nem bem Wildman havia acabado de dizer isso, quando Miller
se enfiou pela multidão e entregou ao homem condenado
o documento que o perdoava.
O que o Perdão Pode Fazer
Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem. S. Luc. 23:34.
Wilfred
T. Grenfell, famoso médico missionário, nasceu
em 1865. Em 1892, ainda na faixa dos vinte anos, ele dedicou
sua vida ao povo da costa oriental do Canadá, onde
serviu ao seu Senhor até cinco anos antes de sua morte,
em 1940. Certa vez, quando lhe perguntaram o que o havia
influenciado para que dedicasse a vida ao trabalho cristão
humanitário naquela fria e agreste região do
Labrador, aqui está a razão que ele deu:
Certa noite, uma senhora foi levada para a sala de emergência
do hospital onde ele trabalhava. Era evidente que não
havia esperança de vida para ela. Segundo o depoimento
de testemunhas, o marido dela havia chegado bêbado em
casa e, num ímpeto de ira, jogara contra ela um lampião
aceso de querosene. Os vizinhos chamaram a polícia.
O marido, que começava a ficar sóbrio, e um oficial
foram até o leito onde ela se encontrava. O oficial
curvou-se e perguntou àquela senhora exatamente o que
havia ocorrido. A princípio ela recusou-se a dizer qualquer
coisa, mas ele insistiu. Por fim, ela simplesmente disse: "Senhor,
foi apenas um acidente."
E morreu pouco depois.
Grenfell disse que se o amor podia perdoar uma agressão
daquela magnitude, ele queria seguir o exemplo de Jesus e dedicar
a vida ao ministério em favor dos outros. Será que
o perdão daquela senhora exerceu um efeito semelhante
sobre o marido? Não sei, mas vamos esperar que sim.
Perdoar aqueles que nos ofenderam, aqueles que sob um ponto
de vista humano não merecem perdão, pode exercer
um poderoso efeito para o bem. Quando Jesus perdoou aqueles
que O crucificavam, causou uma impressão profunda em
muitos dos responsáveis por Sua morte. Atos 6:7 diz
que, subseqüentemente, "muitíssimos sacerdotes
obedeciam à fé".
Algo semelhante pode ter acontecido quando Estêvão
perdoou aqueles que o apedrejaram até à morte
(ver Atos 7:58-60). Não é improvável que
a conversão de Saulo tenha brotado daquela experiência.
Quando você e eu fazemos como Jesus fez, e perdoamos
espontaneamente aqueles que nos magoaram, o efeito sobre eles
também pode ser o mesmo - mas não conte com isso.
Afinal de contas, nosso objetivo na vida como cristãos é seguir
o exemplo de Cristo, e não fazer com que os outros se
sintam mal por ter-nos prejudicado.
O que o Perdão Pode Fazer por Você
Bem-aventurado aquele cuja iniqüidade é perdoada,
cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem
o Senhor não atribui iniqüidade, e em cujo espírito
não há dolo. Sal. 32:1 e 2.
Dois
dias antes do Natal, Frank e Elizabeth Morris receberam um
telefonema dizendo-lhes que seu filho único, Ted,
de 18 anos de idade, havia sido ferido num grave acidente.
A pessoa os instruía a procurar com urgência
um grande hospital em Nashville, Estado do Tennessee. Quando
chegaram ao hospital, um neurocirurgião lhes deu a
triste notícia: Ted estava morto.
No dia seguinte, na delegacia, o casal Morris ficou sabendo
que o outro motorista, Tommy Pigage, havia sofrido apenas ferimentos
leves. Por ocasião do acidente, o seu nível de álcool
no sangue estava três vezes acima do limite legal. Ele
foi acusado como assassino, mas depois de confessar-se culpado
a acusação foi reduzida para homicídio
culposo. Meses mais tarde, foi sentenciado a apenas cinco anos
de sursis com a estipulação de que, se violasse
a sentença, teria de cumprir uma pena de dez anos na
prisão. Dizer que o casal Morris (especialmente Elizabeth)
ficou revoltado com uma sentença tão branda, é dizer
pouco.
Mais tarde, numa reunião de mães para protestar
contra o ato de dirigir sob a influência do álcool,
Elizabeth ouviu Tommy contar que, ao saber da morte de Ted,
ele não conseguira parar de chorar. Alguns dias mais
tarde, entretanto, ele foi apanhado bebendo e levado para cumprir
sua pena de dez anos.
Apesar das emoções contraditórias, Elizabeth,
uma cristã, começou a visitar Tommy na cadeia.
Um dia, enquanto conversavam, ele implorou perdão.
- Eu lhe perdôo - respondeu Elizabeth, acrescentando:
- e gostaria que você me perdoasse por eu tê-lo
odiado.
- Ah, Sra. Morris, é claro - disse ele com emoção.
Numa visita posterior, Tommy contou a Elizabeth que queria
muito parar de beber, mas não conseguia. Ela lhe garantiu
que ele poderia, com a ajuda de Deus. E ele conseguiu!
No dia 12 de janeiro de 1985, Tommy foi batizado. Mais tarde,
ficou em liberdade condicional. O casal Morris começou
a levá-lo para seu lar e a tratá-lo como filho.
Escrevendo para a edição de janeiro de 1986 da
revista Guidepost, Elizabeth disse que, depois disso, começou
a sentir a paz que só Deus pode dar. E Tommy? Ele é uma
pessoa diferente!
É isso que pode acontecer quando perdoamos - e somos perdoados.
Perdão Revogado
O rei chamou à sua presença o homem que ele havia
perdoado, e disse:
"Seu malvado miserável! Eu lhe perdoei aquela dívida
enorme, só porque você me pediu - você não
devia ter pena dos outros, do mesmo modo como eu tive de você?" Então
o rei, irado, mandou o homem ser duramente castigado, até pagar
o último centavo que devia. Assim meu Pai celeste fará,
se vocês se recusarem a perdoar verdadeiramente os seus
irmãos. S. Mat. 18:32-35 (A Bíblia Viva).
Alguns
anos atrás, um homem do Estado de Kentucky, EUA, chamado
Lucien Young, soube que um velho amigo dele, Samuel Holmes,
se encontrava numa penitenciária e ainda tinha mais
oito anos de pena por cumprir. Dirigindo-se à prisão,
Lucien perguntou ao carcereiro se poderia conversar com seu
velho amigo. Recebeu permissão. Por quase duas horas
os dois conversaram e riram, recordando algumas de suas travessuras
da juventude.
Posteriormente Lucien, que era bom amigo do governador Blackburn,
foi
à mansão do Executivo e pediu que o governador
perdoasse o seu amigo. O governador pediu o prazo de uma semana
para pensar no assunto. Quando a semana terminou, Lucien retornou
ao escritório do governador.
- Aqui está o perdão - disse o governador, estendendo
o documento a Lucien. - Mas antes de entregá-lo a Samuel,
quero que você converse mais algumas horas com ele. Se
ao final da conversa você achar que ele deve mesmo ser
perdoado, eu lhe concederei a liberdade condicional, desde
que você se responsabilize.
- Entendido - disse Lucien.
Lucien correu à prisão e mais uma vez obteve
licença para conversar com seu amigo. Durante o transcorrer
da visita, Lucien perguntou casualmente:
- Sam, quando você sair daqui, eu gostaria que se tornasse
meu sócio. Concorda? Posso até ver se consigo
tirá-lo daqui antes do término de sua pena.
Sam ficou em pé e caminhou um pouco de um lado para
outro. Quando voltou a falar com Lucien, disse:
- Está bem. Mas antes de qualquer outra coisa, terei
de resolver um negócio.
- Que negócio, Sam?
- Primeiro, vou matar o juiz e depois a testemunha que me mandou
para cá.
Lucien saiu da prisão e devolveu ao governador o documento
do perdão. Você o censuraria?
Se nós não perdoamos aos outros, seria de admirar
que Deus revogasse o perdão que nos concede? (Ver Eze.
18:24 e 25.)
Restituição
Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos
pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado
alguém, restituo quatro vezes mais. S. Luc. 19:8.
O
perdão envolve o princípio da restituição,
sempre que existir a possibilidade de conserto. Há alguns
erros pelos quais se pode fazer restituição
completa; há outros pelos quais se pode fazer uma
restituição parcial; mas outros ainda existem
pelos quais nunca se pode fazer uma reparação.
Estes podem ser muito complexos.
Num caso que conheço, um membro da igreja defraudou
seu irmão numa transação comercial. A
parte prejudicada queixou-se ao pastor. O pastor convocou ambos
para um encontro e ouviu os dois relatos. Ficou claro, sem
sombra de dúvida, que um irmão havia defraudado
o outro. A solução correta teria sido que o acusado
fizesse a restituição o mais rápido possível.
Nesse caso, entretanto, o pastor disse à parte ofensora: "Vá,
e não peque mais." Você pode ter certeza de que
a parte prejudicada não gostou nem um pouquinho da solução.
No caso de uma pessoa que tenha tirado a vida de um indivíduo
sem parentes vivos, é obviamente impossível fazer
qualquer tipo de reparação. Mas veja o caso de
um homem que comete adultério com uma mulher casada
e depois nasce uma criança. Como é que o adúltero
faz restituição a sua esposa? Ao marido traído?
A seus próprios filhos? À criança que
nasceu dessa união adúltera? Casos como esse
são de difícil solução.
Qual é o remédio? Deve a pessoa ficar pelo resto
da vida sentindo culpa por não poder nunca fazer a expiação
de seu erro? Ou é suficiente que diga: "O Senhor me
perdoou, e isso é tudo o que interessa; não tenho
mais o que fazer"? Ou deve a pessoa, depois de pedir o perdão
de Deus e o de todas as partes envolvidas, colocar a questão
nas mãos dEle, disposta a fazer o que o Senhor orientar,
no momento em que Ele o fizer? Acho que a resposta é obvia.
E esse princípio aplica-se a todos os casos nos quais
a pessoa deseja fazer restituição.
Um
Santuário
Assim diz o Senhor Deus: Ainda que os lancei para longe entre
as nações, e ainda que os espalhei pelas terras,
todavia lhes servirei de santuário, por um pouco de
tempo, nas terras para onde foram. Eze. 11:16.
Santuário
é um lugar onde Deus habita. Quando Ele deu a Moisés
instruções para a construção do
tabernáculo, disse: "E Me farão um santuário,
para que Eu possa habitar no meio deles." Êxo. 25:8.
Mais tarde, no tempo de Salomão, uma estrutura muito
maior, construída com pedras, substituiu a habitação
de Jeová que se assemelhava a uma tenda.
Como sacerdote (Eze. 1:3), Ezequiel deve ter conhecido bem
o "primeiro templo" e seus serviços, bem como o fato
de que no Santíssimo habitava a glória do Shekinah
- a manifestação visível da presença
de Deus. Devido
à apostasia e rebelião, entretanto, o povo judeu
havia sido levado em cativeiro; o "primeiro templo" jazia em
ruínas e - Icabode! - fora-se a glória.
Agora, vivendo em terra estrangeira, muitos desses cativos
tinham começado a refletir sobre o modo vergonhoso como
haviam tratado a Deus. Teria Ele resolvido abandoná-los
para sempre? Ainda haveria esperança? Foi nessa conjuntura
que o Deus da misericórdia, por meio de Ezequiel, garantiu
a Seu errante povo que não os havia abandonado por completo.
Na expressão usada em nosso texto, Ele afirma ao povo
que na distante terra de seu cativeiro Ele mesmo lhes seria "um
santuário". Que consolo deve ter isso representado para
Ezequiel e seus companheiros de exílio!
Uns 56 anos mais tarde, o povo escolhido foi restituído à Terra
Prometida, e finalmente o templo e seu santuário foram
reconstruídos. Uma vez mais, entretanto, o povo judeu
retrocedeu para a apostasia e chegou ao ponto de rejeitar o
próprio Messias. Como resultado, a sua "casa" ficou "deserta".
S. Mat. 23:38.
Não existe mais sobre a Terra um santuário especial
onde a presença de Deus se manifeste visivelmente. Deus,
entretanto, não abandonou Seu povo. Ainda hoje Ele pode
ser um santuário para você e para mim. Não
importa que moremos num palácio, numa casa humilde,
numa cela de prisão ou mesmo que não tenhamos
um teto; Deus promete estar conosco "todos os dias até à consumação
do século".
S. Mat. 28:20. Quão gratos devemos
ser a Deus porque Ele ainda pode ser um "santuário" para
nós!
Uma Segunda Oportunidade
Naquele dia o Senhor tornará a estender a mão
para resgatar o restante do Seu povo, que for deixado. Isa.
11:11.
Na batalha de Bunker Hill, travada no dia 17 de junho de 1775,
as forças sob o comando do Coronel William Prescott
revelaram notável bravura diante dos soldados britânicos.
Assim, quando Prescott ordenou que seus homens continuassem
lutando até que pudessem "ver o branco dos seus olhos",
muitos foram obedientes até à morte. Mas nem
todos os americanos tiveram tanta coragem naquele dia. Depois
da batalha, o Capitão John Callender, da milícia
de Massachusetts, foi acusado de "covardia diante do inimigo".
Depois que George Washington assumiu o comando do Exército
Continental em Cambridge, Estado de Massachusetts, no dia 3
de julho de 1775, um de seus primeiros atos foi enviar o Capitão
Callender à corte marcial. No final daquela desagradável
circunstância, Callender foi expulso do exército,
passando pela maior vergonha.
Mas não foi esse o fim da história. Callender
alistou-se novamente como pracinha e, um ano mais tarde, durante
a perigosa retirada de Washington após a batalha de
Long Island, demonstrou uma coragem tal que o general revogou
publicamente a sentença e restituiu-lhe a posição
de oficial em seu exército.