O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel. Prov. 12:10.
Quando
eu tinha 9 anos de idade, nossa família morava na
Ilha da Madeira. As ruas de Funchal, a capital, eram pavimentadas
com paralelepípedos (ainda o são), e grande
parte do transporte nas ilhas era feito em trenós
arrastados sobre aquelas pedras. Os trenós tinham
longos patins de aço e eram puxados por cavalos ou
mulas. Os condutores desses trenós reduziam a fricção
sobre os patins, engraxando-os periodicamente com sebo bovino
envolto em sacos de aniagem.
Um dia, enquanto eu caminhava pelas ruas da cidade, vi uma
multidão que observava um homem com uma parelha de cavalos
e um daqueles trenós, tentando mover um grande barracão
colocado na calçada de cimento. Também parei
para olhar. O condutor havia amarrado longas e grossas cordas
dos cabrestos para o trenó, e batia sem piedade nos
cavalos. Meu coração se condoeu das pobres criaturas.
Por mais força que fizessem, não conseguiam mexer
a carga.
Enquanto o condutor pensava no que faria a seguir, as cordas
se afrouxaram momentaneamente. O condutor virou-se e começou
a juntar as cordas, aparentemente para açoitar um dos
cavalos, o qual ele julgava estar-se negando a trabalhar. Seu
movimento assustou os cavalos. Eles deram uma guinada, esticando
as cordas. Com a rapidez de um relâmpago, o homem foi
jogado para o ar. A imagem daquele homem descendo com a cabeça
para baixo está indelevelmente gravada em minha memória.
Caiu de cabeça e se machucou muito. Eu estremeci, mas
em minha mente infantil fiquei feliz porque o homem havia provado
um pouquinho de seu próprio "remédio".
Um cristão nunca deve regozijar-se com o infortúnio
alheio, mesmo que este seja o resultado dos erros da própria
pessoa (ver Prov. 24:17). Afinal de contas, a vingança
pertence a Deus. Mas por outro lado, maltratar os animais está errado
e Deus vai pedir contas a quem comete essa maldade. Se um pardal
não cai ao chão sem que nosso Pai celestial o
observe (S. Mat. 10:29), com certeza Ele está acompanhando
a maneira como tratamos as Suas outras criaturas.
Se isso é verdade, não deveríamos tratar
bondosamente os nossos semelhantes, que valem mais "do que
muitos pardais"? (Ver S. Luc. 12:7.)