O VINHO NA BÍBLIA
"A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." Provérbios 4:18.
Exemplos da Tolerância de Deus
É
um conceito bíblico, expresso de forma clássica
no texto acima, que a luz é progressiva, a santificação
é obra de uma vida e o conhecimento aumenta a cada dia
para o povo de Deus.
Muitas verdades, que no passado eram conhecidas apenas parcialmente
ou até virtualmente desconhecidas, foram crescendo e
se tornando mais compreendidas pelos servos de Deus.
Veja-se por exemplo que, da mesma forma que Deus tolerou o uso
de bebidas fermentadas, suportou também a escravatura
como um mal contingente, passageiro, mas é evidente na
Escritura que o escravismo não era e nem é parte
do plano ideal de Deus, que quer que todos os homens sejam irmãos
e não busquem ser servidos mas servir. Embora tolerando,
Deus deu leis para regulamentar a prática até
que o ideal fosse atingido. (Êx. 21:16, 20; Ef.
6:9; Col. 4:1)
Outros exemplos de práticas que Deus tolerou são
o divórcio e a poligamia, que, conforme é declarado
na Bíblia, não faziam parte do plano ideal divino.
Por isso, Ele deu leis que regulamentavam e restringiam essas
práticas tão em voga e até legalizadas
nos dias bíblicos entre as nações pagãs.
O Seu povo teria que aprender, depois de quatro séculos
de escravidão e em estado semi-bárbaro, os rudimentos
do “evangelho” até atingirem o ideal de Deus. (Ex.
20:7-11; Deut. 21:10-17; Mal. 2:12-16)
O próprio Jesus refere-se ao divórcio como tolerado
em razão da “dureza dos corações” dos israelitas,
mas, disse o Salvador, no princípio não foi assim. Mat. 19:4-8.
Males das Bebidas Fermentadas
Deus também tolerou as bebidas fermentadas. É
evidente pelas experiências com viciados que, segundo
especialistas na área de recuperação de
alcoólatras, a maneira mais segura de evitar o vício
é “não tomar o primeiro gole”.
Deus jamais sancionaria um hábito que, mesmo em seu moderado
uso social é responsável pelas mais dramáticas
e terríveis estatísticas no que se refere à
degeneração da mente, corpo e espírito
dos homens.
Professos seguidores da palavra de Deus jamais admitiriam envolver-se
com a guerra, pelos seus horrores e mortandade, e no entanto,
apóiam o “uso moderado” de bebidas alcoólicas
sem considerar que as mortes por imprudência nas estradas
e no trabalho, montam um número anual maior do que o
de muitas guerras. Sem falar em deficientes mentais filhos de
ex-bebedores sociais e agora alcoólatras, lares esfacelados,
invalidez, desemprego, aos centenas e milhares além de
outros males. E tudo isso causado na maioria dos casos por pessoas
que bebiam socialmente, somente nos “fins de semana” e possivelmente
consideravam-se “moderadas”.
Considerado doença pela OMS (Organização
Mundial de Saúde), o alcoolismo ainda está em
expansão porque muitos, até mesmo religiosos,
sancionam doutrinariamente o seu uso. Brincar com um copo desse
vírus é perigoso. É brincar com veneno!
Portanto, devemos ter em mente que o uso de qualquer marca ou
quantidade de bebida alcoólica é um perigo de
crime contra si próprio e contra o seu próximo,
e ainda ficar aquém do ideal da Escritura neste particular
como veremos.
A Bebida Alcoólica no Antigo Testamento
Outro ponto importante que esclarece a questão do uso
de vinho alcoólico e outras bebidas fermentadas naturalmente,
bem como a tolerância de Deus quanto a essa prática,
diz respeito aos hábitos e recursos alimentares dos tempos
bíblicos. É claro que não dispondo das
modernas técnicas de engarrafamento de sucos, sem geladeiras,
sem conservantes como temos hoje e sem embalagens apropriadas,
toda uma produção de sucos e sumos estavam sujeitas
ao processo natural de fermentação.
Os odres (recipientes de couro costurado), vasos de barro, madeira
ou metal não impediam a ação das bactérias,
tendo os antigos que conviver com as condições
que dispunham nesta parte. Bebiam, pois, vinho sem fermentar
quando ainda novo, recém espremido das uvas, chamado
no Antigo Testamento de TIROSH ou vinho novo, esta palavra aparece
38 vezes no AT. A bebida consumida tempos depois e já
fermentada naturalmente, ou que foi fabricada em processo de
fermentação era denominada normalmente de SHEKAR
(usada 23 vezes no AT). Para bebidas em geral, fermentadas ou
não, era usado o termo YAIM indistintamente, e que aparece
140 vezes no AT.
Portanto, a própria necessidade alimentar de uma bebida
nutritiva e a carência de técnicas e recursos de
conservação modernos, obrigava-os a terem na fermentação
natural da bebida uma necessidade e mal necessário, uma
vez que o grau alcoólico nestas bebidas, trazia embutido
o problema do vício do alcoolismo, embriaguês e
suas conseqüências morais, físicas e espirituais.
Por isso o ideal era não usá-las a exemplo dos
recabitas, povo abstêmio que vivia entre os israelitas,
e cuja virtude e lealdade foi ressaltada pelo próprio
Deus. Jer. 35:2-5.
Por outro lado, a fermentação era um bem, pois
tinha para as bebidas a função de provavelmente
o único e universal processo de conservação
para os sucos sem a deterioração total como é
o caso de muitos xaropes vendidos hoje em dia. Era, pois, um
mal necessário, mas um mal. Justifica-se, desse modo,
o ideal de Deus na declaração do sábio
em Provérbios 23:31 a 35: “ Não
olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece
no copo e se escoa suavemente...” Não se deve nem mesmo
desejá-lo, olhando-o – NÃO OLHES! Porque “no seu
fim morderá como a cobra e como o basilisco picará.”
E, continua o sábio: “Olharás mulheres estranhas”
e, “teu coração falará perversidades”.
“Dirás: espancaram-me, bateram-me mas quando acordar
beberei outra vez.”
Que desfecho terrível para um simples olhar e certamente
o primeiro gole! São esses os passos para o vício:
olhar, experimentar e a despeito das conseqüências,
beber outra vez!
Não estamos sujeitos aos hábitos mantidos pela
“dureza de corações” e atraso em que viviam os
homens do passado. Não estamos obrigados a sofrer a limitação
dos recursos de técnicas de conservação
como eles; não precisamos nem devemos correr o perigo
de consumir tais bebidas, mesmo porque, atualmente, em sua grande
maioria, passam por processos industriais de fermentação
e destilaria, o que aumenta artificialmente, e em muito, o teor
alcoólico da bebida.
Concluímos até aqui que, se as bebidas naturalmente
fermentadas eram, na antiguidade, a única forma de se
estocar sucos, sendo uma necessidade daqueles tempos, apesar
de suas conseqüências prejudiciais à saúde,
constitui-se, para nós hoje, um uso desnecessário,
contrário ã luz que temos, temerário e
perigoso, mais ainda considerando-se a destilação
que aumenta o seu grau alcoólico.
Certamente tal costume não concorda com o testemunho
cristão e contraria o princípio bíblico,
submetido ao qual todos os usos e práticas da igreja
devem estar em harmonia sob pena de contradição: I Cor. 3:16, 17. Somos o templo de Deus e nada que
o contamine, prejudique ou o ponha em risco deve ser usado.
Referências Bíblicas Contrárias às
Bebidas Fermentadas
Veremos, agora, mais alguns textos que corroboram a recomendação de não usar bebidas fermentadas:
1. O vinho e a bebida forte fazem errar e desencaminhar até
o sacerdote e o profeta. Isa. 28:7, 8.
2. Há uma maldição para
os que seguem a bebedice. Isa 5:11, e outra
maldição para os que dão bebida ao seu
próximo. Hab. 2:15.
3. As bebidas alcoólicas são
escarnecedoras e alvoroçadoras. Prov. 20:1.
4. O ideal é nem olhar para o vinho,
pois é traiçoeiro, quanto mais usá-lo! Prov. 23:31, 32.
5. O beberrão cai em pobreza. Prov.
23:20, 21.
6. Não vos embriagueis com vinho, mas
enchei-vos do Espírito. Ef. 5:18. A
bebida alcoólica é incompatível com o Espírito
Santo, conforme deixa claro a conjunção adversativa
“mas”.
7. O bispo não deve ser dado ao vinho
. I Tim 3:3; Tito 1:7. Mas o bom mesmo é
não beber vinho devido ao escândalo que pode provocar
em outros. Rom 14:21. A bebida está
relacionada com as obras da carne. Gál. 5:21.
8. Normalmente, os que hoje são bêbados
não começaram com a intenção de
sê-lo. Cuidado! Os bêbados não entrarão
no reino de Deus. I Cor. 6:10.
9. A bebida era incompatível com o serviço
a Deus pois os encarregados de atividades no Santuário
não podiam beber. Lev. 10:9.
10. Mesmo no conceito liberal da mãe
do rei Lemuel (Prov 31:6) os que ministravam
a justiça e os nobres não deviam beber. Prov.
31:4, 5.
11. Em Provérbios 31:6 acha-se a opinião da mãe do rei Lemuel e não
uma posição divina sobre o assunto. Os amigos
de Jó, embora piedosos, também deram opiniões
religiosas equivocadas pelo que foram posteriormente repreendidos
por Deus (Jó 42:7-9)
12. Miquéias adverte que um povo mau
teria profetas falsos e mentirosos que defenderiam o vinho e
a bebida forte. Miq. 2:11.
13. O vinho e o mosto tiram a inteligência. Osé. 4:11.
14. Pessoas dadas ao vinho são desleais,
soberbas e não se contém. Hab. 2:5.
15. Aqueles que desejam fazer a vontade de
Deus devem abster-se do uso, mesmo moderado, de bebidas alcoólicas,
considerando as seguintes razões: a luz que temos, o
ideal de Deus e os males e perigos desse hábito. A total
abstinência é a posição a ser assumida
por aqueles que estão preparando o caminho para a volta
do Senhor como fez João Batista. (Luc. 1:15)
16. Entende-se, pois, que Jesus, nas bodas
de Caná, transformou a água em vinho novo, sem
fermentar (TIROSH no AT), o puro suco de uva, o vinho de melhor
qualidade..
17. Em função dos argumentos
acima apresentados a passagem de Deut. 14:26 é mais uma cena do hábito tolerado por Deus apesar
das conseqüências e por causa das contingências.
18. Em I Tim 3:8 é
recomendada a moderação em reconhecimento ao perigo
que a bebida oferecia, em vista da resistência que a proibição
sumária poderia provocar. Esta opinião do apóstolo
foi moldada para restringir um hábito, conforme o texto
deixa claro e não para sancioná-lo.
19. Em I Tim 5:23 o vinho
é recomendado para uso medicinal, conforme crença
do apóstolo, usado pouco com água e não
puro como bebida de prazer. Este texto não serve para
defender o uso ou o vício da bebida.
Conclusão
Buscar, neste caso, exemplos bíblico para justificar o consumo da bebida equivale a apoiar também o divórcio fácil, poligamia e escravidão que foram, igualmente, alvo da tolerância de Deus. Coloca-se também a Bíblia, injustamente, como co-responsável pelas tragédias decorrentes da indulgência com as bebidas fermentadas. Os costumes e práticas dos antigos, alvo da tolerância de Deus, não refletem necessariamente a vontade divina.
O verdadeiro cristão jamais defenderá tal hábito.
Pr.
Demóstenes Neves da Silva
Igreja de Brotas, abril, 1988.