NÃO É FÁCIL SER PAI... TAMPOUCO ADOLESCENTE!
Bárbara Jurgensen
“Às vezes teus pais não te compreendem ou não querem colocar-se em seu lugar. Você tentou colocar-se no lugar deles?”
PAIS! UFA!!
Os pais se comportam, às vezes, de formas muito estranhas.
Quando você é pequeno, sempre andavam atrás
de você dizendo para lavar as mãos e se pentear.
Agora, se vêem você diante do espelho, riem e falam
que é um convencido. Não há quem os entenda!
Em determinado momento estão furiosos porque dizem que
é demasiado independente; no minuto seguinte se queixam
alegando que sempre está “grudado” a eles e que não
é suficientemente independente.
Te ridicularizam diante de teus amigos, não respeitam
sua vida privada; enfim, somente parecem desfrutar amargurando
a sua existência e fazendo-lhe a vida muito mais difícil
do que já é.
E, é a isto que se chama de “ser pais”?
Não se dão conta de que os adolescentes também
tem seus próprios sentimentos?
Sim, é claro que se dão conta. Mas estão
rodeados de tantos problemas, e preocupados por tantas dificuldades,
que a grande realidade de que você é um ser humano,
com direito a pensar, a sentir e a viver por você mesmo,
às vezes parece ficar relegado a um segundo plano.
O certo é que quando os filhos se convertem em adolescentes,
os pais enfrentam uma situação completamente nova,
que a maioria das vezes é surpreendente e inesperada:
seus filhos queridos, bons e obedientes, se convertem em um
momento para outro em adolescentes voluntariosos e difíceis
de governar.
Da noite para o dia se vêem com toda sorte de novas situações:
seus filhos saem com garotas (ou vice-versa), assistem a excursões
de vários dias, praticam esportes perigosos, começam
a trabalhar...
É verdade que também eles passaram por tudo isto,
mas com uma diferença: não como pais, senão
como adolescentes. Naquela ocasião os pais eram outros,
que lutavam e reprimiam, e era eles quem tocava exigir. Mas
agora, tem passado a ocupar o lugar de pais, e se sentem responsáveis
por você, e na obrigação de ajudá-lo
em toda classe de dificuldades e problemas, a maioria dos quais
são totalmente novos para você. Deve compreender
que para eles, somente o fato de viver com você, com seus
costumes, sua música e sua forma de se vestir, já
lhes é difícil, quando não frustrante.
Não tem que ficar espantado, pois se algumas vezes se
mostrarem inquietos e preocupados.
Possivelmente passaram a ocupar sua posição de
pais sem estarem tão bem preparados como deveriam. Muitos
pais arrastam consigo um lastro de problemas de sua própria
infância e juventude; problemas que às vezes se
remontam a várias gerações atrás,
dentro da tradição da família. Têm
todo tipo de temores. Estão inseguros de suas próprias
idéias e valores, e possivelmente ainda não tem
realizado um projeto de vida que os satisfaça totalmente.
Por outra parte, seu crescimento e desenvolvimento tem criado
neles um sentimento mais vivo de dor que produz na vida a perda
dessas coisas que se querem.
Para alguns pais, ao dar-se conta de que seus filhos estão
crescendo também os faz perceberem de que estão
envelhecendo, de que a vida passa com rapidez; tem que enfrentar
a triste realidade de que os anos passam velozmente e ainda
não tem alcançado os objetivos que se haviam proposto
na vida, e que possivelmente já não poderão
alcançar.
Esse sentimento de frustração pode conduzir os
pais a uma ambição muito comum: tratar de conseguir
por seu intermédio tudo o que para eles foram sonhos
impossíveis. E isto pode chegar a ser uma verdadeira
fonte de problemas.
Outra das razões que motiva muitas vezes a intranqüilidade
e o desassossego de seus pais são os comentários
da imprensa sensacionalista. Em revistas e periódicos
lêem continuamente artigos nos quais se afirma que os
pais são responsáveis de todos os problemas da
juventude; que os pais são os culpados da degeneração
social; que para ser bons pais tem a obrigação
de lutar até o fim. E isto os assusta. Nos dias de seus
avós, se João era um mal filho, e se comportava
como tal, a culpa era do próprio João, de ninguém
mais. Em nossos dias, os seus pais são acusados por não
haverem sabido tratá-lo, educá-lo e encaminhá-lo
corretamente.
Assim pois, deve enfrentar a realidade: ainda que seja um filho
modelo, um adolescente perfeito, seus pais continuarão
vendo problemas em você, enfrentando-o quase todo o tempo.
Não importa o que terá de fazer para agradá-los,
não importa o muito que se esforce em tratar de ser um
paradigma de adolescente, seus pais seguirão pensando
que seus anos de adolescência são os mais difíceis
que eles tem tido que enfrentar.
ADOLESCENTES! AI!
Assim vê você a seus pais. Agora vejamos como eles
vêem você. Os anos da adolescência não
são fáceis. Pode ser que ultimamente tenha crescido
tanto que você já quase não se reconhece.
Ou quiçá, seja ao revés, e seu crescimento
é tão lento comparado com o de seus amigos, que
te faz sentir um pouco criança quando está com
eles. Possivelmente, o desenvolvimento físico tenha feito
você engordar muito e tenhas pernas e braços gordos.
Às vezes você se pergunta como te vêem os
demais, e se preocupa pensando se realmente chegará a
ser o tipo de homem ou mulher que gostaria.
Pouco a pouco, irá se sentindo mais filosófico
e pensador. Terá dado conta do que significa ser um mesmo,
separado do grupo que formam os demais. Ultimamente tem começado
a perguntar-se quem você é, que é a vida
e para que está nela.
E o mal é que enfrenta estes problemas em um mundo que
a maior parte das vezes se lhe apresenta pouco amistoso, bastante
hostil. Certamente a adolescência pode chegar a ser uma
época de verdadeira angústia. E a medida que a
maturidade se aproxima, a angústia aumenta. Te preocupa
a possibilidade de tomar decisões equivocadas - a carreira,
o matrimônio, o trabalho, etc. Duvida de sua capacidade
para enfrentar todas as responsabilidades de um adulto maduro
e responsável.
Por isto quer que te compreendam, que reconheçam seu
valor, que se dêem conta de que é uma pessoa capaz
de assumir responsabilidades. Mas os que te rodeiam não
parecem muito dispostos a ajudá-lo.
Se tem treze anos, teus pais queixam-se de que é muito
sensível, de que não se pode dizer-lhe nenhuma
palavra sem que você se inflame como pólvora. Por
outra parte, alegam que é pouco comunicativo, que não
lhes conta nada e que sempre responde com monossílabos
às suas perguntas. Possivelmente, você também
se dá conta de que não é como os demais,
todo amável e simpático como deveria ser, mas
tem tantas coisas em que pensar que não lhe sobra tempo
para suportar as “tontices” da família.
Se tem catorze, possivelmente já terá resolvido
parte dos problemas que te preocupavam aos treze. Sua atitude
frente a seus pais é mais serena, e também eles
parecem compreendê-lo melhor; se esforçam em ajudá-lo
mais e te criticam menos.
Aos quinze anos o problema se agrava outra vez. Teus pais se
queixam de que quase não lhes dirige a palavra, de que
você guarda tudo, de que se comporta como um mal educado
e se veste de forma desalinhada. A verdade é que começas
a sentir-se bastante independente. É certo que tens muitas
coisas sobre as quais gostaria de dialogar, mas não com
seus pais! Você começou a descobrir uma montanha
de problemas da idade adulta que pouco a pouco estão
aparecendo, e ao mesmo tempo se dá conta de suas próprias
limitações para superá-los. Com a esperança
de compreender melhor a você mesmo e aos que te rodeiam
se tornou um pouco psicológico. Não desanimes;
a maioria dos problemas que agora enfrenta desaparecerão
no próximo ano.
Aos dezesseis as coisas mudam, você perceberá que
a vida não é tão difícil como pensava.
Terá aprendido a controlar melhor suas próprias
emoções, e vai se sentir mais sociável
e amistoso e tentará compreender o ponto de vista dos
demais. Sentirá mais confiança em si mesmo, e
isto fará ser possível opinar com melhor critérios
os outros.
Terá alcançado a primeira fase da maturidade,
e pode ser que isto faça que com que seus pais, ao perceberem
que já não é tão criança,
abram um pouco as mãos, o que motivará maior compreensão.
Quando lhe expor um problema, pode confiar em que o tratarão
como a um adulto. Pouco a pouco compreenderá que as restrições
e proibições que lhe haviam imposto, em certo
sentido eram necessárias, e você se sentirá
agradecido pela maior margem de liberdade que lhe concedem.
Ainda que seja difícil aceitar as proibições
que todavia te impõem, pouco a pouco dará conta
de que seus pais, no fundo, são bastante razoáveis,
e de que se pode dialogar com eles. Trate de aceitar a distância
que o separa deles. Não se arrependerá.
Talvez se sinta tentado a pensar que é demasiado difícil
ser adolescente. Tem razão. Mas lembre-se que não
é fácil ser pais de um adolescente.
COMO CONVIVER COM OS ADOLESCENTES
“Conviver com adolescentes pode resultar em uma experiência
estimulante e alegre, cheia de novas idéias e de esperanças.
Assim que... aprendamos a desfrutar desta experiência.”
Sobreviver nem sempre é fácil, sobretudo quando
se tem um adolescente em casa. Mas as famílias necessitam
mais que a mera convivência. Necessitam também
alegria, comunicação e amizade. E não há
razão alguma para que não tenham estas coisas.
1. DEIXE QUE SE LEVANTEM POR SI MESMOS.
Algumas
famílias começam cada dia com uma pequena guerra,
porque mamãe chama e ralha aos meninos, chama e ralha,
ralha e chama, e volta a repetir o processo uma e outra vez.
O adolescente resmunga metade dormindo, metade desperto: “É
muito cedo!”, “Chama-me novamente em cinco minutos”, ou simplesmente
finge que não escutou.
Como os adolescentes vivem lutando por sua independência,
porque não deixá-los que se independam desde cedo,
na manhã (ou que comecem desde a manhã de forma
independente)? Chamá-los apenas uma vez. Se voltarem
a dormir e como resultado disto, perderem alguma atividade importante,
logo aprenderá a lição. Deste modo, a família
evita uma quantidade de discussões e de frustrações.
2. QUE OS TOQUES DA QUEDA SEJAM FLEXÍVEIS.
Deve
existir certa flexibilidade nos horários fixados para
voltar para casa e para ir dormir, e esses horários devem
ser discutidos com calma pelos afetados. Se você insiste
inflexivelmente em que seus adolescentes estejam de volta em
casa a uma hora determinada, isso pode privar a seus filhos
de alguma atividade grupal inofensiva e agradável, e
de, se for esse o caso, ofendê-los desnecessariamente.
No que me diz respeito, não creio que um adolescente
que volta para casa às nove da noite tenha menos probabilidade
de “andar em algo” que um que regresse à sua casa mais
tarde. Me preocupa mais a natureza da saída, a companhia
e a disponibilidade de transporte.
3. ACEITE AS DIFERENÇAS QUE EXISTEM ENTRE SEUS FILHOS.
Os
filhos homens, não tem porque ser íntimos amigos
de seus irmãos ou vice-versa. Tampouco deve pretender-se
que sintam um particular agrado uns com respeito de outros.
Às vezes, seus interesses e personalidades são
demasiado diferentes como para que se possa esperar uma verdadeira
afinidade entre eles.
Sem dúvida, os irmãos deveriam aprender desde
sua mais tenra idade a tratar-se mutuamente com respeito; a
respeitar os sentimentos, as idéias, o tempo, e os pertences
de cada um. Mas a menos que seja absolutamente necessário,
penso que não é o melhor fazer que um membro da
família seja pesado com a responsabilidade de outro.
4. SEJA UM BOM OUVINTE.
A
maior parte do que tenho que escutar de meus filhos adolescentes,
o tenho escutado entre a meia-noite e as três da manhã.
Quando me sinto tranqüilamente para ler ou costurar, meus
filhos se sentem menos ameaçados e estão mais
predispostos a abrir seu coração. Eles não
querem conselhos (quem os quer?). O que querem é falar
a fim de clarear seus sentimentos e idéias.
Se eles estão indecisos frente a dois possíveis
cursos de ação, somente pergunte-lhes: “Se fizer
isto, o que pensa que será o resultado daqui a seis meses?
Quais são as vantagens e as desvantagens?”. Escutando-os,
você pode ajudá-los a ver os dois lados do problema.
E sempre, uma pergunta ou sugestão pode colocá-los
no caminho certo. Mas é inútil tentar falar com
os adolescentes a menos que eles também estejam dispostos
a fazê-lo.
5. NÃO SEJA DOGMÁTICO.
Não
perca o controle nas discussões. Não diga: “Isso
seria um grande erro. Não deve fazê-lo. Não
sabe o que está dizendo.”
É muito melhor dizer: “Porque pensa assim? Conhece algum
fato ou experiência que confirmem sua idéia? É
uma idéia interessante; creio que vale a pena considerá-la
mais a fundo.”
Muitas famílias tem o costume de despertar discussões
com assuntos hipotéticos. Conheci uma família
que costumava discutir acaloradamente acerca de se um homem
e uma mulher deviam ou não viver juntos sem estar casados.
Os adolescentes dessa família não tinham a menor
intenção de fazer isso, mas defendiam acaloradamente
o direito de seus amigos de decidirem por si mesmos.
Trate de desenvolver sua sensibilidade a tal ponto que ela lhe
permita saber quando colocar fim a uma discussão.
6. MANTENHA A CALMA.
Os
adultos deveriam ter maior domínio próprio e sabedoria
que os adolescentes. Use essas qualidades e lembre que os adolescentes
são emotivos, sumamente susceptíveis e facilmente
inflamáveis.
Os adultos deveriam ser mais compreensivos com os adolescentes,
posto que já temos experimentado os sentimentos e os
problemas que eles estão vivendo. Deveríamos recordar
as pressões e os sofrimentos de nossa própria
juventude: as repulsas ou indiferenças, as frustrações,
a timidez, e o acabrunhamento. Deveríamos demonstrar
aos adolescentes que os aceitamos e que os compreendemos.
7. ESQUEÇAMOS AS PEQUENAS COISAS.
Concentre-se nos assuntos de maior importância. Se você pode ser flexível no tamanho do cabelo, e na escolha da roupa, é mais provável que seus filhos estejam dispostos a responder às normas de comportamento que você espera que sigam em assuntos como o respeito pelos demais, as responsabilidades financeiras, escolares e trabalhos; o interesse pela família, pelos amigos e por seu bem-estar físico, mental e espiritual.
8. CONSERVE SEU SENSO DE HUMOR.
O humor, usado com sabedoria, pode diluir muito uma situação difícil. Um gracejo ou um comentário gracioso podem aliviar a tensão e fazer que todos se unam por meio do riso. Mas evite a ironia, o sarcasmo, a burla, posto que os adolescentes são em geral, reprimidos e muitos susceptíveis a tudo o que os possa ridicularizar.
9. NÃO SE OPONHA A CADA AMIGO/AMIGA ESPECIAL
COMO SE A RELAÇÃO FOSSE ACABAR
EM CASAMENTO.
Trate
de não interferir. Não podemos saber de antemão
qual relação se transformará em algo duradouro
e permanente; ou, no caso de que sejam duradouras e permanentes,
quais delas seguirão sendo felizes e estáveis.
Se seus filhos são felizes em casa e com seus amigos,
haverá menos possibilidades de que comecem relações
inadequadas, pois isto geralmente ocorre quando o adolescente
se sente só, miserável ou aborrecido.
10. DESFRUTE DE SEUS FILHOS ADOLESCENTES ENQUANTO PODE.
Concentre-se
no que pode compartilhar com seus adolescentes e não
nas diferenças que existem entre você e eles.
Você tem visto com alegria como cresciam até converter-se
em adolescentes, e quer seguir sendo amigo de seus filhos. Trate
então de gozar com eles, e de guardar essa alegria como
ela é, um tesouro.
Viver com adolescentes pode ser às vezes uma questão
de sobrevivência. Mas também pode ser uma experiência
estimulante e alegre, cheia de novas idéias e de esperanças.
Assim que... aprendamos a desfrutar desta experiência.