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O
DILEMA DO ABORTO
PR. ALEJANDRO BULLÓN
"Joana
procurou-me um dia angustiada pelo complexo de culpa. "Pastor...",
disse ela, "...Provoquei um aborto quando tinha dezesseis
anos, mas ninguém soube. Foi uma experiência dolorosa
e traumatizante em minha vida, mas era a única saída
que eu via naquele momento. O fato é que tudo isso aconteceu
há mais de trinta anos e até hoje carrego em meu
coração a incerteza do perdão. Minhas mãos
estão manchadas de sangue, pois tirei a vida de um nenenzinho
que eu carregava no ventre. Sinto que não existe perdão
para um pecado tão horrível como este. Responda-me
por favor, existe perdão para mim?"
O drama desta mulher, cujo o nome é fictício,
me levou a tratar o assunto do aborto nesta palestra.
Este tema é sem dúvida nenhuma, controvertido
e delicado. O mundo todo está dividido em dois grandes
grupos com relação a este assunto. Esta controvérsia
intensificou-se a partir de 1973 quando a corte suprema dos
Estados Unidos legalizou o aborto. Os dois grandes grupos são:
de um lado os que defendem a vida, e do outro, os que defendem
o direito que a mulher tem de decidir se deve ou não
ter a criança que gerou.
Pessoalmente acho que as implicações são
muito mais profundas, porque o aborto é muito mais do
que o fim de uma gravidez. Ele converteu-se, hoje, numa atitude
e até quase num estilo de vida. Na realidade, é
uma maneira de encarar qualquer problema que aparece pela frente.
Você tem problemas no emprego? Não se preocupe
muito, aborte seu emprego, demita-se. Seu casamento não
anda bem? Aborte seu casamento, divorcie-se. Encontra dificuldade
na vida cristã? Não insista, aborte seu relacionamento
com Deus e com a igreja, abandone tudo. Você vê?
O aborto na realidade, é uma tentativa de evitar a conseqüência
de nossas ações. A Bíblia é clara
quando afirma: "Não vos enganeis; de Deus não
se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também
ceifará. Porque o que semeia para a sua própria
carne, da carne colherá corrupção; mas
o que semeia para o Espírito, do Espírito colherá
vida eterna. (Gálatas 6:7,8)
A advertência aqui é clara. Não resta dúvida.
A Bíblia afirma que colheremos o que semeamos. Mas o
aborto tenta ignorar este fato fundamental da vida, parando
as batidas de um coração humano.
Analisemos, por exemplo, o caso de Jenifer, uma garota imaginária,
que amava as diversões e brincava de sexo. A ansiosa
busca por prazer levou-a a uma gravidez. Os pais e ela não
duvidaram um minuto em tomar a decisão que parecia ser
a mais simples: o aborto. Afinal de contas, por que a família
teria que sofrer todas as conseqüências que aquela
gravidez acarretava?
O aborto, embora tão traumático quanto possa ser,
parece à primeira vista, ser a solução
mais simples e o caminho mais fácil para resolver o problema.
Infelizmente, depois de abortar seu "problema", Jenifer
nunca aprendeu a lição. No verão seguinte,
ficou grávida de novo. E dois anos mais tarde outra vez.
Foram quatro abortos antes de completar 21 anos, acredite, se
quiser.
A pergunta é: Que teria acontecido se Jenifer não
tivesse escapado da realidade com aquele primeiro aborto? Nove
meses de gravidez, sem dúvida nenhuma, teriam sido difíceis,
mas aquela experiência poderia, talvez, ter lhe ensinado
uma das mais importantes lições da vida: que é
preciso encarar as conseqüências de nossas ações
e não fugir delas.
Mas existem tantos defensores do aborto hoje, que dá
a impressão de que os defensores da vida é que
estão errados. O problema é que a escala de valores
de nossa sociedade está ficando de cabeça para
baixo. Suponhamos que fosse um pequeno golfinho nadando dentro
da barriga de uma mãe grávida, você pode
estar certo que apareceriam imediatamente os manifestantes do
movimento "Salvem o golfinho" defendendo furiosamente
o direito de viver do bichinho. Mas acontece que esses mesmos
ativistas que fazem campanhas e passeatas para preservar a vida
de todos os golfinhos do oceano, são os que defendem
o direito que a mulher tem de interromper a vida de uma criança
que carrega no ventre.
Parece estranho, não parece? Essa é a religião
do humanismo secular. Mas o cristianismo avalia a vida como
um dom de Deus. Um dom tão sagrado que Jesus deu Sua
própria vida para preservar a vida do homem. Portanto,
quando pensamos no aborto, a pergunta que devemos fazer é:
o que fez aquela criança para merecer a morte?
Você talvez ache que uma criança que ainda não
nasceu, não está viva, porque não respira
sozinha. Mas a realidade é que o feto já é
um consumidor de oxigênio, como qualquer ser humano vivo.
É verdade que precisa da ajuda da mãe para processar
a respiração, mas muitos adultos, no momento de
uma cirurgia, também precisam de ajuda para respirar.
Sem os aparelhos, morreriam. Seria alguém capaz de deixar
morrer um adulto, durante a cirurgia, somente porque não
pode respirar por si só?
A criança, mesmo depois de ter nascido, e de começar
a respirar sozinha, ainda é dependente. Não pode
alimentar-se só, não pode sustentar-se financeiramente,
se quer pode virar-se sozinha no berço. É óbvio,
então, que o fato de ser dependente não tem nada
a ver com sua condição de pessoa humana.
A verdade é que uma criança, mesmo antes de nascer,
já tem todas as características definidas de um
ser humano no primeiro trimestre de vida fetal. Por volta dos
25 dias, praticamente antes que a mãe perceba que está
grávida, essa criança já está bombeando
sangue.
Hoje, a ciência chega à conclusão de que
o nenê pode reconhecer a voz da mãe que está
praticamente atada a essa vida que leva dentro do ventre. E
quando essa mãe quebra as leis não escritas do
instinto, abortando o nenê, imprime em sua própria
vida marcas que a perturbarão por muitos anos.
Os que apoiam a idéia de que a mãe tem o direito
de escolher se vai ter ou não a criança, vão
longe negando o fato de que a realidade é que não
se está tirando a vida de um ser humano. Eles preferem
pensar no aborto como a interrupção da gravidez.
Como seria se disséssemos que o motoqueiro do parque
interrompeu a vida de nove garotas ingênuas? Foi interrupção
ou foi assassinato?
A grande discusão das pessoas que defendem o aborto é
sobre o momento no qual exatamente começa a vida. É
obvio que a curta viagem através do canal do nascimento,
não torna um feto despersonalizado, num ser humano. A
posição mais natural e lógica, é
que a vida começa na concepção. Deste momento
em diante, até o estado adulto, há um processo
de crescimento constante.
Perguntemo-nos agora como cristãos, se antes de nascer,
os nenês não são seres humanos viventes,
onde estava Jesus durante a gravidez de Maria? Deixou de existir
durante nove meses? A Bíblia diz que a virgem Maria "tinha
concebido do Espírito Santo". Vê? O Deus eterno
tinha se tornado um nenê vivo e real dentro do ventre
de Maria.
Em vários lugares da Bíblia se menciona os nenês
que ainda não nasceram, como pessoas. Vemos isto quando
Isabel, a tia de Jesus saudou Maria: "Ouvindo esta a saudação
de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; então
Isabel ficou possuída do Espírito Santo".
(Lucas 1:41)
De acordo com a Bíblia, o que Isabel tinha no seu ventre
era um nenê. Não era uma massa de tecido fetal
em desenvolvimento, mas um nenê brincalhão.
Pois bem, à luz das evidências bíblicas
e biológicas, pode alguém negar a idéia
de que o aborto acaba com uma vida humana? E que direito tem
o ser humano para deter as batidas desses pequenos coraçãozinhos?
Para muitos ateus e agnósticos, um nenê que ainda
não nasceu não passa de tecido fetal que se mexe
no ventre, como símbolo do processo evolutivo. Na realidade,
eles dão aos nenês que ainda não nasceram
o valor moral de um tumor. "Desfaça-se dele na forma
que achar conveniente". Que tristeza!
Outro dia, vi um grupo de feministas americanas com um cartaz
que dizia: "Tire as mãos de meu corpo. Dêem-me
o direito de decidir". Bom se aqueles nenenzinhos são
seres vivos, não devíamos nós também
tirar as mãos dos corpinhos deles?
Acho que depois de tudo isso, você e eu, meu amigo, devemos
pensar com mais carinho quando se trata de defender a vida.
Mas, e quanto aos que defendem a idéia de que a mulher
tem o direito de decidir se vai ou não ter a criança?
Tem a mulher direito de escolher? Com toda certeza, desde o
momento em que a mulher tome essa decisão ou faça
essa escolha no momento da relação sexual. Se
a mãe teve participação voluntária
numa relação sexual que resultou em gravidez,
não exerceu sua liberdade de escolher e decidir?
Não existe algo assim como liberdade de decisão
sem limites. A liberdade pessoal não pode violar os direitos
de outra pessoa. Em outras palavras, você tem a liberdade
de mexer o braço, mas essa liberdade termina onde começa
o meu nariz. E o direito da mulher sobre seu corpo acaba onde
começa o corpo do nenê. O fato de que esse nenê
que ainda não nasceu, não possa defender-se, não
quer dizer que não tenha direitos.
Mas e quanto a gravidez que é fruto de um estupro? Tais
casos merecem consideração especial, desde o momento
que a mãe nunca teve a oportunidade de exercer sua liberdade
de escolha. Por que deveria ela ver-se na obrigação
de afrontar as conseqüências do crime de outra pessoa?
Este é o motivo pelo qual muitos que se opõem
ao aborto, aceitam a possibilidade dele em casos de gravidez
por estupro. Sendo que a mulher engravidou sem que fosse sua
decisão, não deveria ela ter o direito de defender-se
contra tal invasão? Por que deveria colher o que não
plantou? Mas por outro lado, não é a vida um patrimônio
divino? E logo que o estupro é um ato de violência
e justo da natureza pecaminosa do ser humano. Claro que semelhante
ato foi inspirado pelo diabo que se utilizou das depravações
e deformações do caráter do homem. Mas
se a vida já está formada, e toda a vida pertence
a Deus, que direito tem o ser humano de por um ponto final a
essa vida? Não se deveria levar adiante essa gravidez
e se depois a mãe não tiver estrutura psicológica
para conviver com essa criança, não poderia ela
ser entregue em adoção para uma família
que pudesse lhes oferecer todo o amor do mundo?
Mas, o aspecto polêmico deste tema não termina
por aqui. O que fazer, por exemplo, quando a vida da mãe
corre perigo? Estes casos são relativamente raros, mas
às vezes os médicos têm que encarar o terrível
dilema de decidir se deve viver a mãe ou a criança.
Na maioria das vezes decide-se por salvar a vida da mãe.
Você percebe que este é um assunto muito delicado
e controvertido. Pode, por exemplo, apresentar-se a declaração
contundente de que a vida é tão sagrada, que nenhum
ser humano tem o direito de escolher o aborto sob nenhuma circunstância.
Tomar uma posição não é fácil,
eu sei. Mas enquanto deliberarmos o que fazer em casos de estupro,
deformações genéticas ou risco de vida
da mãe, podemos sim tomar uma posição com
relação à grande maioria de abortos nos
quais uma mãe saudável, se desfaz de um nenê
saudável que está vivo, por decisão dela
própria.
Se estes tipos de aborto parassem, acabariam 95 porcento dos
abortos. Tendo conseguido isso, poderíamos seguir vendo
as implicações éticas do aborto em outras
circunstâncias.
Não é fácil tratar um assunto deste. Como
pastor, sei das angústias de uma mulher que está
considerando a possibilidade de um aborto. Elas precisam de
compaixão e não de condenação, não
importando o que decidirem fazer. E se tomam a valente decisão
de preservar a vida que está dentro delas, o sofrimento
não acabou, está apenas começando. Elas
precisam de ajuda para trazer esses filhos ao mundo e tentar
juntar os cacos de sua própria história.
A igreja tem a solene responsabilidade de apoiar estas mulheres
que sofrem.
Se neste momento está me ouvindo uma mulher que está
lutando no vale da decisão, por favor, compreenda que
Deus a ama apesar de seus erros. Ele tem um plano especial para
a sua vida e para a vida desse nenê que está dentro
de você. Levante a cabeça, acredite e Deus não
a desapontará.
Talvez você se sinta culpada pelos abortos que já
teve. Então, confesse seus pecados a Jesus e peça
perdão. Na realidade, todos somos culpados de muitos
erros e merecemos a morte. A Bíblia diz que todos nós
nos desviamos como ovelhas, cada um foi por seu próprio
caminho. Mas graças a Deus, Ele colocou sobre Jesus crucificado
o pecado de todos nós. Sim, minha amiga, Jesus pagou
o preço completo de nossa salvação. Neste
momento você pode estar limpa diante de Deus, como se
nunca tivesse pecado. É só abrir o coração
a Deus, aí onde você está. Quer fazê-lo?
ORAÇÃO
Oh Pai querido! O tema desta palestra é um tema que nos
faz pensar. Por que na vida de muitas mulheres e muitos homens
que conseqüentemente participaram da decisão dessas
mulheres, há histórias manchadas de sangue? Foram
vidas acabadas e o peso da culpa, às vezes, perturba
por muitos anos. Pai, neste momento existem pessoas que precisam
de perdão, que Tua mão poderosa toque estas vidas.
Se alguém
precisa de uma nova oportunidade, dá-lhe esta oportunidade.
Não permita que ninguém, que esteja lendo esta
palestra, fique com o coração triste, desesperado,
sem esperança. Suplicamos
tudo isto em nome e pelos méritos de Jesus. Amém. |