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COMO
ALIMENTAR A NOVA NATUREZA
PR.
ALEJANDRO BULLÓN
"Logo após Seu batismo, Cristo foi levado pelo Espírito
ao deserto. Na solidão do deserto Jesus pronunciou palavras
que permanecerão para sempre como a chave para um vida
poderosa e feliz. Ele falou do único alimento capaz de
satisfazer a fome do coração humano: "Então
foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser
tentado pelo diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta
noites, depois teve fome; E, chegando-se a ele o tentador, disse:
Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem
em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está
escrito: Nem só de pão viverá o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (S. Mateus
4:1-4).
"Pastor", você deve estar pensando, "já
sei, o senhor vai falar do estudo da Bíblia. Eu sei que
devo estudá-la, mas não tenho vontade, não
sinto prazer na sua leitura".
Em primeiro lugar, meu amigo, não encare a leitura da
Bíblia como um dever. Olhe para a Palavra de Deus como
uma carta de amor. O que faz um jovem quando recebe uma carta
da namorada? Ele pensa: "Oh! que chato, não tenho
vontade de ler esta carta, estou cansado, mas vou dar uma olhada
nela por disciplina?" Acho que não é isso
que acontece. Acontece justamente o contrário. Ele recebe
a carta com expectativa, abre-a depressa e devora com ansiedade
cada uma das palavras. E o que mais? Joga-a fora? Não.
Guarda-a no bolso. Dois minutos depois tira a carta do bolso,
torna a lê-la e guarda-a novamente. Não espera
passar cinco minutos, procura-a de novo e a lê com a mesma
ansiedade da primeira vez. Faz isso muitas vezes. De repente,
já não precisa ler, decorou-a completamente. Mas
mesmo assim, continua lendo-a.
Onde está o segredo? Por que tanta ansiedade para ler
a carta? Por que não se cansa de fazê-lo? A palavra
chave é "amor". O jovem ama a pessoa que escreveu
a carta.
A Bíblia, meu amigo, não é um código
de normas e proibições. Não é um
compêndio de histórias de um povo errante. Ela
não é um volume de medidas, nomes e cores. Não
é um livro de animais estranhos e simbolismos proféticos.
A Bíblia é a mais linda carta de amor que já
foi escrita. É a história de um amor louco e incompreendido.
É a história de um amor que não se cansa
de esperar. É uma declaração de amor escrita
com a tinta vermelha do sangue do Cordeiro. Desde o Gênesis
até o Apocalipse há um fio vermelho atravessando
cada uma de suas páginas. É o sangue de Jesus
gritando desde o Calvário:
- Filho, Eu amo você, você é a coisa mais
linda que Eu tenho.
Na Bíblia você pode achar também a história
da vida de outros homens semelhantes a você. Homens que
experimentaram conflitos e tentações. Homens que
às vezes caíram e escorregaram. Homens e mulheres
que lutaram contra seus temperamentos, complexos e paixões,
mas que venceram. Através dessas histórias, Deus
está dizendo a você:
- Filho, você também conseguirá, não
desanime, olhe para a frente e continue.
Ler a Bíblia é uma maneira de alimentar a nova
natureza e manter comunhão com Jesus. Mas também,
como em muitas outras coisas, o grande inimigo da vida cristã
é o formalismo.
A leitura mecânica da Bíblia não tem muito
valor como alimento da nova natureza. A leitura da Bíblia
tem que ser um momento de companheirismo e diálogo com
o seu Autor. Você lê um versículo e medita
nele. Trata de aplicar a mensagem desse verso em sua vida. Pergunta
a você mesmo: "O que este verso está querendo
falar a mim?" Depois disso fale para Deus o que você
acha de tudo isso. Conte-lhe como está indo sua vida
comparada a mensagem que você acaba de ler. Não
tenha pressa. Trate de "saborear" cada minuto de seu
diálogo com Jesus. Não veja isso como um dever
ou como uma carga pesada para carregar, e sim como o encontro
com as maravilhosas promessas de Deus para você.
Outra idéia interessante para aprender a gostar do estudo
da Bíblia é ler a Sagrada Escritura na primeira
pessoa do singular. Cada vez que você achar a palavra
nós, substitua-a pela palavra eu. Coloque sua vida nas
páginas da Bíblia. Faça de conta que Deus
está falando a você particularmente, não
para a humanidade em geral.
Por exemplo, no verso de Romanos 8:31, que diz: "Que diremos
pois a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será
contra nós?" Você pode ler: Que direi pois,
se Tu, ó querido Pai, és comigo, quem será
contra mim? Aí você pode contar a Deus que coisa
ou quem você acha que está contra você, pode
falar de seus temores, de suas dúvidas, de suas incertezas
e terminar dizendo que apesar disso tudo, você acredita
que se Deus está com você nada poderá amedrontá-lo.
O outro meio que Deus nos deixou para alimentar a nova natureza
e manter comunhão com Jesus é a oração.
Um dia desses recebi a carta de um jovem que terminava assim:
"afinal de contas, parece mesmo que meu caso não
tem solução. Sei que a oração me
ajudaria a resolver o problema, mas não tenho vontade
de orar. O pior de tudo é que quando oro, acabo tudo
o que tinha para dizer em dois minutos. Dá a impressão
de que minha oração não passa do teto".
Já sentiu algo parecido alguma vez? A verdade é
que, em todos estes anos trabalhando com jovens, descobri que
o problema do jovem não é o fato de não
saber que precisa orar. Todo mundo sabe que é necessário
orar e que a oração é o alimento da nova
natureza. Todo mundo sabe que o poder vem através da
oração. A angústia do jovem está
expressa na carta da qual falei: "Pastor, não tenho
vontade de orar. Sei que tenho que orar mas não consigo."
O que fazer? É preciso entender, em primeiro lugar, em
que consiste a oração: "Orar é o ato
de abrir o coração a Deus como a um amigo".
Segundo esta declaração, orar, nada mais é
do que conversar com um amigo.
Amigos gostam de conversar. É o que eles mais fazem.
Se alguém não tem vontade de conversar com seu
amigo não é porque ignore o fato de que amigos
precisam conversar. O problema está no relacionamento
com o amigo. Alguma coisa está errada. Alguma barreira
foi criada. A amizade está abalada e a solução
não consiste em ler livros ou ouvir sermões que
mostrem o dever de conversar com um amigo. É preciso
que lhe ensinem como resolver o problema com o amigo, que se
ajudem para que a amizade torne a ser como era antes. Uma vez
que o problema tenha sido resolvido, o diálogo com o
amigo virá espontaneamente.
Em segundo lugar é necessário saber que a base
de uma conversação entre amigos deve estar fundamentada
na sinceridade. Num relacionamento de amigos verdadeiros não
há lugar para fingimento ou hipocrisia. Descobrir que
alguém é hipócrita com você, dói.
Mas descobrir que alguém que você ama muito está
sendo hipócrita com você, dói muito mais.
Cristo nos ama e o que Ele espera em nosso relacionamento é,
acima de tudo, sinceridade. É isso que Ele disse no Sermão
do Monte: "E, orando, não useis de vãs repetições,
como os gentios, que pensam que por muito falarem serão
ouvidos" (Mateus 6:7).
A palavra grega traduzida para "usar vãs repetições"
é batalogeo e é usada geralmente para expressar
o que faz o papagaio ou o bêbado, ou seja, falar por falar,
falar sem pensar no que se está dizendo, falar pelo mero
fato de falar.
O que o Senhor Jesus está querendo nos dizer é
que quando conversamos com Ele temos que fazê-lo na base
da sinceridade, sentindo realmente o que estamos falando. Ele
está pedindo que a nossa oração saia do
coração e não simplesmente da boca.
Quando o meu filho mais novo tinha cinco anos, ele não
gostava de comer verduras. Chamava de "planta" a tudo
que era da cor verde. Dizia que não gostava de planta.
Um dia, na hora do almoço, a mesa estava cheia de coisas
verdes. Imediatamente o sorriso desapareceu-lhe do rosto. Pedimos-lhe
que fizesse a oração e ele orou assim: "Pai,
estou chateado. Só tem 'planta' para comer".
Sabe como será que ele teria orado se fosse grande? Teria
agradecido a "gostosa refeição que estava
à mesa".
Aí está o nosso problema. Não somos sinceros.
Falamos sempre a mesma coisa porque estamos acostumados a falar
assim. Quando levantamos pela manhã agradecemos a Deus
a "boa noite de repouso". Podemos ter virado na cama
a noite toda ou podemos ter acordado com dor nas costas, mas
agradecemos a "boa noite de repouso".
Temos quase de cor uma oração para as manhãs
e outra para as noites. Sempre o mesmo assunto. Podemos estar
sem a mínima vontade de orar, mas nos ajoelhamos por
disciplina e repetimos a oração costumeira que
geralmente não dura mais de dois minutos. E ao deitarmos,
experimentamos a estranha sensação de que a nossa
oração não passou do teto.
Por que não encarar a oração como a maravilhosa
experiência de conversar com Jesus Cristo, em lugar de
considerá-la o nosso dever de cada dia?
Você tem amigos? O que fala com eles? Fala sempre a mesma
coisa ou muda o assunto do diálogo cada dia? Já
pensou na possibilidade de bater um "papo à toa"
com Cristo? Conversar com Ele simplesmente pelo prazer de conversar?
Orar sem pedir nada, apenas para contar coisas, contar segredos,
abrir o coração e relatar para Ele tudo o que
fez durante o dia, mesmo que pareçam coisas sem importância?
O dia em que descobrirmos a alegria de falar assim com Deus,
teremos descoberto o segredo de uma vida poderosa. E andar com
Deus é isso.
"Mas pastor", você dirá, "eu não
sinto vontade de conversar com Deus". Então, conte
isso para Ele. Fale que não tem vontade de orar, pergunte-lhe
porque está acontecendo isso, porque é que, mesmo
sabendo que deve orar, você não tem vontade de
fazê-lo. Vai acontecer um milagre, tenha certeza. De repente,
sem querer você vai se descobrir conversando com Deus,
não um minuto nem cinco, mas vinte ou trinta. E o mais
importante, aquela sensação de que sua oração
não passava do teto vai desaparecer, e em seu lugar você
vai experimentar a maravilhosa experiência que é
conversar com Jesus Cristo como se conversasse com um amigo.
Outra coisa que seria bom lembrar é que não devemos
procurar a Deus unicamente para assuntos espirituais. Temos
que permitir que Ele participe de nossa vida diária,
de nosso namoro, de nosso trabalho, dos deveres para casa que
recebemos na escola, daquilo que vai dentro do coração
e não teríamos coragem de contar para ninguém.
Às vezes cometemos algo errado durante o dia e ao chegar
a noite repetimos o de sempre: "Deus perdoa meus pecados".
Quanto tempo é necessário para repetir essa frase?
Mas, como seria se em lugar de dizer simplesmente "perdoa
meus pecados", contássemos para Ele o que foi que
aconteceu? Detalhes, entende? Por que não contar a luta
que travamos antes de ceder à tentação,
como nos sentimos depois, que lições podemos ter
tirado de tudo, que aspecto de nossa vida precisamos que Ele
restaure, enfim, tanta coisa...
Utilizemos o tempo que seja necessário. Não precisamos
ter pressa porque não estamos cumprindo um "penoso
dever", estamos apenas conversando com o mais compassivo
e maravilhoso amigo que um ser humano pode ter.
Contam que na guerra do Vietnã acharam nas mãos
de um soldado morto um papel escrito nos momentos da agonia.
Dizia mais ou menos assim: "Ó Deus, eu nunca falei
contigo. Hoje, pela primeira vez, ao ouvir o barulho das armas,
ao ver os cadáveres dos meus companheiros, ao sentir
que daqui a pouco eu também morrerei, tenho vontade de
falar. Pena, que seja tarde demais".
Não será que, como aquele soldado, talvez tenhamos
que dizer: "Ó Deus, eu nunca falei contigo, porque
o que eu fazia não era orar, era simplesmente repetir
uma oração sem sentido, costumeira e monótona".
Só que ainda há tempo para que o final da sua
história seja diferente. Basta que você diga agora
mesmo: "mas hoje eu quero falar de verdade, abrir-Te o
coração e sentir que és meu amigo."
Faça de Jesus não apenas seu Salvador, mas também
seu amigo de todas as horas. Converse com Ele; sinta sempre
o calor que emana dos braços de Jesus.
ORAÇÃO
Pai, como é bom abrir o coração a Ti e
sentir que minha oração não vai se perder
no espaço, porque Tu estás aqui bem pertinho,
me ouvindo sempre, com os braços abertos. Obrigado Pai,
porque em Ti posso descansar seguro. Obrigado porque nunca me
deixas só. Em nome de Jesus. Amém. |